Campanha do Centro de Valorização da Vida convida população a conversar sobre sofrimento psíquico
De acordo com a Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), apenas na última década, entre 2015 e 2025, em Mato Grosso do Sul, mais de 2 mil pessoas tiraram a própria vida, o que acende, cada vez mais, um alerta sobre os cuidados com saúde mental e a prevenção do suicídio. Diante do cenário, especialistas apontam que uma das formas mais eficazes de enfrentar a situação é ter um diálogo aberto sobre o assunto.
Pensando nisso, o CVV (Centro de Valorização da Vida), juntamente com outras entidades, todos os anos realiza a campanha “Setembro Amarelo”, que em 2025, tem como lema “Conversar pode mudar vidas”, que convida a população a dialogar, tanto sobre o tema central quanto a buscar ajuda para falar sobre seus sofrimentos mentais.
De acordo com a psicóloga Taiana Vilela Rondon, que atua no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Margarida, na Vila Rica, em Campo Grande, poder falar sem tabus sobre suicídio é fator essencial para preservar vidas diante de situações de extremo sofrimento mental que podem levar pacientes a terem ideiações suicidas.
“É importante trazer tudo para o diálogo para que a pessoa possa ser ajudada da melhor maneira. Conversar é a melhor forma de prevenção ao suicídio. Então, temos o Setembro Amarelo, que busca conscientizar sobre o tema e, acima de tudo, abrir um espaço para que esse diálogo seja feito sem medo. Muitas vezes, alguém não comunica o sofrimento por medo do julgamento, por vergonha, especialmente se ele for conversar com a família ou com amigos”, destaca Taiana.
A psicóloga ainda lembra que nem sempre a atitude de atentar contra a própria vida é decorrente de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, entre outras condições, mas pode ser desencadeada por situações que causam sofrimento, como brigas conjugais, questões familiares ou problemas financeiros.
No caso dos mais jovens, a especialista aponta que um fator muito presente é a baixa tolerância para frustrações e a suscetibilidade à qual essas pessoas estão expostas, especialmente por meio da internet.
“Hoje em dia os jovens têm baixa tolerância à frustração, então, tudo que acaba em frustração, o primeiro pensamento é tirar a própria vida. Além disso, ainda existem muitos grupos na internet, inclusive na deep web camada mais profunda da internet —, em que pessoas dão sugestões do que a pessoa pode fazer quando está sofrendo e acabam incentivando esses comportamentos”, explica, ressaltando a importância de os pais ou responsáveis acompanharem o que as crianças e adolescentes fazem quando estão conectados.
Perfil das vítimas
Os dados da Sejusp também mostram que os homens são os que mais cometem suicídio: de janeiro até a primeira semana de setembro, 212 pessoas tiraram a própria vida em MS, das quais 161 foram homens, o que representa mais da metade das vítimas.
Em relação a este quadro, Taiana relaciona as causas desses números a dois fatores.
Para ela, o que eleva o índice dos homens usarem meios mais violentos e conseguirem, de fato, consumar o suicídio é, em segundo lugar, a dificuldade que muitos ainda têm de falar sobre sentimentos e buscar ajuda quando estão sofrendo.
“Eu vejo muito isso no consultório. Lá, a maior parte das pessoas que buscam por psicoterapia, que buscam conversar, buscam ajuda são mulheres”, afirma.
Por fim, a especialista reitera que, independentemente de gênero ou idade, a melhor forma de cuidar da saúde mental e buscar ajuda é ter um diálogo aberto sobre o suicídio e transtornos mentais.
“É muito importante esta escuta, para isso existe o CVV, por exemplo. Também temos o Caps, que a pessoa em sofrimento mental pode procurar apoio, ser ouvida e orientada sobre a ajuda que ela precisa”, pontuou.
Conversas que transformam
Em 2025, o CVV apresenta a campanha do Setembro Amarelo com o tema “Conversar pode mudar vidas”. O foco é reforçar que o diálogo é uma ferramenta poderosa para acolher quem sofre em silêncio.
O CVV pode ser acessado pelo 188, telefone gratuito 24 horas por dia, durante 7 dias da semana, emhttps://cvv.org.br/ e também pelas redes sociais.
A ajuda também pode ser buscada nos Caps. Em Campo Grande existem, ao todo, 7 Centros de Atenção Psicossocial, sendo um infanto-juvenil, dois AD (Álcool e Drogas) e outros 4 atendimento adulto com capacidade para terapias e medicações.
Por Ana Clara Julião
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