Efeitos do El Niño devem trazer uma primavera de altas temperaturas

Termômetros podem permanecer acima da média histórica em MS
|Foto: Nilson Figueiredo
Termômetros podem permanecer acima da média histórica em MS |Foto: Nilson Figueiredo

Onda de calor, nos últimos dias de inverno, é novidade em Mato Grosso do Sul, tendo em vista que as altas temperaturas e o tempo seco, normais na primavera, se anteciparam, conforme o meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Cleber Souza. No entanto, basta uma sequência de dias de tempo seco para que a temperatura dispare e facilmente atinja os 36ºC, em quase todos os municípios de Mato Grosso do Sul.

Essa série de dias secos trazidos no final do inverno e que se estenderá com a chegada da primavera, no sábado (23), é causada pelo bloqueio atmosférico, uma forte massa de ar quente que impede a entrada da frente fria e, por consequência, inibe a chuva e deixa os dias ensolarados. Isso está relacionado ao fenômeno El Niño, que deixa o ar mais úmido no sul do país. Nem sempre essa umidade se converte em chuva e com o bloqueio, a umidade eleva a sensação térmica.

Ainda sobre a influência do El Nino, está semana vai continuar com altas temperaturas. A previsão é que Campo Grande atinja os 40ºC, entre segunda e terça-feira. Somente a partir da quarta-feira (27) é que as temperaturas começam a diminuir, variando de 38ºC para 36ºC, podendo acontecer pancadas de chuvas isoladas, associadas ao aquecimento. A maior temperatura da história na Capital aconteceu no dia 5 de outubro de 2020, quando atingiu-se os 41,0º C, conforme o Inmet.

Segundo o meteorologista Cleber, o alerta de temperaturas extremas no Estado, que foi lançado desde segunda-feira (18), foi estendido até a próxima semana, no Estado. “A gente estendeu o alerta vermelho e vamos mantê-lo até terça- -feira, monitorando a onda de calor. Estamos acompanhando a elevação acentuada em vários dias consecutivos, com temperaturas de 5 graus acima da média do período (setembro). Apesar de ser comum na primavera, chegou ainda no inverno e está batendo recordes”, disse.

Com temperaturas tão altas, os riscos para a saúde se tornam ainda maiores, principalmente para quem tem doenças respiratórias crônicas, foi o que explicou a pneumologista, Dra. Mirella Felício Fontão. “Pessoas saudáveis passam por intempéries durante as oscilações bruscas de temperatura. Pessoas com doenças respiratórias sofrem ainda mais, ficando suscetíveis a exacerbações com a piora da tosse e falta de ar; devido ao ressecamento de mucosas e aumento de alérgenos (como poeira) suspensos no ar”, destacou.

Para não sofrer tanto com o calor, a alternativa da maioria é se abrigar no ar-condicionado, contudo temperaturas muito baixas também atrapalham na respiração, então controlar a temperatura do ar-condicionado é importante para aqueles que têm problemas na respiração. “O ar-condicionado deve ser utilizado com alguns cuidados, evitando temperaturas muito baixas (o ideal é em torno de 25ºC) e lembrando da limpeza adequada e periódica. O uso concomitante de umidificador de ambiente nos ajuda quando em uso do ar-condicionado”, comenta a doutora Mirella Fontão.

A estudante Mariza Assolari, 22 anos, convive com sinusite e bronquite asmática. Ela conta que nos dias mais quentes não pode abusar do ar-condicionado, para não sofrer com as crises depois. “Os dias mais quentes são bem difíceis, eu sofro com sinusite e bronquite asmática, então não dá para ficar muito tempo respirando ar quente, mas também ficar no ar muito gelado incomoda, tenho sempre que procurar o meio-termo, se não a sinusite e a asma atacam”.

 

Outras condições

Doenças como hipertermia, desidratação e isolação também podem aparecer nesse tempo muito quente. Para evitar que isso aconteça devemos ser cautelosos em algumas situações.

A especialista em clínica médica, Dra. Carolina Albuquerque Arroyo, comenta que essas condições meteorológicas podem causar desidratação, insolação, problemas respiratórios e cardiovasculares. “A principal complicação causada pelo forte calor é a desidratação, uma condição que pode evoluir e, em alguns casos, pode ser necessária a internação hospitalar. Em idosos e crianças, o quadro costuma ser mais grave, podendo até levar a óbito. As altas temperaturas também podem provocar insolação, problemas respiratórios e cardiovasculares”.

