Mães de UTI: amor que resiste, espera que fortalece

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Nos corredores frios dos hospitais, encontram esperança de ver os filhos voltando para casa com saúde

 

Neste domingo de Dia das Mães, enquanto flores, almoços e homenagens se espalham pela cidade, algumas mães vivem esse momento dentro de um cenário bem diferente: os corredores silenciosos e monitorados dos hospitais da Capital. Ali, entre bombinhas de leite materno, apitos de monitores e olhares atentos, elas acompanham, com amor e coragem, o início de vida de seus filhos prematuros.

“Era um sonho ter mais um bebezinho e a gente conseguiu!”, diz com emoção Tainara Marcondes Guerra, de 26 anos, mãe da pequena Ágatha, nascida com 35 semanas. Há dez dias internada, a bebê passou pela UTI e agora está no Setor de Internação Mamãe-Bebê (SIM). Com um filho mais velho, Estevam, de 10 anos, Tainara equilibra a rotina entre a Unidade Neonatal do Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), em Campo Grande – MS, e a casa.

Foto: Nilson Figueiredo

“Normalmente, um dia sim, um dia não, eu vou à noite em casa, entre uma mamada e outra. Mas fico aqui o dia inteiro, amamento antes da sonda e tiro leite no banco para não precisar da fórmula.” A esperança de receber alta antes do domingo é grande, mas ela está preparada: “Se não der, faço como sempre: um pouquinho em casa, um pouquinho aqui. Mas feliz, sim. Só de ver que ela está evoluindo bem, é gratidão”.

Helen Lopes, de 30 anos, também sonha com a alta do pequeno Daniel, nascido de 36 semanas. Internado desde o dia 3, ele é o caçula da família. “Tenho o Léo, de 8, e a Eloisa, de 6. Eles estão loucos para conhecer o irmãozinho.” Para o Dia das Mães, Helen traçou planos sensíveis.

“A Eloisa tem apresentação no sábado, e eu vou com ela. Domingo, quero estar aqui com o Daniel. O coração fica dividido, né, mãe? Mas só de ver que ele está bem, a gente já fica em paz. Cada dia é uma vitória.”

Foto: Nilson Figueiredo

Já Evelyn de Souza Santos de Lima Escobar, de 33 anos, vive a intensidade do seu primeiro Dia das Mães com o pequeno Guilherme Henrique, nascido há seis dias. “Meu milagre”, como define, depois de anos de tentativas frustradas para engravidar. “Com muita oração, ele veio. Ele teve complicações, colocaram um cateter perto do coração. A gente frita, né? Mas estou confiante em Deus.” Entre emoções e pressão arterial instável, Evelyn se mantém firme. “Não é fácil, mas vai passar. Meu primeiro Dia das Mães é aqui, mas estou com meu bebê, graças a Deus.”

Leite materno: promessa que também vem da ciência

Enquanto essas mães doam força e leite para os filhos, o Humap também abriga um estudo inovador sobre o poder do leite materno. A bióloga Thais Farias, doutoranda pela UFMS e chefe da Unidade de Gestão da Pesquisa do hospital, conduz um estudo sobre células-tronco do leite humano com foco no tratamento de bebês prematuros.

Mãe de duas meninas e defensora do poder da amamentação inclusive da amamentação prolongada, Thais amamentou sua filha mais nova até os quatro anos de idade. “Apesar de ser uma fonte de  fácil extração, as células apresentam características específicas e são de difícil cultivo. A ideia é utilizar essas células como tratamento coadjuvante para reduzir o tempo de hospitalização e melhorar o desenvolvimento dos bebês”, explica.

Estudo inovador feito pelo Humap investiga o poder do leite materno e das células-tronco – Foto: Nilson Figueiredo

Por não resistirem à pasteurização nem ao congelamento, essas células só estão presentes no leite cru, o que limita seu uso. O tratamento experimental consiste na administração das células junto à fórmula dada por sonda.

O estudo ainda está na fase in vitro e não conta com patrocinadores ou bolsas. É financiado por ela e seu orientador, o professor Rodrigo Juliano Oliveira. “Estamos recrutando até 50 mulheres com boa produção de leite. Podem participar mães de bebês de 0 a 1 ano de idade”, detalha.

Interessadas em participar da pesquisa como voluntárias podem entrar em contato diretamente com Thais pelo número (67) 99221-8664.

1 mês e 15 dias de gravidez

Com uma gravidez silenciosa que foi descoberta aos 6 meses de gestação, Ingrid Leite Figueiredo, vai passar seu primeiro Dia das Mães na maternidade da Santa Casa. Mãe do Benjamin e do Noah, que nasceram com 31 semanas e 1 dia, a professora, que mora no interior de Mato Grosso do Sul, acompanha atentamente os filhos se desenvolverem e ganharem peso para, finalmente, irem para casa, em Caracol.

