Artigo: Narcisismo e crítica

Rodrigo H. Maran
Foto: Arquivo

“Condenado a ser tão belo que encantava as ninfas, homens e todos, como filho de deuses que era, não poderia, ademais, enxergar o próprio rosto, mas todas as mulheres que tinham sido por ele rejeitadas, pediram ao deus do Olimpo que o condenassem a uma maldição… Narciso tropeça numa poça de água e ao se levantar do chão observa seu rosto e se torna completamente apaixonado por si mesmo, ao ponto de cometer suicídio por não poder possuir a si mesmo…”.

Esse é drama daquele que admira por demais a própria imagem, as pessoas que cultuam a si mesmas em demasia. Dizem que o “pecado dos pecados” seja a vaidade, e ela ao extremo nos coloca nessa “maldição” – o amar a si mesmo, muito mais do que o próximo. Um egoísmo, egocentrismo, crença profunda em “sua superioridade” e, nessa competição com os outros com os mesmos traços só pode dar em grande sofrimento, para si e para os ao redor.

Narcisistas são pessoas com baixa empatia, tem grande sentimento de seres “especiais”, carregam em si forte desejo de terem “evidência na sociedade”, cultuam o corpo, a inteligência, são grandes ambiciosos, manipuladores, invejosos. A competição junto com os demais os torna pessoas difíceis de se conviver, sempre em busca de prazeres, do ouro, quem os desafia, “perde o couro”.

Mas como pode? Nos tornamos cada vez mais e mais, assim… Os políticos, buscando notoriedade, poder; os jogadores de futebol, estrelas do mundo, ostentando carros, luxo; os músicos, com tanta droga, revolta que nos impressiona, e sim! – Nos encanta! O narcisismo é típico dos encantadores, pessoas que influenciam o mundo, dos homens, jovens e crianças. Nossa sociedade de consumo, status, ostensiva, o mundo das celebridades, raros e poucos não se caracterizam como vaidosos crônicos e se safam nesse todo os religiosos, que apesar dos pesares ainda se mantêm em contato com a humildade, a tolerância e uma negação de si mesmo (que para mim é o antídoto mais eficaz para este amor por nós mesmos…). Saibam que não sou religioso, tenho muita birra e indignação pela forma que se realiza uma conversão, que nos amordaça, inibe, reprime, mas esta devoção, ao amor por Deus, ao próximo, a escolha pela humildade, a bondade, que encontramos nas igrejas, independente dos líderes religiosos e seu caráter, muitas vezes mundano… O que digo é que reflexões da filosofia ou das análises sobre as personalidades do mundo “torna-te aquilo que tu és”, “o poder é a melhor escolha”, “Aceita- -te a ti mesmo”, “não existe um Deus se não o homem”, é fácil perceber “os desenganos” aos quais nos submetemos quando escolhemos fazer “nossas vontades”, “desejos” e justificar nossa vaidade “num mundo corrompido”, um mundo de negócios “em que o dinheiro nos é a resposta divina”. Sim, a busca irracional por sucesso… Os traços do narcisismo estão em todos. Ao tornarmo-nos complacentes com nossos desvios, justificar, em nome da família, uma inescrupulosa maneira de conduzir nossos trabalhos, dizendo que “tudo vale a pena se não formos pequenos”, bem, é de duvidar que estejamos nos dirigindo à sabedoria.

As redes sociais estão corrompendo nossos jovens; seguidores e curtidas nos dão a sensação de superioridade ou de inferioridade, nossas postagens estão sempre expondo nossa vida dum ângulo em que status, riqueza e beleza advogam para nos justificar perante um mundo frio, sem contato, sem calor humano, sem amizades, tudo parece “líquido”, as relações duram alguns encontros, o sucesso do casal está em ostentar sua casa, suas viagens, todos estão preocupados demais “competindo”, sem que algo pareça a razão disso…

É dito também sobre Narciso que num lago viu sua imagem e mergulhou nas águas sem saber nadar, para “pegar” sua imagem refletida e morreu afogado..

Jovens… Bebidas caras, tênis da moda, baladas, carros, roupas, muitos treinos na academia, muitos gastos além de sua possiblidade. Enfim, meus amigos, não sou o dono da verdade, minha manifestação nesta coluna pode ser algo óbvio, mas fato é que não quero ver meus dois filhos, Levi e Benjamim, seguindo este caminho – imposto pelo homem para sua própria derrota.

A humanidade passou a cultuar suas próprias conquistas. A chegada à Lua, a bomba atômica, o design, a arquitetura, suas máquinas, inteligência artificial, economia, organização social, dinheiro, e o que este pode nos trazer: beleza? Diz um escritor, acredito ser Dostoiévski que “a beleza vai salvar o mundo”.

Mas pergunto, onde está a beleza na superficialidade, no descaso pelas desigualdades, nos padrões elitistas, na corrida sem escrúpulos pelo reconhecimento de nossas existências pessoais? Sinto um drama, convivo com uma tragédia, meus amigos estão todos perdidos numa sensação profunda de que a vida esta passando e as respostas que os redimiria não surgem, não são compreendidas, digo, da Verdade, esta que “redime” e precisamos somente disso, “nos redimir”. Ter a certeza de que, muitas vezes, a paz, a fraternidade, a lealdade e a ciente vontade de fazer um mundo melhor existe e mais do que o poder, as respostas se encontram no “profundo deste amor e reconciliação”. A paz.

Paz e Bem, dizem os Franciscanos.

Eu aprecio isso e vou caminhar, cultuando as criações, e criaturas de Deus. Onde as pessoas querem chegar?

Por Rodrigo H. Maran, Filósofo e poeta, Instagram – @bartolomeu.escritor 

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