Infectologista pontua que MS tem condições favoráveis para bactéria que causa febre maculosa

Fotos: Marcos Maluf
Fotos: Marcos Maluf

Com sintomas semelhantes aos da chikungunya, dengue e zika vírus, diagnóstico é fundamental

As capivaras fazem parte da rotina dos campo-grandenses, mesmo que indiretamente. Elas estão presentes nos parques, nas ruas, e em diversos pontos da Capital, assim como no interior de Mato Grosso do Sul. Diante do crescimento dos casos de febre maculosa em algumas regiões do país, a preocupação no Estado vem ganhando força devido ao número de animais que habitam a região sul-mato-grossense.

Tudo isso porque a doença é transmitida pela picada de uma espécie de carrapato bastante comum em MS, o carrapato-estrela, presente em animais silvestres, principalmente na capivara, animal comum no Estado. A transmissão ocorre basicamente assim: o carrapato infectado pica a capivara e transmite a bactéria, o animal então passa a contaminar outros carrapatos que parasitam ela. E são esses carrapatos contaminados que podem transmitir a doença para os humanos. Segundo dados, a doença mata em até 60% dos casos.

O infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Dr. Júlio Croda, explicou porque a doença em questão pode se tornar comum no Estado. “A condição ambiental favorece a infecção desse carrapato pela bactéria Rickettsia rickettsii, então a condição da mata, de temperatura, de clima, colabora para isso. No Brasil, se concentra na região de São Paulo, em Campinas.

Aqui em MS temos a capivara, que eventualmente pode se infectar, mas ela não fica doente, a gente tem também o carrapato-estrela, mas não temos a bactéria. O que é algo positivo”, explicou ele. Embora MS tenha condições propícias para a bactéria, ainda não foram apresentados registros de casos e nem mortes pela doença, neste ano. Segundo registros, o último caso de febre maculosa no Estado foi no município de Sidrolândia, em 2018.

Conforme ainda o infectologista, a febre maculosa se confunde com outras doenças, devido aos sintomas comuns, que são: febre, dor no fundo dos olhos, dor de cabeça intensa e insônia, náuseas, vômitos e diarreia, dor no corpo e manchas na pele.

“Ela se assemelha à dengue, chikungunya, zika vírus, qualquer doença que a gente pode chamar de ‘fenômenos hemorrágicos’. Porque assim como a dengue, que afeta os vasos, podendo causar sangramentos, a febre maculosa também causa os mesmos sintomas e não temos um diagnóstico rápido.

Com isso, médicos e pacientes precisam ficar atentos quanto ao contato com o carrapato e analisar se, posteriormente, passou a apresentar esses sintomas. Se sim, a probabilidade de ser essa doença é grande. Diante disso, é preciso se dirigir a unidade de saúde, para que o paciente seja tratado adequadamente”, destacou.

Segundo ele, há um estudo sobre o assunto, desenvolvido há alguns anos. “A UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) coletou carrapatos-estrela desses animais e os pesquisadores viram que a frequência da bactéria, aqui, é muito baixa. É claro que é preciso continuar monitorando os animais e investindo nesse monitoramento, que foi feito no passado, para identificar se, diante das mudanças climáticas, essas bactérias podem se adaptar, ser introduzidas, aumentar a frequência nesses carrapatos. Se isso acontecer, então acende um alerta, de que a doença possa voltar”, afirmou.

Diante da repercussão, muitos passaram a temer as capivaras. No entanto, outros animais silvestres que alojam o carrapato-estrela, como bois e cavalos, também podem ser transmissores da doença. “A boa notícia é que a prevalência dessa bactéria no carrapato é muito baixa, em MS. Por isso, não temos registros de casos expressivos, como na cidade de Campinas. Se não temos muitas bactéria Rickettsia rickettsii infectando oscarrapatos que parasitam os animais que habitam o Estado, não temos o problema”, concluiu.

Por meio de nota, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) e a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) confirmaram não terem registrado nenhum caso de febre maculosa até o momento, nem foram identificados, na região, carrapatos infectados com a bactéria que provoca a doença. As secretarias de saúde ainda alertam sobre os sintomas e reforçam a importância dos cuidados de prevenção à saúde.

Fotos: Marcos Maluf

 

DOENÇAS QUE PODEM SER TRANSMITIDAS POR MEIO DA CAPIVARA

Além da febre maculosa, as capivaras também podem ser acometidas por outras patologias com potencial zoonótico (transmissível de um animal ao homem), a exemplo da raiva, leptospirose, leishmaniose e tripanossomíase, assim como enterobacterioses e doenças fúngicas.

As evidências dessas infecções nesses animais e o aumento das populações da espécie em áreas antropizadas são consideradas uma questão de saúde pública. De acordo com o estudo intitulado “Pesquisa de Rickettsias em Capivaras (hydrochoerus hydrochaeris) de Vida Livre”, do Distrito Federal, grande parte das capivaras não apresentam Rickettsia (níveis circulantes da bactéria na corrente sanguínea), mas 96,3% das amostras apresentam titulações de anticorpos para o gênero Rickettsia, sem alterações laboratoriais, indicando que já tiveram contato com bactérias do gênero, sendo constatado que, em sua maioria, o contato foi com a bactéria Rickettsia bellii, que não causa doença em humanos. Ao jornal O Estado, o médico veterinário e mestre em meio ambiente, Giovani Xavier detalhou sobre outras doenças que podem ser propagadas pelas capivaras.

“Outra doença que é transmitida é a doença de Lyme, doença de Powassan, babesiose, erliquiose. Existe mais algumas, mas não são tão importantes. Porém, é importante lembrar que tudo isso é transmitido por causa do carrapato que pode parasitar as capivaras. As pessoas não precisam ter medo delas, elas não fazem mal. No entanto, é sempre bom ter cuidado e prevenir, assim como no contato com outros animais silvestres.”

 

Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS.

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