Ingrid conta que a suspeita de gravidez veio após iniciar um tratamento para emagrecer, mas, ao notar a barriga crescendo, mesmo após perder 15 quilos. Com 29 anos, ela fez um teste de gravidez e pensava estar com 2 meses, já que não sentia enjoos ou outros sinais típicos de uma gestação comum. Para sua surpresa, a confirmação veio, mas já contava com quase 24 semanas e eram dois meninos.

“Tem dias que são fáceis e dias que são difíceis. Eles são os meus presentes”, Ingrid Leite, mãe do Benjamin e do Noah – Foto: Roberta Martins

Porém, por ter problemas de pressão foi internada com emergência, pois estava sofrendo uma pré-eclâmpsia, sendo transferida da sua cidade para Campo Grande para ter seus bebês, que, no sábado (10), completaram um mês de vida.

“Não estava nos meus planos engravidar, mas, se for contar, eu fiquei grávida durante 1 mês e 15 dias, já que descobri tarde. Não sei o que é ter enjoo de gravidez, ficar com desejo e coisas assim. Eu não senti nada durante toda a gravidez, mas, com o problema de pressão que eu tenho, acabei tendo uma pré-eclâmpsia, fiquei dois dias internada como gravidez de risco e tomando medicamentos para normalizar a pressão. Como não alterava, no dia 10 de abril, fui a primeira grávida a fazer cesárea naquele dia”, relembra Ingrid, ao lado dos dois filhos.

E completa: “Benjamim nasceu primeiro, com 1,2 kg e depois veio o Noah com 1,5 kg. Sábado eles fazem um mês. Esse é meu presente do dia das mães”.

O mais velho, que está com 1,4 kg, permanece na incubadora, porque precisa se desenvolver um pouco mais, e Noah, o mais novo, já aproveita o bercinho, já que está com 1,8kg. Ambos, que são gêmeos bivitelinos, ou seja, estavam em sacos gestacionais separados, já tiveram alta da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) Neonatal e seguem internados na enfermaria da maternidade, aos cuidados da mãe e das enfermeiras.

“Tem dias que são fáceis e dias que são difíceis. São os meus primeiros filhos e, muitas vezes, não sei o que fazer, porque é difícil ficar longe da família. Minha mãe ficou comigo por alguns dias, mas teve que voltar para Caracol, e meu esposo também, porque eles trabalham e não conseguiram férias e nem folga. O bom é que as enfermeiras ajudam e dão todo apoio que eu preciso, porque nem saber trocar fralda eu sabia”, declara.

Emocionada ao relembrar o parto, Ingrid finaliza dizendo que as expectativas estão altas para ir para casa, pois, lá terá o apoio da família, mas ainda se preocupa com a saúde dos filhos, que se desenvolvem e ganham peso aos poucos, aos olhos atentos da mãe e das profissionais da enfermaria.

“Eu espero que eles tenham saúde e sei que vamos para casa logo. Eles não tiveram nenhum diagnóstico ou sequelas, mas precisam dos cuidados, porque são prematuros. Se eu ainda estivesse grávida, hoje eu estaria com 35 semanas. O parto deles estava previsto para junho, mas eles vieram antes”, concluiu.

Milagre da vida: renascimento após dias em coma

Foto: divulgação

Com apenas 1% de chance de sobreviver após complicações graves no parto, a técnica de enfermagem Janaina Vargas Corrente Bonfá, 38 anos, passou 13 dias em coma, no hospital da Unimed, foi submetida a quatro cirurgias e surpreendeu a todos ao acordar lúcida e sem sequelas. Neste Dia das Mães, ela celebra a vida ao lado do marido João e dos quatro filhos: João Vitor (18), Lorenzo (13), Maria Clara (10) e a recém-nascida Ana.

A gestação começou tranquila, mas, às 12 semanas, veio o primeiro susto: um descolamento de placenta, hemorragia e hematomas que significavam riscos sérios. Mas a pequena Ana seguiu firme, crescendo saudável em seu ventre, sob o cuidado da mãe, que passou meses em repouso absoluto.

Já no fim da gravidez, o diagnóstico de placenta prévia total, condição que impedia o parto normal fez sua obstetra optar pela cesariana com toda a estrutura de suporte, no Hospital Unimed Campo Grande. No dia 28 de fevereiro, Ana nasceu. Forte, saudável, com 37 semanas e 4 dias. Mas, quando tudo parecia bem, começou a luta pela vida de Janaina.

“Dei à luz a uma vida e, ao mesmo tempo, comecei a lutar pela minha”, resume Janaina, que ficou 25 dias internada. Durante esse período, além do esforço da equipe médica, uma corrente de oração se formou, reunindo amigos, familiares e até desconhecidos.

“Foi um verdadeiro milagre”, afirma o nefrologista Alexandre Cabral. “Era um caso gravíssimo, e vê-la viva nos renovou a esperança.”

Hoje, em casa e em recuperação, Janaina enxerga esse Dia das Mães como um recomeço. “Sou grata a Deus por estar viva, cuidando da minha família. Esse ano tem um significado ainda mais profundo.”

 

Por Suelen Morales e Ana Clara Santos

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