Depois de enfrentar a pior seca dos últimos 124 anos, níveis do Rio Paraguai começam a se recuperar

Foto: Divulgação
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A Marinha do Brasil e o Inmet alertam para a necessidade de cuidados redobrados na navegação

As mudanças climáticas têm gerado impactos profundos no Rio Paraguai, afetando tanto a navegação quanto a economia local. Em 2024, o rio registrou o nível mais baixo de sua história, com 62 centímetros abaixo da referência, conforme dados do SGB (Serviço Geológico Brasileiro). No entanto, nesta primeira quinzena de janeiro de 2025, os níveis começaram a apresentar uma leve recuperação, subindo para 1,26 metro, o que ainda está 39 centímetros abaixo da média histórica de 1,65 metro. Apesar dessa melhora gradual, os níveis continuam a representar um risco para as embarcações que transitam pela região.

O boletim diário de avisos da Marinha do Brasil, emitido pelo Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, traz dados atualizados sobre o nível dos principais pontos do Rio Paraguai, com medições que mostram a recuperação gradual, mas ainda insuficiente para estabilizar a situação.

Para o dia 15 de janeiro de 2025, as medições dos níveis do Rio Paraguai indicaram as seguintes profundidades: em Cuiabá, o nível é de 4,45 metros, com um aumento de 0,10 metro em relação ao dia anterior; em Cáceres, o nível alcança 3,34 metros, subindo 0,06 metro; em Bela Vista do Norte, o nível está em 3,04 metros, sem variação; em Ladário, o nível permanece estacionado em 1,26 metro; em Forte Coimbra, o nível é de 0,10 metro, também sem alteração; e, por fim, em Porto Murtinho, o nível é de 2,18 metros, com um pequeno aumento de 0,01 metro.

A seca prolongada tem sido uma das principais responsáveis pela situação crítica enfrentada pelo Rio Paraguai. Em 2024, o rio registrou a pior seca dos últimos 100 anos, afetando gravemente seus níveis. Em Ladário, o nível atual do rio é de 1,21 metro e, até o momento, não há alertas para estiagem. Em 5 de novembro de 2024, a situação estava ainda mais crítica, com o nível do rio em Ladário marcado em -32 centímetros, em Porto Esperança -108 centímetros e em Porto Murtinho 77 centímetros.

De acordo com dados da SGB (Sociedade Brasileira de Geologia), até 8 de janeiro de 2025, a bacia do Rio Paraguai recebeu apenas 33 mm de chuvas, volume bem abaixo do esperado. Projeções do modelo GEFS indicam acumulados de chuva de até 80 mm. Caso essa previsão se confirme, e levando em conta a tendência de recuperação observada nos últimos dias, espera-se uma elevação nos níveis do rio, especialmente nas estações de Ladário, Forte Coimbra, Porto Murtinho, Cáceres, Barra do Bugres e Cuiabá.

Segundo Artur Matos, coordenador do Sistema de Alerta Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil, “o nível do rio Paraguai em Ladário está atualmente 74 cm acima do registrado no mesmo período do ano passado, mas ainda 39 cm abaixo da média histórica para o período”. Matos explica que, “embora o nível esteja abaixo da média histórica, iniciamos o ano com níveis mais altos do que no ano passado, quando enfrentamos a seca histórica, o que é um sinal positivo para a recuperação dos níveis do rio nos próximos meses”, analisa.

Dados da régua de Ladário, estação central da bacia com registros históricos desde 1900, indicam que o nível do rio em 15 de janeiro de 2024 era de 0,52 metro, enquanto em 15 de janeiro de 2025 alcançou 1,26 metro, representando uma diferença positiva de 0,74 metro. No entanto, o nível médio histórico para o período é de 1,65 metro, ainda acima do valor registrado neste ano.

De acordo com o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), a seca prolongada e os baixos níveis do Rio Paraguai têm causado sérios impactos na economia local, afetando diretamente os setores de pesca, turismo e o abastecimento das comunidades ribeirinhas. Além disso, a escassez de água compromete o ecossistema do Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo, com consequências ambientais significativas.

Impacto positivo

Entretanto, o Imasul destaca que, devido às chuvas registradas nos últimos meses, os níveis do Rio Paraguai têm se recuperado e atualmente se encontram dentro da faixa considerada normal, próximos das médias históricas para o período. Essa recuperação gradual e significativa ocorre após o rio ter enfrentado, em outubro de 2024, a pior seca dos últimos 124 anos. Naquele momento crítico, o ponto de monitoramento de Ladário registrou o nível de -69 cm. No entanto, em 15 de janeiro de 2025, esse mesmo ponto atingiu 130 cm, refletindo o impacto positivo das chuvas contínuas desde outubro de 2024.

“Embora o mês de dezembro tenha registrado precipitações acima da média, a recuperação dos níveis do Rio Paraguai é, principalmente, resultado de um regime regular de chuvas que vem ocorrendo ao longo dos últimos meses. As estações de monitoramento de Porto Murtinho, São Francisco e Ladário registraram volumes significativos de precipitação, contribuindo para a recuperação hídrica do rio. Essa regularidade nas chuvas, iniciada em outubro, é fundamental para garantir a estabilidade hídrica, promovendo a recuperação do ecossistema e a continuidade das atividades econômicas e sociais dependentes do rio”, diz a nota.

Riscos à navegação

A Marinha do Brasil emitiu alertas sobre o aumento dos riscos à navegação no Rio Paraguai, devido ao afloramento de bancos de areia e rochas em diversas áreas, consequência da seca prolongada. No Boletim Diário de Avisos-Rádio Náuticos, a Marinha orienta que “os navegantes devem redobrar a atenção, utilizando a carta náutica em vigor, observando o balizamento e mantendo uma velocidade segura”.

No entanto, os próprios navegantes têm relatado “profundidades menores do que as indicadas nas cartas náuticas, variando entre 0,9m e 2,8m, o que representa um perigo significativo à navegação”, conforme revelou uma das respostas aos alertas emitidos pela rádio da Marinha.

A situação torna-se ainda mais crítica devido aos incêndios florestais que assolam o Pantanal, o que agrava os riscos de acidentes e dificulta ainda mais a navegação. A Marinha alertou para o aumento dos incêndios na região, que chegam ao Rio Paraguai, atravessando de uma margem a outra. Por isso, “recomenda-se evitar a amarração de barcaças, tanto carregadas quanto vazias, nas margens do rio, nas águas jurisdicionais brasileiras, a fim de mitigar os riscos de acidentes envolvendo essas embarcações”.

Histórico e perspectivas

O Rio Paraguai, que atravessa os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tem sua origem na Amazônia e segue para o Paraguai e a Argentina. A medição dos níveis do rio é realizada desde 1900 pela Marinha, e a mínima histórica anterior foi registrada em 1964, com 61 centímetros abaixo da cota de referência. A situação atual, no entanto, continua sendo monitorada de perto, já que a recuperação dos níveis hídricos depende da intensidade e da regularidade das chuvas nas próximas semanas.

A série de medições mostra que, apesar da recuperação lenta, o rio ainda está longe de atingir a faixa de normalidade, com a cota ideal para navegação sendo de 5 metros de profundidade, conforme o Imasul.

Por Suelen Morales

 

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