Artigo: Quais as nossas próprias batalhas?

Foto: Reprodução
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Não é ilógico pensar nem sentir compaixão por situações de sofrimento alheio, quando da ocorrência desses eventos, não raro espetacularizados pela mídia em redes sociais, em TVs ou sistemas de transmissão de comunicação dirigida, o que assistimos por primeiro é a demarcação do espectro político de quem apresenta a notícia, desumanizando vítimas, abrindo o campo de debate para o senso comum e minimizando o contexto de historicidade envolto no quadro apresentado.

Variações das mais absurdas possíveis passando desde questões caras a medicina, a psicologia e psicanálise como a questão do suicídio, desde procedimentos diplomáticos relacionados a conflitos armados, relações geopolíticas ou econômicas. O cidadão comum com acesso à informação tornou-se um perigoso aparato de sustentação de pessoas desprovidas de síntese da realidade ou de capacidade de processar de forma lógica as informações que recebe.

Nesse grande pandemônio comunicativo tornamo-nos especialistas em vários nadas, não sei sobre a formação básica do Oriente Médio, qual a composição ou origens de seus povos, suas religiões seus processos constitutivos de Estado, suas justificativas para lutas armadas, seu desejo de extermínio fundamentalista, mas ouvi na mídia que certo grupo é terrorista e o pessoal do meu partido diz que é, então basta! Inimigas e terroristas são as crianças do outro lado, as do meu conceito são vítimas, então bombas nas outras e loas as minhas.

Dessa forma simplória nos acostumamos a ver que o mundo é mais simples, não demanda leitura, estudo ou entendimento vem pronto e eu só reproduzo, na empresa, no clube, no bar, na igreja. Deus quer assim! Foi-me revelado, então está correto. De fato a mediação entre o mundo e o mando não cabe a mim, cômodo, né? Dispensável pensamento em contrário, mesmo porque o parâmetro fora desse sentido seria motivado por fatores não corretos, ideologia de esquerda ou gente que não tem Deus no coração.

Levar a vida sem esforço está nos nossos mais profundos desejos, pois iniciamos a semana pensando no final dela, temos filhos sem pensar que eles nos darão trabalho, que vamos ficar noites sem dormir por suas cólicas, dores de ouvido, infecções de garganta, que ao se tornarem adolescentes, novamente, nos deixarão sem dormir até chegarem da balada. Fantasiamos de maneira inocente que por causa do discurso do padre ou do pastor referendado em versículos bíblicos, teremos ou seremos o parceiro perfeito, ledo engano.

Ah como é difícil cumprir esse papel reservado a nós, adultos. Temos que diariamente fazer a leitura do mundo e das relações humanas, por mais restritas que elas sejam, só o motorista do ônibus, quatro ou cinco colegas de trabalho, a monitora que recebe meus filhos na porta da escola, meu chefe chato e mal-humorado, com suas piadas manjadas de segunda-feira, baseando todo o equilíbrio do universo na derrota do seu time de futebol que perdeu de novo no domingo.

Assim seguimos a vida, entre uma guerra na Europa e um boleto vencido, entre a necessidade do transporte coletivo não atrasar e a abertura de um corredor humanitário em Gaza, entre a expectativa da liberação do embargo a carne de frango brasileira pela China e a possível vitória de Javier Milei na eleição argentina no primeiro turno, seguimos falando de tudo, na maioria das vezes, sem entender nada!

Por Silvio de Oliveira, Licenciado em história pela UFMS, pós-graduado em gestão escolar e professor da Rede Municipal de Campo Grande MS.

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