Como muitas famílias que aqui chegaram, sou filho de pai e mãe que vieram de Minas Gerais, pois viram na criação de Mato Grosso do Sul a oportunidade de construírem suas histórias de vida no novo Estado que se iniciava. Gosto de dizer que sou a primeira leva de filhos sul-mato-grossenses, nasci em 1983 e o Estado se fez em 1977. Talvez, por isso, por ser uma das primeiras gerações de filhos desse Estado, me incomode tanto um debate superficial de que, faz-se necessário mudar o seu nome; seja porque a maioria das pessoas não sabem o nome da Capital, porque nos chamam de Mato Grosso ou por termos a maior parte do Pantanal e mesmo assim as pessoas irem para o Pantanal mato-grossense. Ambos os argumentos são frágeis e, para mim, essa insistência de mudar o nome do Estado, após 46 anos, acaba sendo uma tentativa desmedida de negar nossa história.
Confundir Cuiabá com Campo Grande e Mato Grosso com Mato Grosso do Sul não me parece motivo suficiente para mudar o nome do Estado, após mais de quatro décadas. E me incomoda, ainda mais, quando insistem com a história de que deveríamos chamar Estado do Pantanal. O Pantanal é, sem dúvidas, um bonito e importante bioma de Mato Grosso do Sul, mas ele não contempla o Estado todo, vez que se constitui, também, do Cerrado e da Mata Atlântica, sendo que o Cerrado predomina em 61% do seu território.
Somos um Estado de identidade recente, em que a maioria daqueles que pedem a mudança do seu nome sequer possuem em suas certidões de nascimento o Mato Grosso do Sul como Estado de origem. Alguns amigos, querendo me contrapor, dizem que esta minha defesa, pela não mudança do nome do Estado que nasci, me coloca em um local de argumento conservador. Discordo, ainda que respeite o posicionamento contrário, mas para mim, diferente de alguns, eu nasci no Mato Grosso do Sul e, por isso, me identifico como sul-mato-grossense, mesmo que muitas pessoas errem o seu nome ou o nome da sua Capital. É mais sobre minha identidade do que sobre os erros das pessoas.
Eu não ligo de dizer às pessoas quando erram que é Mato Grosso do Sul e não Mato Grosso, ou que nossa Capital é Campo Grande e não Cuiabá. Lembrando que não saber o nome de Capital ou confundir o nome de Estados não me parece apenas uma característica de MS.
Cresci e me fiz quem sou junto a criação do Estado de Mato Grosso do Sul e, por isso, me identifico com sua história, pois ela é também a minha. E em sua história seu nome é um dos elementos que constituem a identidade daquelas e daqueles que aqui nasceram após 1977.
Na data de hoje, 11 de outubro de 2023, o Mato Grosso do Sul completa seus 46 anos, meu desejo, verdadeiramente, é que siga sendo para sempre Mato Grosso do Sul e que seja farto de muito progresso, respeito aos seus biomas, maturidade e equilíbrio político para romper com grupos extremistas, amorosidade e direitos às vidas LGBTQIA+, às pessoas com deficiências, negros, indígenas e mulheres, que tenhamos paz no campo, mas uma paz que seja para todos os setores que vivem no campo, nas águas e nas florestas e que Mato Grosso do Sul garanta aos sul-mato-grossenses oportunidades para que sejamos felizes na morada que escolhemos chamar de Mato Grosso do Sul.
Vida longa ao nosso Mato Grosso do Sul!
Por Tiago Botelho.