Conheça as principais diferenças entre as vacinas oferecidas na rede pública e na particular

Foto: Divulgação
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Especialistas alertam que atualização de vacinação infantil deve ser prioridade no ano letivo de 2025

Em entrevista ao O Estado, o infectologista e pesquisador da FioCruz, Julio Croda, reforçou a relevância das vacinas para a saúde infantil, especialmente no retorno às aulas. O médico enfatizou que é essencial que as crianças estejam com a vacinação em dia para evitar surtos de doenças respiratórias, diarreia e doenças exantemáticas, comuns em ambientes escolares.

“Vacinas como a pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas por hemófilos influenza, são essenciais. A Tríplice Viral, que combate sarampo, caxumba e rubéola, também é fundamental, principalmente para prevenir surtos respiratórios”, afirmou o infectologista.

Croda também destacou a importância de vacinas como a da poliomielite, que eliminou a doença no Brasil, mas permanece uma preocupação global, e a vacina contra a varicela, essencial para a prevenção de surtos escolares.

“Além disso, a vacina da dengue, recomendada para crianças de 10 a 14 anos, é importante, principalmente em períodos de risco elevado de surtos. O retorno às aulas pode aumentar o risco de transmissão de doenças infecciosas, por isso, é necessário que as vacinas estejam em dia para evitar complicações”, alertou Croda.

A pneumopediatra Dra. Jaqueline Pasa Blans Carnelos também conversou com o O Estado e enfatizou que as vacinas são fundamentais para melhorar a imunidade das crianças.

“Antigamente, até queríamos que as crianças pegassem as doenças para já ter a imunidade. Hoje em dia isso mudou, porque os vírus estão cada vez mais agressivos. Se a criança está vacinada, ao entrar em contato com o vírus ou bactéria, ela até pode, na maioria das vezes, contrair a doença, mas a vacina vai evitar que seja uma forma grave. A catapora, por exemplo, tem apresentações graves, assim como a dengue, meningite e pneumonia. A criança vacinada tem menos chance de desenvolver uma doença grave que precise de internação”, explicou a médica.

Diferença das vacinas no SUS x Particular

A pneumopediatra destacou as principais diferenças entre as vacinas disponíveis no SUS e na rede particular. De acordo com ela, na rede particular, as vacinas costumam ter um menor número de doses e de picadas, o que resulta em menos reações e efeitos colaterais, além de uma proteção mais abrangente contra diferentes tipos de vírus e bactérias.

“De forma geral, no particular, vamos ter menor número de doses e menor número de picadas, menos reações, menos efeitos colaterais e maior proteção. O esquema vacinal é mais abrangente, com maior cobertura contra diferentes tipos de vírus ou bactérias”, explicou Dra. Jaqueline. Ela detalhou, por exemplo, a diferença entre a Penta Valente, oferecida pelo SUS, e a Hexa Valente, disponível na rede particular. A primeira protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e influenza, enquanto a segunda, além dessas, adiciona proteção contra poliomielite, tudo em uma única picada.

“A Penta Valente do SUS é administrada separadamente da VIP, a vacina contra poliomielite. Já a Hexa Valente do particular inclui tudo em uma única aplicação. No SUS, a vacina contra a poliomielite é dada em duas picadas aos dois, quatro e seis meses. No particular, são apenas duas picadinhas, com a vacina sendo administrada aos dois e aos seis meses”, afirmou a especialista.

Ela também explicou as diferenças nas vacinas contra pneumonia e meningite. “A vacina pneumocócica disponível no SUS é a 10-valente, enquanto no particular temos a 13, 15 e até a 20-valente, que oferece uma proteção mais ampla”, detalhou Dra. Jaqueline. Já para a meningite, no SUS, a vacina protege contra o tipo C, enquanto na rede particular a vacina protege contra quatro tipos (ACWY) e também contra a meningite B, considerada a mais grave.Vacinas iguais no SUS e no particular:

A vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano) é oferecida tanto no SUS quanto na rede particular, sendo a mesma nos dois sistemas.

Vacinas exclusivas da rede particular:

Meningite: Vacinas contra a Meningo B e ACWY, que protegem contra mais tipos de meningite, sendo a Meningo B a mais grave.
Pneumonia: As vacinas Pneumo 13, Pneumo 15 e Pneumo 20, que oferecem maior cobertura contra diferentes cepas do pneumococo.
Herpes Zoster: A vacina contra o herpes zoster, recomendada principalmente para idosos.
Vírus Sincicial Respiratório: Vacinas contra o vírus sincicial respiratório, recomendadas para bebês, gestantes e idosos, ajudando a prevenir complicações respiratórias graves.

