Pesquisador da Embrapa Pantanal reforça que inundações das décadas anteriores podem retornar
Informações divulgadas ontem (21) pelo MapBiomas indicam que, em 2024, o Pantanal era o bioma com menor superfície de água no país: 366 mil hectares, ou 2% do total. É também o que tem maior redução na superfície (61%). Contudo, o pesquisador da Embrapa Pantanal reforça que é necessário observar alguns aspectos e características do bioma.
Segundo Carlos Roberto Padovani, o termo mais adequado para a situação vivenciada no Pantanal seria a “diminuição” da superfície de água. Ele cita que o que já é possível observar por meio de análises de artigos científicos são alguns impactos de caráter climático.
“O Pantanal ‘perdeu’ mais água que os demais biomas em grande parte porque é o bioma que mais alaga. O que se pode afirmar com mais certeza é o aumento da temperatura, a incerteza climática e o aumento da frequência de eventos extremos, tanto para mais água quanto para menos água”, explicou.
Tais fatores são mencionados pelo Instituto MapBiomas como responsáveis pelo maior número de focos de incêndio e registros de queimadas. “Em 2024, o Pantanal ficou abaixo da média histórica durante todos os 12 meses. Desde a última cheia em 2018, o bioma tem enfrentado o aumento de períodos de seca e, em 2024, a seca extrema aumentou a incidência e propagação de incêndios”, ressalta Eduardo Rosa, da equipe do MapBiomas Água.
Apesar de tais dados, Padovani cita que é preciso entender que o Pantanal, assim como outros biomas, possui o seu ciclo natural e, com isso, não é descartado que volte a registrar cheias consideráveis como em décadas anteriores. “Não existe uma evidência de que as inundações observadas nas décadas anteriores não vão mais acontecer. Inclusive, o período de 1985 a 2024 é um recorte. Em 1988, tivemos a maior cheia que se tem registro desde 1900, se considerarmos a estação de nível do rio Paraguai em Ladário. A década de 80 e 90 foi tão fora da média quanto a estiagem desde 2020, porém no sentido contrário”, reforçou.
Em se tratando de ciclos naturais, ele comenta a discussão recente envolvendo a seca registrada nos últimos anos na Amazônia, que está sendo considerada como anormal. “Quanto às afirmações que tenho visto de que temos nos últimos anos seca na Amazônia e inundações no Sul do Brasil como algo anormal e devido às mudanças climáticas, é um equívoco. A Amazônia está numa latitude onde predomina o clima tropical, já o Sul do Brasil, em outra latitude, é caracterizado por um clima subtropical. Nesse ponto, comparar a Amazônia com o Sul do Brasil é um equívoco”, finalizou.
Impacto na Biodiversidade
Mestre em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, Diego Viana explica que a redução da superfície da água afeta diretamente a biodiversidade. Segundo o especialista, a redução de áreas alagadas pode levar algumas espécies à extinção.
“O bioma depende do pulso de cheias e secas para manter seu equilíbrio ecológico. Com menos água, as áreas alagadas deixam de existir temporariamente ou permanentemente, reduzindo os habitats disponíveis para peixes, aves aquáticas, anfíbios e mamíferos. Isso também afeta a alimentação e reprodução de muitas espécies”, esclarece.
Diego Viana acrescenta que, com a redução da água, a seca favorece queimadas mais intensas e frequentes, destruindo a vegetação nativa e colocando em risco a sobrevivência da fauna e flora pantaneira.
Por Michelly Perez e Ana Cavalcante
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