A médica clínica pontua os sintomas de desidratação. “No caso de desidratação, sinais e sintomas podem gerar um alerta para quadros mais graves, que são: a queda da pressão; diminuição do volume urinário; sensação de desmaio e/ou desmaio; sonolência; desorientação e confusão mental, sendo imprescindível uma avaliação médica emergencial.”

Para precaver a insolação devemos nos abrigar sempre em locais com sombras e ventilados. Porém, com o caso avançado, o recomendado é procurar um médico. “O objetivo é baixar a temperatura corporal, lenta e gradativamente, por isso deve- -se aumentar a ingestão de líquidos resfriados, como água fria ou gelada; refrescar o corpo, pode ser borrifando água fria em todo o corpo, ou aplicando compressas de água fria na testa, pescoço, axilas e virilha e procurar ajuda médica o mais rápido possível”, relatou a Dra. Carolina Arroyo.

O caso mais grave causado pelo sol é a hipertermia, o aumento da temperatura corporal, que geralmente fica acima de 40ºC. Desencadeada pela exposição prolongada ao calor excessivo, acometendo, principalmente, crianças e pessoas idosas. “É uma situação grave, que pode até mesmo levar o indivíduo à morte, caso o resfriamento do corpo não seja feito rapidamente. Dentre os sinais e sintomas da hipertermia, podemos ter: dor de cabeça; tontura; fraqueza; queda de pressão; confusão mental; câimbras e alucinação”, relata a médica clínica.

 

Alerta à população

Seja por meio das redes sociais ou por SMS, equipes da Defesa Civil estão emitindo alertas desde a última segunda-feira (18), de perigos que podem ser provocados pela onda de calor, que aumentou em mais de 5ºC as temperaturas. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) também emitiu alertas climáticos. Um alerta vermelho que indica grande perigo provocado por uma onda de calor, com temperatura 5ºC acima da média por período maior do que 5 dias e risco à saúde em todos os 79 municípios do Estado. O outro, laranja, que indica redobrar os cuidados com a saúde, uma vez que a umidade relativa do ar está variando entre 20% e 12%, causando risco de incêndios florestais e à saúde.

 

Adaptação nas escolas

 

Com os termômetros superando a casa dos 40ºC em algumas cidades do Estado, a SES (Secretaria de Estado de Educação) confirmou que, desde o início da semana passada, recomendou que as escolas adotassem um protocolo diferenciado, principalmente em relação às atividades ao ar livre.

“No início da semana passamos uma orientação para as escolas, para evitar a realização de atividades físicas nos horários mais críticos, em que a temperatura está mais elevada e a umidade está baixa. Todas as escolas que têm sala de tecnologia contam com, pelo menos, uma sala com ar-condicionado. Em alguns casos, as escolas ganham recursos parlamentares ou a própria escola compra, com recursos próprios. Temos já um volume muito grande de escolas com ar-condicionado, principalmente aquelas que foram reformadas recentemente, pois já receberam rede elétrica compatível para tal” informou.

Na última sexta-feira (22), alunos da escola estadual Lino Vilachá, localizada no bairro Nova Lima, tiveram problemas com o ar-condicionado e a rede elétrica e, por isso, ficaram sem os aparelhos, mas a SED informou que o problema seria solucionado em até 24h. “Ocorreu um problema com o quadro de distribuição da energia da unidade escolar e o funcionamento dos aparelhos de ar- -condicionado das salas de aula foi comprometido”, confirmou a SES.

 

Mato Grosso do Sul registra aumento de mais de 240% nos incêndios

O Estado está sob forte influência de onda de calor e algumas cidades têm apresentado temperaturas acima dos 40ºC. As altas temperaturas têm influenciado também nos focos de incêndio. Segundo dados do Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em uma semana o número de focos aumentou em 241,6%. Mato Grosso do Sul registrou, do dia 10 a 14 de setembro, 24 focos, enquanto que nesta semana, de 17 a 21 de setembro, foram 82 focos de calor registrados pelo satélite de referência do Inpe.

A tenente-coronel Tatiane Inoue, chefe do CPA (Centro de Proteção Ambiental) do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, confirma que o aumento é uma das consequências da forte onda de calor. “As condições climáticas, já alertadas no nosso Estado, as altas temperaturas, elas contribuem imensamente para as condições de propagação de incêndio florestal”, garantiu.

 

 

Por – Michelly Peres e Daniela Lacerda – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

 

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