Violência no Brasil atinge menor taxa de homicídios em 31 anos, aponta Atlas da Violência

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em 2023, país registrou 45,7 mil mortes violentas; armas de fogo foram responsáveis por mais de 70% dos casos

A violência letal no Brasil segue em queda e atingiu, em 2023, o menor patamar em mais de três décadas. Dados do Atlas da Violência 2025, divulgados nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostram que 45.747 pessoas foram mortas de forma violenta no país no último ano — uma média de 125 por dia. O número representa uma leve redução em relação a 2022, quando foram contabilizados 46.409 homicídios.

Embora a queda anual tenha sido modesta, o levantamento revela uma tendência contínua de redução dos homicídios no país. Desde 2013, quando 57.396 pessoas foram assassinadas, a queda foi de 20,3%. O pior ano da série histórica foi 2017, com 65.602 mortes. Já o menor até então havia sido 2019, com 45.503 casos, marca que quase se repete em 2023.

Com base em dados de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Saúde, o estudo também apresenta o indicador proporcional: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Em 2023, esse índice ficou em 21,2, o mais baixo desde que o Atlas começou a ser produzido. Em 2022, a taxa era de 21,7, e o pico foi registrado em 2017, com 31,8 homicídios por 100 mil.

Para o coordenador do estudo, o pesquisador Daniel Cerqueira, a redução não é apenas recente. “Apesar do número exorbitante de mortes, trata-se da menor taxa de homicídios que o Brasil atingiu nos últimos 31 anos”, afirma.

Segundo Cerqueira, dois fatores ajudam a explicar essa tendência. Um deles é o envelhecimento da população, já que jovens estão mais associados tanto ao cometimento quanto à vitimização por violência. “O que nós sabemos das evidências científicas é que um ator importante, seja como vítima, seja como o perpetrador nesse drama da violência é o jovem. Quando a população envelhece, isso provoca uma maré a favor de redução de homicídios”.

O segundo fator apontado pelo pesquisador é o que chama de “revolução invisível”: mudanças nas políticas de segurança pública, com adoção de práticas baseadas em inteligência e planejamento. “Uma polícia inteligente em vez da polícia da brutalidade”, define. Ele destaca ainda o papel de políticas sociais integradas, que buscam oferecer alternativas ao crime, especialmente para jovens em áreas vulneráveis.

O Atlas também revela diferenças entre os estados. Em 2023, 20 unidades da federação registraram taxas de homicídio superiores à média nacional. Amapá (57,4), Bahia (43,9) e Pernambuco (38) lideram esse ranking negativo. Já os menores índices foram encontrados em São Paulo (6,4), Santa Catarina (8,8) e Distrito Federal (11). Apesar disso, 11 estados vêm reduzindo sistematicamente suas taxas há pelo menos oito anos, como Minas Gerais, Paraíba, Goiás e Espírito Santo.

O levantamento chama atenção também para a influência das armas de fogo nos homicídios. Das 45.747 mortes violentas registradas, 32.749 foram causadas por esse tipo de armamento — o equivalente a 71,6% do total. A taxa nacional de homicídios por armas de fogo foi de 15,2 por 100 mil habitantes. Amapá (48,3), Bahia (36,6) e Pernambuco (30,8) concentram os maiores índices. Em contraponto, São Paulo (3,4), Santa Catarina (4,4) e o Distrito Federal (5,3) tiveram os menores.

O estudo aponta falhas na fiscalização e reforça a relação entre o aumento na circulação de armas e o crescimento da violência. “Quanto maior a circulação e a prevalência de armas de fogo, maior tende a ser a taxa de homicídios”, afirma o relatório.

Outro dado relevante do levantamento diz respeito aos chamados “homicídios ocultos” — casos violentos que não são corretamente identificados nos registros oficiais. Entre 2013 e 2023, estima-se que 51.608 homicídios tenham ficado fora das estatísticas, uma média de 4.692 por ano. Com esses casos incluídos, a taxa estimada de homicídios em 2023 sobe de 21,2 para 23 por 100 mil habitantes. Mesmo com esse acréscimo, o índice continua sendo o menor da série histórica.

A inclusão desses casos altera significativamente os rankings estaduais. São Paulo, por exemplo, deixou de registrar 2.277 homicídios em 2023, o que eleva sua taxa real estimada para 11,2 por 100 mil habitantes — o dobro do índice oficial. Com isso, o Estado perde o posto de menos violento do país para Santa Catarina, que, mesmo com os ajustes, apresenta taxa estimada de 9.

 

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