Baixa qualidade do transporte público tem favorecido às corridas de aplicativo

Foto: Marcos Maluf
Foto: Marcos Maluf

Com passagem custando R$ 4,95 e veículos cada vez piores, app’s estão sendo a “salvação” dos usuários

A equipe de reportagem do Jornal O Estado acompanhou a mobilização realizada na quarta-feira (29), pela revogação do aumento no preço da tarifa do transporte público. Fato que chamou a atenção é que muitos dos trabalhadores e estudantes ao chegarem no Terminal Morenão por volta das 18h e perceberem que os ônibus já tinham saído, chamavam os motoristas de aplicativo para conseguir chegar em casa de forma mais rápida.

Há dois anos, Cainã Corrêa de Oliveira trabalha como motorista de aplicativo e confirma que a precariedade do transporte público é um dos fatores que influencia no maior número de corridas em Campo Grande.

“Tem muita gente que prefere o Uber por ser mais barato ou até quase o mesmo valor de uma passagem de onibus, sem contar na rapidez e no conforto, principalmente nos finais de semana, quando o transporte publico demora muito. Além disso, no domingo e final de semana as pessoas não conseguem ter um controle do horário que o ônibus passa, então elas preferem o app, até mesmo, para sair do trabalho e ir até o terminal”, disse.

Outra vantagem apontada pelo motorista é que os apliacativos possuem vantagens que vão além da comodidade durante o trajeto e que impactam diretamente na competitividade do serviço com o transporte público.

“Os aplicativos estão dando muitos descontos para as pessoas que estão sempre utilizando o sistema, então as vezes por apgar no pix a viagem sai de graça, o app vai dando essas bonificações, troco e bonus e se você for ver o preço da passagem de onibus está quase o mesmo de uma valor de app curta”, destacou.

A mudança os hábitos tem sido uma realidade em todas as cidades brasileiras. Um levantamento da CNT (Confederação Nacional de Transporte) realizado no ano passado já confirmou a tendência da população pelos carros e motos de aplicativo. Segundo a análise 30,9% dos entrevistados utilizavam os ônibus como meio de transporte principal. Embora o número seja expressivo, ele já foi substancialmente menor em relação à edição anterior da pesquisa, realizada em 2017. Naquela época, o uso de ônibus foi registrado por 45,2% dos participantes.

Em contrapartida, o uso de serviços de transporte por aplicativo aumentou nesse comparativo. No levantamento de 2017, apenas 1% dos entrevistados revelou usar serviços como Uber e 99 regularmente. Na pesquisa de 2024, essa proporção aumentou para 11,1%.

O campo-grandense Willian Alves, 42 anos, que solicita o serviço da Uber com frequência, diz que optar pelo aplicativo é priorizar a agilidade. Segundo ele, o transporte público da Capital se torna uma opção exaustiva para a população devido à lotação, demora e desconforto. No entanto, de acordo com Willian, o aplicativo é o mais solicitado não por preferência da população, mas por falta de investimento no transporte público.

“A moto, ela acaba sendo, sim, mais rápida, mais ágil, mas não mais segura. O ônibus acaba demorando muito mesmo, por isso que os passageiros fazem essa opção de ir ao moto Uber. O preço é barato e é rápido, mas não confortável e mais seguro. O final de semana os pedidos são menores, porque os ônibus demoram mais, mas só que ele acaba sendo mais rápido porque está mais vazio, não tem passageiro. Mas a escolha é sempre em busca de agilidade. Uma alternativa a isso poderia ser o poder público investir mais no transporte público, melhorar na agilidade do transporte,” explica.

A Confederação Nacional dos Transportes indicou ainda que com base nos resultados obtidos é possível que essa evolução seja um dos fatores que contribuem para a substituição de um meio por outro, uma vez que, neste ano, 56,9% dos entrevistados confirmaram que deixaram de usar totalmente o ônibus (29,4%) ou diminuíram o uso (27,5%). Além disso, essa modalidade vem ganhando espaço na população de baixa renda. Quando se analisam os perfís sociais, dentre as pessoas que substituíram o ônibus pelos aplicativos de transporte, 56,6% pertencem à classe C; e 20,1%, às classes D ou E.

Por Michelly Perez e Ana Cavalcante

 

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