Perícia investiga se ataque a caseiro foi motivado pela escassez de alimentos ou atitude involuntária
O corpo de Jorge Rodrigues, de 60 anos, foi encontrado nesta segunda-feira (22), em uma toca de onça na região de mata conhecida como Touro Morto, no município de Miranda, no Pantanal sul-mato-grossense. O caseiro de um pesqueiro local estava desaparecido desde o fim da tarde de domingo (21), quando saiu para fazer uma ronda na propriedade e não retornou.
De acordo com a PMA, em 2023 as equipes de Miranda já haviam monitorado um felino macho adulto na região do Morro do Azeite, instalando placas de advertência em pontos turísticos e comércios locais para alertar sobre os riscos da ceva.
Questionada pelo Jornal O Estado, a PMA não descartou instalar câmeras nas proximidades de onde aconteceu o ataque a Jorge, mas cita que ainda não existe definição sobre essa atitude.
O caso segue em investigação, e diferentes hipóteses estão sendo consideradas, como escassez de alimento, comportamento defensivo do animal, período reprodutivo (em que machos se tornam mais agressivos) ou alguma atitude involuntária da vítima que possa ter provocado o ataque.
Foi verificado também que o sistema de câmeras de segurança da propriedade estava inoperante no momento do incidente.
A PMA aproveitou para reforçar alertas sobre a interação com animais silvestres. Alimentar mamíferos de médio e grande porte é proibido por leis federais e estaduais, e a prática conhecida como ceva — a oferta de alimento com o objetivo de atrair fauna — é considerada ilegal e perigosa. “Essa conduta incentiva a aproximação dos animais ao ambiente humano, elevando o risco de ataques”, pontua a nota.
Corpo coberto por folhas
A localização dos restos mortais ocorreu após uma força-tarefa que reuniu familiares, guias da região e equipes do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental (PMA) e Polícia Civil. O corpo estava parcialmente coberto por folhas e galhos, em um comportamento típico de grandes felinos como a onça-pintada.
A descoberta foi feita pelo cunhado da vítima, Adilson Souza, que acompanhava as buscas. “Deus me guiou certinho”, disse, emocionado, ao relatar o momento em que avistou a toca em meio à vegetação densa. Vídeos divulgados mostram o difícil trabalho das equipes no resgate, em uma área de mata fechada e de difícil acesso.
Ataque de onça-pintada
Em nota enviada ao O Estado, a Polícia Militar Ambiental confirmou que as evidências apontam para um ataque de onça-pintada. “Diante do estado do corpo e da presença de um felino de grande porte no local, é possível afirmar, com base nas evidências, que o caseiro foi vítima de ataque de uma onça-pintada”, diz o comunicado.
De acordo com a PMA, o corpo foi encontrado a cerca de 280 metros do rancho onde Jorge trabalhava. Marcas de mordidas, sinais de arraste e pegadas do animal foram identificadas no entorno da toca. A perícia criminal e uma funerária foram acionadas para os procedimentos legais, e o corpo foi encaminhado ao IML (instituto Médico Legal) de Corumbá para confirmação da causa da morte.
Tragédia causa comoção
Muito conhecido na região, Jorge era descrito como um homem trabalhador, prestativo e querido por todos. Morador antigo de Miranda, ele conhecia bem a área onde trabalhava. O desaparecimento mobilizou moradores locais, que acompanharam as buscas desde a madrugada de segunda-feira.
A Polícia Militar Ambiental manifestou solidariedade aos familiares. “Podemos dizer que se tratava de um amigo próximo de todos nós, um verdadeiro membro da família da Polícia Militar Ambiental”, declarou o comandante do Policiamento Ambiental, coronel José Carlos Rodrigues.
Monitoramento e investigação
Embora ataques de onça-pintada a humanos sejam extremamente raros, o caso reacende o debate sobre a convivência entre atividades humanas e a faun nativa no Pantanal. Autoridades recomendam que moradores e visitantes evitem circular sozinhos em áreas de mata, especialmente ao amanhecer e entardecer, períodos de menor visibilidade e maior atividade dos felinos.
A PMA continuará o monitoramento na área do ataque nos próximos dias, para avaliar o comportamento do animal e adotar medidas de prevenção, se necessário. A Polícia Civil de Miranda conduz a investigação, e o laudo do IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) deve trazer detalhes técnicos sobre as circunstâncias da morte.
Por Suelen Morales
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