Putin, um novo Stalin?

Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal
Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal

(Por LANDES PEREIRA). Os comentaristas, conhecedores da geopolítica e da geoestratégia do leste europeu desde os tempos da URSS, procuram entender o que Putin pretende com a insana invasão da Ucrânia e o desencadeamento de uma guerra de “terra arrasada”. Não há resposta aceitável, dizem. Talvez o questionamento deva ser outro: por que ele massacra impiedosamente um povo quase irmão que, aparentemente, sempre esteve ao lado dos russos?

No passado, quando os meios de comunicação não eram tão ágeis como os de hoje, as atitudes de Joseph Stálin (homem de aço) também foram incompreendidas como as de Vladimir Putin na atualidade. Distanciados no tempo, os historiadores entendem o porquê de tantos dramas acontecidos sob o firme  comando stalinista, muitas vezes contrariando as decisões do alto comando soviético.

Joseph Stálin não era russo (genuíno), nasceu em Gori, na Geórgia (que lutava contra a russificação da região), no Cáucaso, em 1879. Seus pais, Vissarion (sapateiro) e Ekaterina (lavadeira), eram servos da gleba alforriados.

Stálin era excepcionalmente inteligente e foi aceito, aos nove anos de idade, no Seminário Eclesiástico de Gori. Deixou o seminário e, revoltado contra as desigualdades sociais, tornou-se um revolucionário de todos os movimentos de seu tempo, sendo implacavelmente perseguido pela polícia. Em 1905 participou da Primeira Revolução, ao lado de Lenin. Preso e deportado por sete vezes, participou da Revolução de 1917 e substituiu Lenin depois de 1924.

Stálin participou da Conferência de Ialta, em 1945, e depois da Conferência de Potsdam, confirmando a divisão do mundo. De 1945 a 1948 incorporou a Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária à URSS. Morreu em 1953, sendo substituído por Malenkov e, logo depois, por Kruchtchov, que iniciou a desestalinização do Estado soviético.

Vladimir Putin nasceu em Leningrado em 1952 e fez carreira nos serviços secretos soviético e russo (KGB e FSB), chegando à patente de tenente-coronel. Se aposentou em 1991, passando a fazer parte do governo de Boris Iéltsin. Em 1999, tornou-se presidente interino; em 2000 foi eleito presidente e reeleito em 2004; primeiro ministro em duas oportunidades: 2008 e 2012. Foi responsável por reformas militares e policial de larga escala; tornou a Rússia uma superpotência em energia; procedeu a construção de oleodutos e gasodutos, além de fazer a restauração do sistema de navegação por satélite e a construção de infraestrutura para eventos internacionais.

Putin goza de popularidade interna, mas internacionalmente é chamado de ditador sanguinário devido às suas ações truculentas quando no poder. Com ele a Rússia mudou as relações com os EUA e a União Europeia,  adotando postura mais independente caracterizada pela política de não intervenção. A invasão militar em larga escala na Ucrânia, provocou um acirramento da represália do mundo contra a Rússia, igual ao acontecido no século passado contra a União Soviética.

A violenta “operação militar” contra a Ucrânia provocou, também, violenta e traumática “operação de sanções econômicas” contra a Rússia. As consequências dessa guerra ainda são imprevisíveis. Putin, ao que parece, quer estabelecer o controle sobre uma faixa terrestre ligando Donbass (leste russófono) à Criméia (península que foi anexada em 2014). Entretanto, isso poderá acarretar uma longa e feroz “guerra de guerrilha” na região em conflito.

Por outro lado, as consequências das sanções econômicas, também ao que parece, não foram devidamente avaliadas uma vez que o bloqueio dos bancos russos no sistema bancário global, o congelamento de cerca de dois terços das reservas russas em moeda estrangeira, a revogação de tratados de comércio com Moscou, a proibição de voos das companhias russas em territórios ocidentais, a restrição da venda de petróleo e gás, a proibição de exportações de componentes de alta tecnologia para a Rússia, entre outras, poderá funcionar como um enorme bumerangue sobre a economia ocidental. Sinais de inflação e recessão já são observados.

Landes Pereira é Economista, professor titular aposentado da UFMS e membro da UBE-MS.

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