COLUNA – Fevereiro Roxo: Fibromialgia

Prof. Dr. Izaias Pereira da Costa (*)

O que é a dor?

Quando nós sentimos a picada de uma agulha, uma batida da perna em algum objeto, o sentimento que temos é de dor. A dor é a resposta de alerta do organismo ao estímulo inicial, que é percebida por sensores dispostos em todos os pontos da pele, articulações, vasos e vísceras, que são os receptores nociceptivos (RN).

Esse estímulo desencadeia, através dos RN, alterações elétricas nos nervos da região afetada, que são carreados até a medula espinal onde sofrem a primeira modulação (diminuição ou amplificação), daí a estimulação nervosa é levada para uma região do cérebro, denominada tálamo, onde tem mais uma modulação e, em seguida ao córtex cerebral. Nesse local a modulação do estímulo recebe informações de medo, ansiedade, depressão e experiências vivenciadas, o que leva o indivíduo a dar uma resposta à dor de acordo com a intensidade resultante de todo esse processo neuro-psíquico-somático.

E o que é a Fibromialgia?

Acima explicamos como se processa o mecanismo da percepção e resposta a um estímulo doloroso. Mas como explicar o mecanismo que leva uma pessoa a ter dores difusas pelo sistema musculoesquelético do corpo, sem que o paciente e o médico encontrem alguma causa física ou laboratorial para explicar o sofrimento doloroso?

Em outros casos, o paciente tem uma doença física (lesão crônica articular, como artrose/artrite de joelhos ou de coluna, ou visceral, como cálculo renal ou de vesícula), porém a dor é generalizada pelo corpo e não localizada, como era de se esperar. Esses casos normalmente se encaixam no diagnóstico de Fibromialgia (primária ou secundária).

Por definição, a fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica, de acometimento muscular, tanto acima da cintura como abaixo, fadiga, diminuição da memória e concentração, entre outros sintomas. Temos evidências firmadas, que a predisposição genética tem forte participação do desencadeamento dessa síndrome. A chance de um indivíduo apresentar fibromialgia é mais de 8 vezes maior, se tiver um parente de primeiro grau acometido por essa doença.

No Brasil, a prevalência é de 2 a 2,5% da população, com dados baseados em entrevistas populacionais. Considerando a prévia do IBGE de 2022, para a estimativa da população de Mato Grosso do Sul, teríamos entre 40 mil a 50 mil pessoas com queixas fibromiálgicas. As mulheres, com idade entre 25 e 65 anos, são as mais acometidas, principalmente quando as (os) paciente tem doenças crônicas, de outras etiologias.

Qual o mecanismo da fibromialgia?

Como vimos, os estímulos dolorosos sofrem regulação da sua intensidade, a nível medular e cerebral. Nos pacientes com fibromialgia, ocorre uma amplificação da sensibilização central. Ou seja, os estímulos nociceptivos, levam a um estado de hiperexcitabilidade dos neurônios, com regulação inadequada, causando um aumento da percepção da dor, tanto na presença de um estímulo externo ou interno, ou, mesmo na ausência do estímulo doloroso. Isto ocorre por um fenômeno denominado de hipersensibilização do sistema nervoso central.

É comum esses paciente relatarem que mesmo um roçar de mão, na pele, é percebido pelo paciente como sensação de queimação e dor (alodinia) ou, a dor ser desproporcional à intensidade do estimulo, como uma pequena contusão ou um toque no corpo (hiperalgesia). Essas alterações cerebrais estão associadas às alterações do ritmo de sono, da memória, concentração, a quadros depressivos/ansiedade, cansaço inexplicável, dores intestinais (síndrome do cólon irritável), além do quadro doloroso difuso.

Na próxima semana, estarei comentando sobre as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento.

 

(*) Professor titular da Famed da UFMS; professor do curso de pós-graduação Saúde e Desenvolvimento do Centro-Oeste da UFMS; Coordenador do programa de residência médica em reumatologia do Humap/Ebserh/UFMS; Titular da cadeira 23 da Academia Brasileira de Reumatologia.

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