Vacinas exclusivas do SUS:

Vacina contra a BCG (Bacilo Calmette-Guérin) – Esta vacina é oferecida exclusivamente pelo SUS e faz parte do calendário de vacinação infantil, sendo aplicada logo ao nascimento para proteção contra a tuberculose.
Vacina contra Hepatite B (em recém-nascidos) – A vacina contra a Hepatite B é aplicada logo ao nascimento no SUS, sendo disponibilizada de forma universal.
Vacina contra a COVID-19 – É gratuita e disponível a partir dos seis meses, com campanhas contínuas de vacinação.

Calendário Nacional de Vacinação

A rede particular oferece um esquema de vacinação mais abrangente, que exige um investimento considerável, que varia entre R$ 5.500 a mais de R$ 9 mil para crianças de 2 a 18 meses em Campo Grande. Esse valor cobre não apenas as vacinas recomendadas, mas também o monitoramento de possíveis reações adversas, atendimento domiciliar e técnicas para minimizar o desconforto durante a aplicação.

As vacinas oferecidas na rede particular incluem:

• Ao nascimento: Hepatite B, Beyfortus
• 2 meses: Hexavalente, Rotavírus pentavalente, Pneumocócica 13, 15 ou 20
• 3 meses: Meningocócica B, Meningocócica ACWY
• 4 meses: Pentavalente acelular, Rotavírus pentavalente, Pneumocócica13, 15 ou 20
• 5 meses: Meningocócica B, Meningocócica ACWY
• 6 meses: Hexavalente, Rotavírus pentavalente, Pneumocócica 13, 15 ou 20, Influenza (opcional)
• 7 meses: Influenza (opcional)
• 9 meses: Febre amarela
• 12 meses: Tetraviral ou Tríplice + Varicela, Hepatite A
• 13 meses: Meningocócica ACWY – Reforço, Meningocócica B – Reforço, Pneumocócica 13, 15 ou 20 – Reforço
• 15 a 18 meses: Pentavalente acelular, Tetraviral ou Tríplice + Varicela
• 18 meses: Hepatite A
• 4 anos: DTP (Tríplice Bacteriana)+ VIP, Febre amarela, Dengue (Qdenga).
• 5 anos: Meningocócica ACWY – Reforço
• 9 anos: HPV nonavalente (Gardasil), DTPa (Tríplice Bacteriana) reforço.
• 10 aos 19 anos: Meningocócica conjugada (ACWY) reforço, Meningocócica B (2 doses), Dupla Adulto (dT ou dTpa), Influenza (anualmente), HPV nonavalente (se não tomada antes), Febre amarela (se não tomada antes), Tríplice viral (SCR) 2 doses (se nunca tomada), Hepatite A + B 3 doses (se não tomada).

A Dra. Letícia Meyer, médica responsável pela clínica de vacinação Saúde Livre em Campo Grande, destaca que, na rede particular, algumas vacinas estão combinadas em uma formulação mais completa, o que reduz a quantidade de aplicações necessárias. “Com isso, as crianças sofrem menos agulhadas, o que facilita o processo e oferece maior conforto”, explica a médica. Ela também lembra que a atualização do calendário vacinal de 10 a 19 anos está garantida. “Essas vacinas só serão administradas se o paciente não tiver o esquema vacinal completo. Caso contrário, não há necessidade. As vacinas são obrigatórias até os 9 anos, e a vacina da gripe é anual para todos, exceto no primeiro ano de vida, quando é feita a primovacinação (duas doses), com intervalo de trinta dias entre as doses.”

Ela também destaca que, com a volta às aulas, é essencial garantir que as crianças estejam com o calendário vacinal em dia, pois o retorno à escola aumenta o contato entre elas, favorecendo a circulação de vírus e bactérias. Isso pode resultar em mais doenças, como infecções respiratórias, comuns nesta época do ano. Com a proteção vacinal, as crianças se protegem e evitam transmitir doenças para colegas, familiares e irmãos menores, mais vulneráveis.

“Manter as vacinas em dia é essencial para a proteção tanto individual quanto coletiva. Elas não apenas evitam doenças graves, mas também previnem surtos que podem afetar toda a comunidade. Vacinas são um ato de responsabilidade e cuidado com a saúde própria e a das pessoas ao nosso redor. A ciência comprova: vacinas salvam vidas. Garantir a imunização é um compromisso que todos devemos assumir.”.

