Cresce número de famílias em situação de rua, mas abrigos continuam sendo recusados

O atendimento a famílias 
com crianças é feito em 
unidades específicas, 
como a Uaifa I - Foto: Prefeitura de CG
O atendimento a famílias com crianças é feito em unidades específicas, como a Uaifa I - Foto: Prefeitura de CG

Capital contabilizou 1.078 famílias nessa condição, o maior registro da série histórica iniciada em 2012

 

O número de famílias em situação de rua cadastradas em Campo Grande disparou nos últimos anos, atingindo um patamar inédito em março de 2025. De acordo com dados do CadÚnico (Cadastro Único), a Capital contabilizou 1.078 famílias nessa condição, o maior registro da série histórica iniciada em 2012.

Os imigrantes, são um exemplo, a reportagem encontrou uma família da Venezuela que, com um cartaz na mão, busca auxílio financeiro em um semáforo da Capital. Mesmo diante da situação vulnerável, eles recusam atendimento social e preferem dormir nas ruas. “Nós precisamos juntar recurso para voltar para o nosso país”, explicou a mulher acompanhada de três crianças e mais dois adultos.

Do ponto de vista da assistente social técnico de projetos de OSC (Organização da Sociedade Civil), Lucineide Belintano, a questão sócio-econômica foi um dos principais fatores para contribuir com esse crescimento. “É uma questão sócio-econômica, muitas pessoas foram para situação de rua, e com isso, a família inteira e, infelizmente, o poder aquisitivo também é outro contribuinte forte para essa situação”, comparou.

Foto: Prefeitura de CG

Acolhimento

Procurada pela reportagem, a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) informou que o atendimento a famílias com crianças é feito em unidades específicas em Campo Grande, como a Uaifa I (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias), que possui uma ala separada para esse público. Segundo a secretaria, as crianças não chegam sozinhas aos centros de acolhimento, elas estão sempre acompanhadas de seus responsáveis.

“O acolhimento desse núcleo é muito rotativo. As famílias geralmente ficam apenas um ou dois dias. Depois seguem para casa de parentes ou outros destinos. A característica em comum desse grupo é que esses têm objetivos claros, como encontrar um lar, um emprego, até por isso eles não ficam muito tempo na unidade”, explicou.

Outro espaço é a Casa de Passagem Resgate, destinada a imigrantes, que também recebe famílias com crianças. Porém, a unidade é gerida por uma organização da sociedade civil cofinanciada pelo município, o que dificulta o acesso imediato a informações detalhadas, como o número de crianças acolhidas.

Para ampliar os serviços públicos, o Governo Federal afirma ter intensificado os investimentos no fortalecimento de serviços de acolhimento, como os Centros POP, que oferecem refeições, espaço para higiene, apoio na emissão de documentos e outras atividades essenciais. Também há reforço ao PAEFI (Serviço de Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos), que presta suporte psicossocial a famílias em situação de risco ou com direitos violados.

CadÚnico

Em nota ao jornal O Estado, o MDS (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome) esclareceu que os dados sobre a população em situação de rua referem-se a pessoas cadastradas no CadÚnico, o que possibilita sua inserção em políticas públicas como o Bolsa Família.

Segundo o ministério, essas pessoas, antes invisíveis ao poder público, passam a integrar a rede de proteção social após o cadastramento. “A concessão dos benefícios é feita de forma impessoal e automatizada, assegurando equidade no acesso”, destacou o MDS.

Há pouco mais de uma década, esse número era quase inexistente. Em janeiro de 2012, apenas uma família em situação de rua constava no CadÚnico. Com crescimento gradual nos primeiros anos, veio um número mais expressivo a partir de 2017, quando os registros subiram para 208, e, dois anos depois, mais que dobraram, atingindo 454. Durante a pandemia de covid-19, o avanço se intensificou, com 525 famílias cadastradas em 2020.

Em janeiro de 2023, o número já alcançava 667 famílias. No ano seguinte, em 2024, ultrapassou a marca de mil, com 1.013 registros. No ano passado, em março eram 1.029 cadastros, já no mesmo período deste ano, data do último registro, a Capital atingiu os 1.078, o número mais alto já registrado. Ou seja, houve um aumento de 4% de um ano para o outro.

A tendência se repete em nível estadual. Em agosto de 2012, Mato Grosso do Sul contava com apenas cinco famílias cadastradas em situação de rua. Em dezembro de 2024, o número chegou ao recorde de 1.930, e no dado mais recente, de março de 2025, subiu para 1.972.

O crescimento se acentuou a partir de 2015. No fim de 2014, eram 157 famílias registradas no Estado. Em dezembro de 2019, esse número saltou para 980. O impacto da pandemia também foi significativo, em 2020, já eram 1.103 famílias. Entre 2021 e 2023, o avanço seguiu constante, com 1.545 famílias cadastradas em setembro de 2023.

O Ministério alerta que, desde 2023, o CadÚnico também passa por um processo de qualificação dos dados. Estima-se que, até dezembro de 2022, menos de 60% da base estivesse atualizada. Atualmente, esse índice se aproxima de 90%. Em resumo, os números apresentados pela reportagem podem ser maiores na realidade.

O MDS ressalta ainda que retomou capacitações para os entrevistadores municipais, o que pode ter contribuído para o aumento nos registros, não necessariamente por uma explosão do problema, mas por uma melhor visibilidade da realidade social.

Apesar do avanço na coleta de dados, ainda não há um levantamento específico sobre o número de crianças em situação de rua em Campo Grande ou no Estado. Isso porque, os registros são feitos por núcleo familiar, e não de forma individualizada por faixa etária. Assim, crianças estão inseridas nos dados gerais de famílias em situação de rua, o que impede uma estimativa precisa sobre quantas vivem nessa condição.

 

Inez Nazira e Taynara Menezes

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