“Por una ética de la proximidad: o nosotros y otros” foi título de conferência que proferi recentemente na Universidad Nacional de Concepción. Essa “questão”, também agora, tem me atravessado e me colocado constantemente a pergunta: nós, aqui no Mato Grosso do Sul, nos vemos habitando um “território comum”, mesmo que marcado por escalas múltiplas, locais a globais, sociais e econômicas, culturais e políticas e tantas e tantas outras?
Sim, obviamente, a expectativa de um “território comum” precisa ser melhor nuançada, e aqui tentarei me aproximar dela contando duas experiências de visitas realizadas nos últimos meses.
Em uma, passei boas horas em área Guarani-Kaiowá, entre Dourados e Caarapó, com a liderança e sua parentela. Ali, busquei aprender um pouco de seu jeito de viver em um território minúsculo, entre uma grande propriedade, um pequeno rio e uma estrada de terra. A liderança, misturando português com guarani, discorreu, andando pelo lugar, sobre seus mais de cem anos, em mobilidades de um para outro lugar, espremidos por “territórios estranhos” muito diferentes daquele de seus antepassados. Mesmo assim, sabia que um dia o “território do bem-viver” viria de novo, “soprado” de sua ancestralidade. Em um dado momento mostrou um saraquá, tipo de lança de madeira que usa para furar o chão, depositando sementes de milho formando a “kokue” (roça) – e nas palavras algo assim me chegava: “meus filhos e netos precisam saber que esta terra sempre precisará de nós!”
Em outra, passei também boas horas em média propriedade de produção de soja e milho (mas não só), entre Dourados e Rio Brilhante, junto com o produtor, família e amigos. Ali, também busquei aprender um pouco de seu jeito de viver, em terra entre outra propriedade (talvez até outras), um pequeno rio e uma estrada/rodovia asfaltada. Com seu jeito simples e sempre preocupado em me acolher gentilmente, discorreu, também andando pelo lugar, suas várias décadas ali, sua vida e trabalho antes, sua passagem de empregado para proprietário e suas experiências de produção naquele “território próximo”. Explicou-me com precisão cada tipo de produção, viabilidades e riscos, experimentações que deram certo ou não, a responsabilidade financeira e ambiental… Em um dado momento, então, mostrou, retirando um pequeno tablado em meio à plantação, duas mangueiras dispostas quarenta centímetros abaixo do chão e distantes um metro da outra, parte de um sistema de irrigação de quase 2 milhões de metros de rede, em mais de centena de hectares – um pouco adiante, disse mais ou menos assim: “a terra não é nossa, não é minha, não é tua; a terra é um lugar que temos emprestado de nossos filhos, e por isso precisamos cuidar dela para que, quando a devolvermos, seja ainda uma terra boa”!
Duas andanças, duas histórias, dois lugares: um “território comum”? Um dos maiores desafios sul-mato-grossenses parece-me ser o de nos colocarmos à disposição para o encontro – uma “ética da proximidade” – mesmo em meio/território marcado por distanciamentos, contrastes, desigualdades e contradições. Nossas humanidades, múltiplas, exigem isso de nós! Demo-nos todas e todos a coragem para uma visita, uma conversa e um “Até logo”, para que outros encontros persistam em cada canto de nosso Mato Grosso do Sul – como junto ao nosso “I Congresso Estadual de Ciências Humanas de Mato Grosso do Sul – Cartografia das Ciências Humanas no MS: avanços e desafios”, a ser realizado nos dias 21 e 22 de novembro, na UFGD, para o qual estão todos convidados, rumo a um território comum para as humanidades em MS.
Jones Dari Goettert
Reitor UFGD. Email: [email protected]