O rompimento da barragem localizada no loteamento de luxo Nasa Park, região do município de Jaraguari, na manhã desta terça-feira (20), não levou apenas móveis e paredes de casas, mas acabou com histórias de uma vida que foram construídas por diversas famílias há pelo menos 48 anos.
É o que conta o caminhoneiro Rogério Pedroso, que nasceu, cresceu e constituiu família no local ao longo de quase 50 anos, mas que viu tudo ser destruído em questão de minutos, quando a água chegou levando o que ele conquistou com muito trabalho.
Rogério é caminhoneiro e estava em Campo Grande para carregar o veículo e levar até uma cidade do Estado. Por volta de 7h30, foi avisado por um amigo que trabalha no condomínio, que a represa havia estourado e a água poderia chegar até a casa dele.
“Na mesma hora eu liguei para o meu filho de 14 anos que estava em casa e, Graças a Deus ele estava com o celular na mão. Eu pedi para que ele corresse dali e avisasse o tio que mora aqui do lado”, disse.
Entretanto, o adolescente não entendeu muito bem a história e retornou pedindo para que ele contasse novamente o que havia ocorrido. Desesperado, o garoto correu até a casa do tio e avisou o que estava por vir, mas o produtor rural Luiz Nery, de 64 anos, também não acreditou na história.
Após cinco minutos, os dois escutaram um barulho alto parecido com o da turbina de um avião, e de repente viram uma onda de aproximadamente 8 metros engolindo tudo o que via pela frente, inclusive árvores de grande porte.
“Nesse momento eu só pensei em salvar os meus porquinhos, nem pensei em mim. A água primeiro bateu na curva que o córrego fazia e começou a encher aqui com menos força. Mas em três minutos ela já estava no meu joelho. Corri para abrir os chiqueiros e tirar os porcos, mas foi tudo muito rápido, só consegui salvar uns 20”, disse Luiz sem acreditar que viveu tudo isso.
Além da criação de porcos, o produtor rural perdeu diversas galinhas que estavam presas e soltas na propriedade, além de 7 tanques de peixes contendo espécies de pacu, pintado e matrinxã. Em um desses, Luiz e o filho haviam soltado 4 mil alevinos de pacu há apenas 30 dias.
“Eu ainda nem consigo calcular esse prejuízo. Os sete tanques acabaram aterrados pela lama e todos os peixes escaparam. Eu havia construído três deles para começar a criação, mas perdi tudo, não sei ainda como vamos fazer”, relatou.
A situação foi ainda pior na casa de Rogério e do filho, que fica em uma área mais baixa e acabou tomada pela água. Lá dentro, a enxurrada devastou todo o interior. O chuveiro foi encontrado caído na sala e um caminhão que havia acabado de ter o motor refeito, com um custo de R$ 25 mil, ficou destruído.
Rogério diz que não sabe nem como recomeçar. “Eu não sei se a gente já começa a limpar ou espera algum tipo de perícia vir. Perdi tudo que tinha aqui, mas graças a Deus meu filho está bem”, contou.
Só com a roupa do corpo
Quem também perdeu tudo e não conseguiu salvar nada, apenas a si próprio, foi o produtor rural autônomo, Thiago Andelço, de 35 anos, que estava em casa com a mãe, Luzia Ramos do Prado, de 60 anos, e duas sobrinhas.
“Meu cunhado me ligou e falou que tinha estourado a represa do condomínio e que era para gente correr dali. Só deu tempo de colocar a minha mãe que tem dificuldade de locomoção e minhas sobrinhas no carro. Quando a gente chegou na porteira escutamos o barulho. Ficou todo mundo desesperado porque parecia que ia destruir tudo”, disse bastante indignado.
Dona Luzia contou que construiu uma história no local onde criou os filhos e, agora, via os netos crescerem. Com muito trabalho, “tijolinho por tijolinho”, como disse ela, montou a propriedade que viu ser destruída em questão de segundos.
Assim como o vizinho Rogério, a família perdeu todos os pertences, bem como parte da criação de porcos e a horta que cultivavam para vender verduras e legumes, sendo essa a única fonte de renda da família.
“Agora estamos aqui, só com a roupa do corpo, sem nenhuma ajuda. Já passou 24 horas disso e até agora ninguém veio perguntar se a gente precisa de algo, se tem alguém ferido, se vão ajudar com algo. Isso é revoltante”, desabafou.
O Ministério Público informou que na sexta-feira (23), realizará uma audiência pública para ouvir os moradores e coletar informações de quais as necessidades mais urgentes. A partir daí, traçará um plano para ajudar as famílias atingidas.
Ainda de acordo com o órgão, até o momento foram identificadas 11 propriedades atingidas diretamente pela força da água. Além das casas, trecho da BR-163 na altura do km 500 ficou danificado e passa por obra de emergência para liberar o trânsito que segue no sistema Pare e Siga. A previsão é que o fluxo seja totalmente liberado em 15 dias.
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