Em contrapartida, a rede pública por meio de SUS, oferece uma série de vacinas gratuitamente, seguindo o calendário nacional de imunização:

• Recém-nascidos: BCG e Hepatite B
• 2, 4 e 6 meses: Pentavalente, VIP, Pneumocócica 10-valente, Rotavírus
• 3 e 5 meses: Meningocócica C conjugada
• 6 meses: Influenza, COVID-19
• 9 meses: Febre Amarela
• 12 meses: Pneumocócica 10-valente (reforço), Meningocócica C (reforço), Tríplice viral
• 15 meses: DTP (reforço), VOPb (reforço), Hepatite A, Tetra viral
• 4 anos: DTP (reforço), Febre Amarela (reforço), VOPb (reforço), Varicela
• 5 anos: Febre Amarela (se necessário), Pneumocócica 23-valente (indígenas)
• 9 e 14 anos: HPV (para meninas e meninos)
• Adolescentes: Hepatite B, Difteria e Tétano, Febre Amarela, Tríplice viral, HPV (até 14 anos), Meningocócica ACWY (11 a 14 anos)
Sobre os índices de vacinação de crianças e adolescentes em Campo Grande, a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grandenão soube informar se estão dentro da meta de 95% de cobertura preconizada pelo Ministério da Saúde. “Os dados referentes ao ano de 2024 ainda não estão consolidados”, diz a nota.
A Sesau também confirmou que, no momento, está em falta a vacina contra a varicela, mas, que conforme orientações do Ministério da Saúde, ela pode ser substituída pela vacina tetraviral. “Todas as vacinas estão disponíveis nas unidades de saúde da família”, garantem.
“Aguardamos orientações do Ministério da Saúde para início de nova campanha contra a influenza em 2025, ainda sem data confirmada. Acerca da Covid-19, a vacinação está na rotina para crianças de 6 meses a menores de 5 anos e doses de reforço para os grupos prioritários”, revelou a Sesau.
Recomendações e alertas

A pneumopediatra Dra. Jaqueline Carnelos reforça a importância da vacinação, especialmente para crianças com comorbidades como asma. Ela compartilhou o caso de um paciente que, devido à falta da vacina pneumocócica, enfrentou complicações graves de pneumonia, incluindo a necessidade de intervenção cirúrgica.

“Esses riscos existem, e embora não possamos prever quando ocorrerão, a vacina é uma ferramenta de proteção essencial. Pneumonias complicadas, que exigem internações prolongadas e, em alguns casos, cirurgia, são uma realidade nos hospitais anualmente. A vacinação é uma medida eficaz e consolidada”, afirmou Dra. Jaqueline.

Ela destaca que a vacina pneumocócica oferece proteção não apenas contra pneumonia, mas também contra otite, meningite e sepse. A vacina pneumocócica 20-valente, disponível na rede particular, oferece uma proteção ainda maior, sendo administrada em dose única após os dois anos de idade.

“Se você tem condições financeiras, a melhor opção é a vacina pneumocócica 20-valente, que é uma dose única após os 2 anos. Ela oferece proteção muito maior contra doenças graves, e a evidência científica comprova que ela é altamente eficaz. Mesmo para crianças menores de dois anos sem comorbidades, a proteção é muito mais robusta contra doenças graves”, aconselhou a pneumopediatra.

Em relação à meningite, Dra. Jaqueline explicou que a rede pública oferece a vacina meningocócica C, enquanto a rede particular disponibiliza as vacinas ACWY e Meningo B, com um esquema de doses e reforços durante a infância e adolescência. A meningite é uma doença grave que pode afetar pessoas de todas as idades, e a vacinação é fundamental para sua prevenção.

“A meningite afeta todas as idades, e a vacinação é fundamental para prevenir a doença. Se você tem filhos maiores de 11 anos, a vacina ACWY, que protege contra diversos tipos de meningite, está disponível gratuitamente na rede pública. É fundamental que as crianças sejam vacinadas, pois a meningite é uma doença muito grave e pode afetar qualquer faixa etária”, enfatizou Dra. Jaqueline.

Conscientização coletiva: Criança doente não deve ir à escola

Por fim, o infectologista Julio Croda fez um alerta importante sobre a gestão de sintomas respiratórios e diarreicos em crianças. Ele recomendou que, ao surgirem sintomas, as crianças sejam mantidas em casa para evitar a transmissão de doenças no ambiente escolar.

“O reconhecimento precoce dos sintomas é fundamental. A criança deve ser acompanhada por um médico, e em caso de sintomas mais graves, como desidratação ou dificuldade respiratória, deve procurar atendimento especializado. O período de maior transmissibilidade é geralmente entre três a cinco dias após o início dos sintomas”, orientou Croda.

Box – Caderneta de Vacinação

A Caderneta de Vacinação foi criada no Brasil em 1977 com o objetivo de registrar a imunização das crianças e garantir o cumprimento do calendário nacional de vacinas. Em 1983, a Caderneta de Vacinação foi substituída pela Caderneta da Criança, que, além das vacinas, passou a incluir o acompanhamento do crescimento e da saúde geral da criança até os 10 anos de idade.

Até 2024, a Caderneta da Criança se consolidou como uma ferramenta essencial para a saúde pública, registrando vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e servindo como meio de comunicação entre pais, profissionais de saúde e escolas. Recentemente, a caderneta passou a incluir a vacinação contra COVID-19, além de outras atualizações necessárias para garantir a saúde infantil.

Por Suelen Morales 

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