Caso aconteceu em meio à crise da unidade que chegou a restringir os atendimentos no pronto-socorro
Cinco dias após sofrer um acidente doméstico, Sophie Emanuelle Viana Rochete, de apenas 5 anos, morreu em decorrência de um traumatismo craniano que, segundo a família, foi subestimado pela equipe médica da Santa Casa de Campo Grande. A criança, que era cardiopata e já havia passado por cirurgia no próprio hospital, chegou a receber alta horas depois do primeiro atendimento. A tia da menina, Vailza Viana, denuncia negligência e promete acionar o Ministério Público.
“O laudo da UPA avisava que ela era cardiopata. Entregamos a carteirinha e todo o histórico dela. Mesmo assim, só fizeram um raio-X e mandaram ela embora”, afirma Vailza, em entrevista ao *O Estado*. “Ela foi morrendo aos poucos, sofrendo, com muita dor.”
O acidente aconteceu na noite de domingo, 25 de maio, quando um portão de correr caiu sobre a menina enquanto ela brincava em casa. Sophie bateu a cabeça e ficou presa sob a estrutura. Ela foi levada às pressas à UPA Vila Almeida, onde levou cinco pontos e teve urgência reconhecida para transferência. Em menos de 30 minutos, a vaga na Santa Casa foi liberada.
Apesar da gravidade do impacto e do histórico cardíaco da criança, a família afirma que o hospital limitou-se a realizar um raio-X e, após poucas horas de observação, liberou Sophie. No dia seguinte, a menina amanheceu com febre, dores fortes na cabeça e vômito. Levado de volta à Santa Casa, o caso foi inicialmente tratado com resistência por falta de novo encaminhamento da UPA. Após insistência da família, a menina foi internada e submetida a uma tomografia que apontou fissura no crânio e acúmulo de sangue.
Mesmo com o diagnóstico, segundo a família, a conduta médica foi manter a menina sob observação e tratá-la com medicamentos para dor. “Ela passou terça e quarta com dor, recebeu dipirona e morfina, mas não aguentava mais. Na quinta, já não conseguia nem falar”, relata Vailza.
Na noite de quinta-feira (29), Sophie sofreu uma parada cardiorrespiratória e foi reanimada após 17 minutos. Um neurocirurgião informou que ela precisaria ser operada imediatamente. No entanto, a menina não resistiu a uma nova parada, pouco rempo depois.
Inicialmente, a família foi informada de que a causa da morte havia sido um infarto. No entanto, o atestado de óbito registrou hemorragia subaracnoidea, hematoma subdural e fratura craniana. “Tentaram esconder a verdade. Mas o laudo mostra que ela morreu do que tentaram minimizar desde o início”, diz a tia.
Nas redes sociais, a comoção tomou conta de amigos e vizinhos. Sophie era filha única e morava com a mãe, que está em estado de choque. “Ela era brincalhona, inteligente, amava dançar, se maquiar. A caçula da nossa família. Não podemos deixar isso passar”, reforça Vailza, que afirma que a família já busca um advogado e pretende formalizar denúncia ao Ministério Público.
O que diz o hospital?

Foto: Santa Casa
Procurada, a Santa Casa de Campo Grande informou que acompanha o caso desde o momento do óbito e que todas as condutas adotadas estão sendo avaliadas internamente. Em nota enviada ao O Estado, o hospital afirmou que a paciente foi submetida a diversos exames e avaliada por diferentes profissionais nas duas ocasiões em que esteve na unidade. Segundo a instituição, após o primeiro atendimento e um período de observação, Sophie foi liberada sem apresentar sinais preocupantes, mas retornou cerca de 10 horas depois, já com piora do quadro, sendo novamente atendida.
A Santa Casa reforçou que o corpo foi encaminhado para necropsia, que permanece à disposição da família para esclarecimentos e que reitera o compromisso com a transparência e a qualidade no atendimento à população. Por fim, lamentou profundamente a morte da menina e prestou solidariedade aos familiares e amigos.
Versão também contestada pela tia da criança que nega que a unidade tenha oferecido algum tipo de suporte para a família.
Suelen Morales