Investimentos em tecnologia, mais facilidade para vítimas e assistência estão entre as novas apostas
O Governo de Mato Grosso do Sul realizou nesta quarta-feira (27) o evento “Por Elas: Proteção de Todos os Lados”, em Campo Grande, apresentando ações para fortalecer a rede de enfrentamento à violência contra mulheres, crianças e adolescentes. O encontro marcou também o encerramento da campanha Agosto Lilás e reuniu autoridades estaduais, municipais e representantes da sociedade civil.
As apresentações foram conduzidas pela secretária de Estado de Cidadania, Viviane Luiza, e pela subsecretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Manuela Nicodemos. A iniciativa lançou 13 entregas estratégicas voltadas às políticas públicas para mulheres, além da assinatura do Plano de Metas Municipal, alinhado à legislação federal, que orienta as prefeituras a estabelecer metas específicas e orçamentos próprios para fortalecer suas redes de proteção.
Durante o evento, o governador Eduardo Riedel explicou sobre a ausência de uma Secretaria Estadual da Mulher em Mato Grosso do Sul.

Governador Eduardo Riedel pontuou que o Estado tem feito o “papel de casa” – Foto: Roberta Martins
“Não é a secretaria que faz a política pública, é o governo que faz, e os resultados estão acontecendo independentemente da secretaria. A visão de que apenas a estrutura física garante eficiência é equivocada. Se fosse assim, teríamos uma secretaria para cada tema, e não é isso que garante eficácia às políticas públicas, declarou o governador de MS.
Além disso, Riedel destacou a atuação da rede de proteção do Estado e frisou que existe uma rede robusta de proteção às mulheres.
“Mato Grosso do Sul possui uma rede robusta e tipifica adequadamente os casos. Em 2022 tivemos 44 feminicídios, em 2023 foram 30, em 2024, 35, e até o momento deste ano, 25. Esse índice, considerado alto, reflete, em parte, a eficiência da nossa rede de proteção”.
Entre as principais ações anunciadas está a municipalização do CEAMCA (Centro Especializado de Atendimento à Mulher, à Criança e ao Adolescente em Situação de Violência), que passará a operar de forma descentralizada em 11 cidades do Estado. Os CEAMCAs oferecem acolhimento, orientação e acompanhamento psicossocial e jurídico às vítimas de violência doméstica e familiar.
A medida faz parte da estratégia da SES (Secretaria de Estado da Cidadania) para ampliar e fortalecer os territórios, garantindo atendimento integrado e humanizado. Segundo a secretária Viviane Luiza, o projeto prevê repasses de R$210 mil para cada município, totalizando R$2,3 milhões em investimento estadual, com o objetivo de garantir atendimento às mulheres e aos filhos vítimas de violência, direta ou indiretamente, desde 1999.
A programação também incluiu a assinatura de termos de cooperação entre instituições, lançamento de cursos de capacitação para lideranças comunitárias e a implementação de tecnologias inovadoras, como a ferramenta de inteligência artificial VITÓRIA, voltada para orientar mulheres em situação de violência. Sobre a ferramenta, o governador Eduardo Riedel explicou:
“A inteligência artificial é utilizada para gerar respostas a mulheres que desejam informações sobre qualquer situação de vulnerabilidade: onde ir, a quem recorrer, como ser atendida. É a democratização do acesso à informação em tempos de tecnologia avançada, e o objetivo da Vitória é atuar especificamente nessa linha de ação”.
A ex-ministra do Ministério das Mulheres, Cida Gonçalves, também comentou sobre a importância das iniciativas.
“Na verdade, Mato Grosso do Sul é um dos Estados que notifica corretamente os crimes de feminicídio,

Secretária de Estado da Cidadania, Viviane Luiza reforçou a importância das novas medidas – Foto: Roberta Martins
diferente de estados como São Paulo e Rio Grande do Sul. De um lado, temos o problema do número de mulheres assassinadas; de outro, temos a vantagem de que os números estão disponíveis para que possamos pensar em como corrigir, enfrentar e resolver”.
A vice-prefeita de Campo Grande, Camilla Nascimento, destacou que a violência contra as mulheres é uma pauta urgente e inadiável. “ A mulher tem que ter a informação do que buscar, onde buscar e, quando ela chegar nessa porta aberta, ela também ter uma equipe capacitada para atendê-la. Se não, de nada funciona uma rede de acolhimento. Isso está acontecendo e a gente tem o prazer de ter essa parceria hoje com o Governo do Estado no nosso caso, com a Casa da Mulher Brasileira”, declarou.
Autoridades e representantes afirmaram que o governo se consolidou como um hub de políticas públicas, unindo sociedade civil, instituições e poder público em uma rede integrada de prevenção e combate à violência doméstica.
Estudante denuncia assédio na UFMS e critica atendimento na DEAM
“Neste momento me sinto completamente desamparada e sem proteção. Me sinto em risco e temo que outras possíveis vítimas possam passar pelo mesmo que passei”, relatou Alice Jardim, 25 anos, estudante de Audiovisual da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), que denunciou ter sido vítima de assédio no campus de Campo Grande na noite desta segunda-feira (25).
Em entrevista ao jornal O Estado, Alice contou que estava sozinha, por volta das 21h, na Concha Acústica, local de apresentações culturais da instituição, quando o assediador se aproximou. “Eu já estava lá há uns 40 minutos, treinando dança. Ele veio descalço, perguntou que horas eram, depois se afastou e ficou em um canto próximo da minha mochila. Quando fui pegar minhas coisas, ele voltou a falar comigo, perguntou se eu tinha cigarro e, em seguida, começou a falar frases obscenas e se masturbar na minha frente, me chamando para ir até ele”, relatou.
A estudante disse que fingiu estar no celular e conseguiu sair do local. Logo depois, decidiu filmar o homem para registrar a prova. “Gravei a cara dele e saí correndo”, afirma.
Após o episódio, Alice mostrou o vídeo a colegas que participavam de um evento no campus e acionaram a segurança da universidade. Guardas conseguiram localizar o suspeito em outro ponto da UFMS, repetindo o mesmo ato diante de um grupo de cerca de 10 estudantes. Ele foi contido até a chegada da polícia.
Atendimento na DEAM
Alice procurou a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para registrar ocorrência, mas relatou descaso no atendimento. “O delegado quase não fez perguntas e recusou ver o vídeo que eu tinha, que mostrava tudo. No Boletim de Ocorrência, escreveram uma versão diferente da minha. Além disso, fui atendida por dois homens, o que não faz sentido”, criticou.
Ela afirmou ainda que tanto ela quanto o suspeito foram liberados praticamente no mesmo horário. “Quando saí da delegacia, vi ele na rua. Pedi para a polícia me levar para casa, mas disseram que não havia ninguém disponível. Só consegui voltar porque colegas pediram um Uber. Me senti totalmente desprotegida”, declarou.
Falhas na segurança
Alice acredita que o caso evidencia falhas tanto na estrutura da UFMS quanto no sistema de proteção e segurança. “A segurança da universidade conversa com a polícia, que interage com a Delegacia da Mulher. Esse caso mostra como todo o sistema funciona, ou melhor, muitas vezes não funciona. Existem diversos locais no campus mal iluminados, passarelas e acessos inseguros. De que adianta melhorar a iluminação ou aumentar o número de seguranças se a Delegacia da Mulher não oferece o devido amparo?”, questionou.
Segundo a Polícia Civil, o processo segue em frente mesmo sem a prisão. O autor responderá judicialmente, e a justiça será feita dentro dos parâmetros legais. A UFMS não se manifestou sobre o caso.
Geane Beserra e Ana Clara Julião