Horto Florestal pede socorro: mobilização popular exige revitalização de espaço fechado há meses

Para os manifestantes, o Horto mantém viva a memória afetiva e urbana da Capital - Foto: Nilson Figueiredo
Para os manifestantes, o Horto mantém viva a memória afetiva e urbana da Capital - Foto: Nilson Figueiredo

Há anos o Horto Florestal de Campo Grande, um dos principais pontos de lazer, esporte e recreação com contato direto com o meio ambiente, sofre com o abandono do poder público. Espaço de memória, história e encontro da população campo-grandense, o parque tem assistido ao seu próprio declínio: a biblioteca municipal se deteriorou, a estrutura foi se perdendo e, desde março, o local está completamente fechado após a queda de uma árvore, sem previsão oficial de reabertura.

No sábado (19), o Horto amanheceu ocupado por manifestantes cobrando da prefeitura de Campo Grande a revitalização do espaço e medidas urgentes para sua reabertura. O Instituto Mamede, que realizou uma “passarinhada” aberta ao público, defende a causa e aponta a importância do parque na região.

Foto: Nilson Figueiredo

“Sim, o Horto Florestal, assim como outras áreas verdes urbanas de Campo Grande, são pontos importantes para a observação de aves, são hotspots”, afirma Maristela Benites, diretora do Instituto Mamede. Para ela, a permanência dessas áreas fechadas, especialmente aos finais de semana, é incompatível com o título que a cidade tenta sustentar como capital do turismo de observação de aves. “Não basta abrir. É preciso manter o ambiente natural e construído, sinalizar trilhas e garantir segurança. A conexão com a natureza depende desse compromisso”, diz.

A iniciativa de cobrar o poder público é da vereadora Luiza Ribeiro (PT), segundo ela, há mais de três anos, vem conversando com as Secretarias de Obras e Cultura, até mesmo, com a prefeita de Campo Grande.

“A gente veio aqui para deixar um recado para a prefeita. Colocamos os cartazes, vamos pedir para que a bancada federal também nos ajude, talvez com uma emenda, para poder fazer a revitalização.
Mas a prefeitura precisa levar isso muito a sério, não pode um parque tão importante como esse nesse abandono”, argumentou.

O professor e pesquisador, João Santos, destacou o valor simbólico e educativo do patrimônio cultural como elemento essencial da identidade coletiva e da memória social. Para ele, revitalizar esses locais é também manter viva a memória afetiva e urbana da cidade. “Precisamos preservar esses espaços que fazem parte da nossa própria identidade. Tudo isso constrói a história da cidade. Se a gente não valoriza e preserva, vai apagando pouco a pouco o que nos torna únicos enquanto sociedade”.

A ideia também é aclamada por quem vive no entorno, moradora da região há mais de três décadas, a aposentada, Maria Jacintha Fernandes, lembra com carinho da relação com o Horto e acredita que a revitalização vai melhorar a qualidade de vida dos vizinhos. “Ajuda muito na minha caminhada, sempre caminhei por aqui, nunca frequentei outra academia. Mesmo agora enquanto está fechado, eu dou a volta por fora, mas era muito melhor ele aberto”, afirmou.

Prefeitura estuda estruturação

Em nota enviada à reportagem, a Secretaria Executiva de Cultura informou que o projeto de revitalização do Horto Florestal está em fase de estruturação. A proposta ainda está sendo elaborada, com cronograma e orçamento indefinidos, segundo o município.

A reabertura do parque depende da poda de seis árvores com risco de queda, trabalho que ainda não foi executado. Equipes da Sisep estariam realizando limpeza e manutenção rotineiras no local, mesmo fechado ao público.

A Prefeitura também informou que há rondas regulares da Guarda Civil Metropolitana na área, como forma de garantir segurança. O tema, segundo a administração, está sendo tratado em conjunto com outros órgãos de fiscalização.

Sobre o combate ao Aedes aegypti, transmissor da dengue, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que ações preventivas e de monitoramento vêm sendo realizadas, com visitas técnicas e medidas de controle aplicadas quando necessário.

Já sobre os rumores de uma possível concessão do espaço ao SESC, o município nega que exista qualquer negociação formal no momento. Caso haja interesse futuro, os trâmites legais como consulta pública e licitação serão respeitados, garante a gestão.

Ainda segundo a Secretaria, há tratativas com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para avaliar e orientar as intervenções necessárias nas estruturas danificadas do Horto, que é tombado como patrimônio.

SESC nega parceria, mas vê potencial

Em nota, o SESC MS informou que não existe parceria formalizada com a Prefeitura para gestão ou uso do Horto Florestal. No entanto, reconhece a importância do espaço e se mostra disposto a colaborar, por meio de parcerias futuras, para fortalecer atividades culturais, de lazer e educação no local.

“A recuperação, manutenção e valorização da área são fundamentais para que ela continue cumprindo sua função social junto à comunidade de Campo Grande”, afirmou a instituição.

Um ato por um espaço que é de todos
O evento deste sábado busca chamar a atenção da sociedade e das autoridades para o descaso com o Horto Florestal. A mobilização pretende reunir famílias, educadores ambientais, observadores de aves, ciclistas, estudantes e frequentadores antigos do parque.

O convite é para ocupar, conhecer, valorizar e defender um espaço que é público, que pertence à cidade e à sua história. “A população quer e precisa de áreas verdes acessíveis, bem cuidadas e seguras. Revitalizar o Horto é garantir qualidade de vida, cultura e educação ambiental para hoje e para o futuro”, resume Maristela.

 

Por Suelen Morales e Taynara Menezes

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