levantamento mostrou resultados inéditos de pesquisas sobre bets, cigarros eletrônicos, medicamentos e consumo de substâncias entre vítimas de morte violenta
O Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas realizou um levantamento inédito que mostra que mais de um terço das pessoas que participam de jogos de apostas (38,6%) enfrentam algum grau de risco ou transtorno relacionado ao vício. Os adolescentes são o grupo mais vulnerável: 55,2% dos apostadores na faixa etária de 14 a 17 anos estão nessa zona.
Os jovens se destacam também no uso de dispositivos eletrônicos de fumar (DEFs), conhecidos como cigarros eletrônicos ou vapes. O objetivo do observatório tem como objetivo reunir dados para orientar ações do Governo Federal. Esses dados inéditos podem ser acessados no site site da plataforma.
A plataforma é responsável por centralizar informações, subsidiar políticas públicas, promover a integração interinstitucional, disseminar conhecimentos sobre substâncias e incentivar práticas inovadoras. A ferramenta reúne pesquisas, estudos e legislações sobre o tema, e parte das informações estará disponível para acesso público.
“O Obid se encaixa nessa filosofia de compartilhar dados publicamente com a sociedade para que ela possa se integrar nessa luta e melhorar a situação não somente da segurança, mas também da saúde pública em nosso país”, declarou Lewandowski
Durante o lançamento também foram apresentados dados sobre uso de medicamentos. A quantidade de brasileiros que já fez uso de analgésicos opioides (medicações potentes para tratar a dor), benzodiazepínicos (calmantes) e estimulantes aumentou. Nos três casos, o crescimento foi mais acentuado entre a população feminina.
O centro de dados foi instituído pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, na quarta-feira (26), em evento no Palácio da Justiça, em Brasília (DF).
O ministro destacou que o combate ao uso de drogas é um dever do Estado, mas também uma responsabilidade de toda a sociedade. Ele também ressaltou a importância de atacar o problema de forma integrada, com o apoio da ciência.
A secretária Nacional de Política sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), Marta Machado, afirmou que o lançamento do Obid reforça o compromisso com a formulação de políticas baseadas em evidências. Segundo ela, a ausência de dados estruturados e acessíveis têm sido um desafio para a formação de estratégias e políticas públicas eficazes.
“O Obid vem preencher essa lacuna, reunindo e centralizando estudos e informações sobre drogas do ponto de vista da saúde, dos comportamentos, da justiça e da segurança pública, proporcionando conhecimento atualizado e confiável para gestores, pesquisadores e para toda a sociedade”, disse a titular da Senad
Lenad
As informações inéditas sobre bets, DEFs e medicamentos, já disponíveis no Obid, estarão no Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III), que está previsto para ser divulgado na íntegra em junho, durante a Semana Nacional de Políticas sobre Drogas. O estudo foi coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com financiamento da Senad, para mapear padrões de consumo e comportamentos associados ao uso de substâncias no Brasil.
O documento traz dados comparativos de 2006, 2012 e 2023 e abrange 16 mil pessoas classificadas como adolescentes (de 14 a 17 anos) e adultos (a partir de 18 anos). As informações estão divididas em quatro painéis de visualização: prevalência, saúde, segurança pública e justiça criminal.
Jogos de aposta
Em relação aos jogos de apostas, os adolescentes são o grupo mais vulnerável, com 55,2% dos apostadores na faixa etária entre 14 e 17 anos na zona de risco ou transtorno relacionado ao vício.
Considerando o último ano, 10,5% dos adolescentes dizem que jogaram. O porcentual é de 18,1% entre os adultos. O Sul é a região dopPaís com maior atividade nesse período. Na sequência, estão Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste.
Um dado curioso é que os sites de apostas on-line já superam o jogo do bicho em popularidade.
Dispositivos eletrônicos para fumar
O novo fenômeno dos DEFs, conhecidos como cigarros eletrônicos ou vapes, é outro ponto de alerta. O Lenad mostra que 77,6% dos usuários afirmam que esses produtos não os ajudaram abandonar os cigarros tradicionais.
O estudo mostra ainda que a maior parte dele é adolescente, em todos os cenários analisados: no último mês, no último ano e na vida. Além de liderarem o consumo no último ano, 12% das mulheres adolescentes já usaram o dispositivo em algum momento.
Apesar do maior uso dos dispositivos entre o público adolescente, a idade média de experimentação é de 24 anos.
Entre os jovens usuários de vapes, 31,8% consumiram o produto no último mês. Considerando o público adulto, o porcentual cai para 25,2%.
Medicamentos
Em relação aos medicamentos, segundo o Lenad, o percentual da população brasileira que já fez uso de analgésicos opioides cresceu nove vezes em uma década, passando de 0,8%, em 2012, para 7,6%, em 2023. O aumento de uso foi ainda maior entre as mulheres, saindo de 1% entre o público feminino, em 2012, para 8,8%, em 2023.
O estudo mostra que o uso de medicamentos controlados em geral, considerando benzodiazepínicos e estimulantes, cresceu especialmente entre o público feminino. Entre os homens, o uso de opioides passou de 0,5%, em 2012, para 6,3%, em 2023.
Além do uso de opioides, a pesquisa mostra crescimento na utilização de calmantes e de estimulantes e anfetamínicos. O porcentual da população que utilizou a classe de benzodiazepínicos passou de 9,8%, em 2012, para 14,3%, em 2023.
O uso desses medicamentos é maior entre as mulheres e, em 2023, correspondia a 17,4% desse público. Enquanto isso, o porcentual de homens que fez uso desse tipo de medicamento é de 10,9%.
Em relação aos estimulantes, o porcentual de pessoas que já fizeram uso desses medicamentos passou de 3,1%, em 2012, para 4,6%, em 2023. Nesse caso, a utilização também é maior entre as mulheres (4,8%) em comparação aos homens (4,3%).
Projeto Tânatos
O projeto Tânatos, também apresentado nesta quarta-feira, é uma pesquisa inédita da Faculdade de Medicina da USP, com dados de 2022 a 2024, com financiamento da Senad. O objetivo foi investigar o consumo de substâncias psicoativas entre vítimas de morte violenta em diversas cidades do país. Foram considerados homicídios, suicídios e sinistros de trânsito. A pesquisa analisou a presença de álcool, cocaína, cannabis e benzodiazepínicos nessas vítimas, a partir de amostras de sangue post-mortem coletadas nos Institutos Médicos Legais.
Em 50,1% das vítimas foram encontradas, pelo menos, uma substância psicoativa. A cocaína estava presente em 26,7% das vítimas e o álcool em 26,2% — muitas das vítimas apresentavam o uso das duas substâncias. Já a cannabis não apresentou correlação estatística significativa entre seu uso e o evento de morte violenta, com menos de 2% de prevalência entre as vítimas.
Entre as vítimas de trânsito, embora não seja possível identificar se a vítima era condutora, passageira ou pedestre, chama a atenção que 38% delas tenham apresentado o consumo de álcool no momento anterior ao fato.
Com informações do Governo Federal.
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