O tráfico de pessoas no Brasil segue fortemente ligado à vulnerabilidade social e ao uso crescente da internet para aliciamento de vítimas. Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública mostram que as denúncias cresceram 8% no primeiro semestre de 2025, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Foram 229 registros por canais como Disque 100 e Ligue 180. Em 2024, o total foi de 421.
As principais finalidades do crime são a exploração sexual e o trabalho em condições análogas à escravidão. Regiões mais pobres, com baixos índices de escolaridade e alta informalidade no trabalho, concentram o maior número de vítimas.
Segundo a SaferNet Brasil, as denúncias aumentaram 152% entre 2022 e 2024. Para o deputado estadual Gerson Claro (PP), presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, esse crescimento se dá por dois fatores:
“Esse crescimento pode ser analisado sob duas óticas: de um lado, a intensificação das ações criminosas, especialmente nas redes sociais e plataformas digitais; de outro, o aumento da conscientização da sociedade, que está mais atenta e disposta a denunciar. Esse é um avanço importante, pois o silêncio é o maior aliado do tráfico de pessoas.”
Internet virou principal ferramenta de aliciamento
As redes sociais, aplicativos de mensagem e até jogos online passaram a ser usados como canais de aproximação dos criminosos, que exploram vulnerabilidades emocionais e sociais das vítimas. O deputado Gerson Claro reforça a importância da vigilância digital:
“O ambiente virtual pode parecer seguro, mas é terreno fértil para criminosos, principalmente com os jovens. Desconfie de promessas fáceis de emprego, intercâmbio ou sucesso profissional, principalmente quando partem de desconhecidos. Aos pais e responsáveis, reforço: estejam atentos ao que seus filhos acessam na internet.”
Exploração do trabalho e falsas promessas
Grande parte dos casos denunciados envolve tráfico para exploração laboral, em geral com falsas ofertas de emprego dentro ou fora do Brasil. A construção civil, a agricultura e o trabalho doméstico são os setores mais frequentes. Gerson Claro alerta para a gravidade dessas situações:
“Esse tipo de tráfico é perverso, porque captura sonhos legítimos e os transforma em pesadelos. Combatê-lo exige políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e, acima de tudo, conscientização da sociedade.”
Ações em Mato Grosso do Sul
O estado tem avançado na prevenção com a criação da Campanha Coração Azul, instituída pela Lei Estadual 6.083/2023, e com o fortalecimento do Núcleo Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP/MS), vinculado à Defensoria Pública e ao Ministério da Justiça. A Assembleia Legislativa tem sido uma das articuladoras dessas ações.
“Estamos estruturando o enfrentamento em três frentes: prevenção, assistência às vítimas e repressão aos criminosos. A Assembleia Legislativa tem sido uma aliada, ampliando o debate e apoiando iniciativas de proteção. Mas o combate a esse crime precisa ser uma ação conjunta, envolvendo poder público, instituições de justiça, escolas, famílias e toda a sociedade”, conclui Gerson Claro.
Perfil das vítimas
Em 2024, os dados consolidados por diferentes órgãos apontaram uma predominância de vítimas do sexo masculino, especialmente nos casos de tráfico para fins de trabalho análogo à escravidão. A Polícia Federal registrou 85,3% das vítimas como homens, tendência também verificada na Defensoria Pública da União (55,6%) e nos CREAS (Centros de Referência Especializados de Assistência Social), com 57,2%. Já os dados do Disque 100 mostram grande parte das denúncias sem informação sobre o gênero (53,6%). Por outro lado, o Ministério da Saúde observou uma maioria de mulheres entre as vítimas (62,8%), número atribuído principalmente aos casos de violência sexual.
Em relação à idade, adultos com 18 anos ou mais foram maioria entre as vítimas registradas pelo SUS (60,8%) e pela assistência social (82%). Crianças e adolescentes também aparecem nos registros, 14,8% e 14,4%, respectivamente, no sistema de saúde, e cerca de 18% somados na assistência social. Idosos representaram 8,5% dos casos.
Por Inez Nazira e Taynara Menezes