Campanha Nacional de DNA é lançada em MS para ajudar na localização de desaparecidos

Foto: Juliana Aguiar
Foto: Juliana Aguiar

Força-tarefa nacional busca ampliar banco de perfis genéticos e trazer respostas às famílias que vivem na angústia da ausência

 

Foi lançada na manhã desta terça-feira (5), em Campo Grande, a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas. A ação, promovida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) com apoio da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MS), marca o início de uma força-tarefa que se estenderá até o dia 15 de agosto em todo o país.

O “Dia D” da mobilização no estado teve início às 9h, na sede da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com a coleta simbólica de material genético de três familiares de pessoas desaparecidas. O objetivo é ampliar o Banco Nacional de Perfis Genéticos e, com isso, aumentar as chances de identificação de pessoas desaparecidas, inclusive de restos mortais encontrados sem identificação.

Foto: Nilson Figueiredo

Em Mato Grosso do Sul, a campanha é conduzida pela Polícia Civil, por meio da DHPP, e pela Polícia Científica, via Instituto de Análises Laboratoriais Forenses (IALF). Até agora, duas pessoas já foram identificadas no Estado com o auxílio da comparação de perfis genéticos, um avanço que demonstra o potencial da ciência forense na elucidação de casos antigos.

Josemirtes Braga da Silva – Foto: Juliana Aguiar

Josemirtes Braga da Silva, diretora do IALF, explicou que o DNA coletado dos familiares é processado, gerando um perfil genético que é inserido no banco nacional. Esse perfil é cruzado com informações de todo o país. Quando há coincidência com algum material genético não identificado, é emitido um relatório que permite confirmar a identidade e notificar a delegacia responsável.

“Na campanha do ano passado, conseguimos identificar duas pessoas aqui em Campo Grande. A cada nova campanha, mesmo com poucos casos em aberto, conseguimos avançar. É uma ferramenta essencial para dar respostas às famílias”, ressaltou Josemirtes.

A diretora do IALS destacou que a partir de amanhã (6), as coletas serão feitas no Instituto de Análises Laboratoriais Forenses, localizado na na Avenida Senador Filinto Miller, 1530, na Vila Ipiranga.

Dor e resistência das famílias

Entre os familiares que compareceram à coleta está Vanilton Braga, de 62 anos, que busca o pai, Heitor Teodoro Braga, de 84 anos, desaparecido desde 10 de maio em Ribas do Rio Pardo. O idoso tem Alzheimer e, segundo o filho, desapareceu em questão de minutos durante um momento de distração.

Foto: Juliana Aguiar

“Ele estava vestido direitinho, de social, com boné. A gente acredita que pode ter pegado carona com alguém. Mas ele tem Alzheimer avançado e, com 10 minutos, começa a se desorientar. Não sabemos como desapareceu. Essa campanha é uma esperança, mesmo que a gente não queira pensar o pior. O importante é saber, ter uma resposta”, desabafa Vanilton.

Foto: Juliana Aguiar

Outra participante da campanha é a dona de casa Marlene da Silva, de 78 anos, que procura o marido, Antônio Gomes da Cunha, de 79 anos, desaparecido desde 16 de fevereiro no bairro Aero Rancho, em Campo Grande. Antônio havia sofrido um acidente e estava em recuperação, mas frequentemente dizia que “sumiria” de casa. O filho de dona Marlene também compareceu para realizar a coleta de material, para ajudar na busca pelo pai.

“No dia que ele desapareceu, achei que logo voltaria. Depois disseram que viram ele numa lanchonete, mas não conseguimos confirmar. A coleta de DNA me dá esperança. Quero encontrar ele, seja como for”, afirmou.

De acordo com o delegado Rodolfo Daltro, da DHPP, entre 1º de janeiro e 1º de agosto deste ano, foram registradas 295 ocorrências de desaparecimento em Campo Grande. Destas, 55 ainda estão em aberto, mas apenas nove pessoas continuam efetivamente desaparecidas.

O delegado explica que muitos registros não são atualizados após o reencontro da pessoa com a família, ou a própria família se muda sem informar a polícia. O perfil das pessoas desaparecidas em Campo Grande aponta que 60% são homens com idades entre 20 e 40 anos, e 80% dos casos estão relacionados ao uso de drogas e álcool.

A preocupação com o desaparecimento de idosos tem aumentado. Cerca de 90% desses casos envolvem pessoas com algum problema de saúde, especialmente Alzheimer. “São casos que exigem uma busca ainda mais imediata e delicada”, destaca Daltro.

Foto: Nilson Figueiredo

Atuação da polícia e importância da denúncia

A DHPP mantém um setor especializado em pessoas desaparecidas, que atua com rapidez desde o registro da ocorrência. As ações incluem contato com hospitais, cruzamento de dados com a Assistência Social e operadoras de telefonia, além da consulta a bancos de dados de outros estados.

“A maioria dos casos termina com o reencontro e retorno da pessoa à família. Neste ano, apenas um óbito foi registrado. A colaboração da população é essencial, especialmente no fornecimento de material genético”, reforça o delegado.

O apelo da DHPP é para que familiares registrem os desaparecimentos com o máximo de detalhes, por meio de fotos, histórico da rotina, hábitos e, sempre que possível, itens pessoais que possam conter material genético, como escovas de dente ou cabelo.

Serviço
A campanha de coleta de DNA segue até o dia 15 de agosto em Campo Grande e demais regiões do estado. Familiares de pessoas desaparecidas podem procurar a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para fornecer o material e colaborar com a identificação.

 

Com colaboração da repórter Inez Nazira

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