Polícia Militar abre procedimento administrativo contra subtenente que perseguiu a namorada

Foto: Roberta Martins
Foto: Roberta Martins

Horas após adolescente sofrer atentado, Estado discute fortalecimento da rede de proteção das mulheres

A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul instaurou procedimento administrativo para apurar a conduta do subtenente Mauri de Oliveira, 50 anos, preso em flagrante após perseguir uma adolescente de 16 anos com quem mantinha um relacionamento. O caso aconteceu por volta das 23h30 da quarta-feira (30), na região do Bairro Santo Eugênio, em Campo Grande.

Segundo testemunhas, Mauri atirou para o alto durante a perseguição. A vítima, desesperada, pediu ajuda a um motorista de aplicativo, que conseguiu resgatá-la após dar a volta no quarteirão. A jovem contou que havia terminado o relacionamento com o militar, mas era constantemente controlada por ele, segundo relatou ao condutor.

A adolescente e a mãe haviam se mudado de Bela Vista para a Capital há cerca de um mês, e moravam na casa do subtenente. A mãe afirmou à imprensa que Mauri era amigo da família e que “agradava” a filha com presentes e dinheiro. Também sustentava financeiramente as duas. A adolescente relatou à Polícia que se relacionava com ele há cerca de dois anos e que decidiu romper o vínculo por conta do ciúme excessivo do parceiro. O subtenente não aceitava o fim.

Após o resgate, o motorista e a vítima rodaram cerca de dois quilômetros até encontrarem uma viatura da Polícia Militar na Avenida Eduardo Elias Zahran. A equipe acionou a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), que apreendeu a arma do subtenente e iniciou os trâmites do flagrante.

Na tarde de ontem (31), a equipe do Jornal O Estado esteve no bairro e conversou com vizinhos que disseram ter escutado o barulho do disparo, porém, pelo horário e pelo medo não saíram para ver o que estava acontecendo. A reportagem também tentou contato com algum familiar da vítima e do autor dos disparos, mas não encontrou ninguém na residência.

PM diz que repudia conduta e acompanha o caso
Em nota oficial encaminhada à reportagem de O Estado, a Polícia Militar afirmou que “procedimentos administrativos já foram instaurados” e que as providências seguem sendo tomadas com “a seriedade que a situação exige”. O processo é acompanhado pela Corregedoria-Geral da instituição.
“Reafirmamos nosso compromisso inabalável com a ética, o respeito e a integridade em todas as nossas relações […]. A PMMS não coaduna com qualquer comportamento inadequado por parte de seus integrantes”, destacou a corporação.
Segundo a instituição, o caso também será encaminhado ao Ministério Público e ao Judiciário para as medidas legais cabíveis.

Silêncio da Polícia Civil e de órgãos de proteção
A reportagem questionou a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul sobre os próximos passos da investigação conduzida pela Deam, se há apuração sobre a diferença de idade entre vítima e autor e se o caso será relatado ao Ministério Público ou à Defensoria Pública, já que envolve uma adolescente. A corporação respondeu apenas que “não repassa informações que envolvam outras forças de segurança”.

Procurados pela equipe de O Estado, o Ministério Público e a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul também não se manifestaram até o fechamento desta edição.

A ausência de respostas das instituições que deveriam zelar pela proteção integral da adolescente acende um alerta sobre a condução de casos semelhantes. Em especial, pela presença de relações afetivas entre homens mais velhos e adolescentes em condição de vulnerabilidade.

Busca por frear a violência
Em 2024, Mato Grosso do Sul registrou 35 feminicidios consumados e 87 tentativas. Já em 2025, até o momento, foram contabilizadas 32 tentativas e 18 vítimas de feminicídio. Para tentar frear esses índices, o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) realizou, nesta quinta-feira, 31 de junho, o seminário “Combate à violência contra as mulheres e meninas é da nossa conta”. Com parceria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), o evento reuniu gestoras públicas, especialistas em segurança e equipes multidisciplinares para discutir estratégias que ajudem a romper o ciclo da violência.

O encontro contou com a presença da ex-ministra das Mulheres Aparecida Gonçalves que conduziu a apresentação “Violência contra as mulheres e meninas: entre os desafios e a esperança”, destacando o papel transformador que o Tribunal pode exercer nessa pauta. “Enfrentar a violência contra as mulheres exige vontade política, orçamento e responsabilidade de todos, inclusive dos órgãos de controle. O feminicídio é o único índice de violência que continua crescendo no país, e isso exige prioridade. O Tribunal de Contas tem um papel estratégico nesse cenário, porque fiscaliza a aplicação dos recursos públicos e pode cobrar ações efetivas dos gestores”, afirmou a ex-ministra.

Por Suelen Morales

 

Acesse as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *