Artigo: Guerra

Rodrigo H. Maran
Foto: Arquivo

“Sempre em busca do prazer do ouro, Quem te interfere perde o coro. Não percebes a máscara pela qual tu se escondes. Bicho homem”

Com licença, caro leitor do jornal O Estado, permita-me tomar seu tempo…

É o trecho duma música (ali, no início). Para não ficar tão triste, escuto um pouco, aqui, em mais um dia de guerra na humanidade. Estamos sitiados, sem esperanças, abalados. Por que as coisas são assim? Pergunta que repercute e ecoa, como se nós, adentrados num fundo de poço, pudéssemos gritar, mas os paredões são altos, nossos gritos a nós retornam e nenhum milagre parece acontecer. O mundo está surdo. As orações dos cristãos não são ouvidas, pedidos de paz não funcionam, mas com fé genuína permanecemos, quem sabe as nações em guerra “acordem”. Enquanto isso, tropas russas e ucranianas estão num conflito que dura meses, continuam, a vontade de domínio ou não cair frente aos invasores mantém a luta armada.

Desvio meu escrito duma natureza da guerra, que acredita ser normal, vindo do homem, um animal explorador. Em que sentido? Em todos. Nossas plantações destroem florestas, nossa pesca, mares; o ouro e prata, cavamos no profundo das montanhas e rios; o petróleo, tão cobiçado, territórios por ele valorizados, Deus e dinheiro justificam “qualquer parada”. Os homens têm interesse no desenvolvimento, ele é movido pela economia, uma guerra gera tristeza, mas lucros da indústria bélica.

O ser humano se esquece das últimas guerras mundiais, milhares de pessoas mortas em conflitos e ou dominação, a doença do mundo, chamarei de poder, que não tem cura. Palavras minhas não chegarão aos presidentes e mesmo se chegassem, o controle está muito além deles.

Referida a natureza de nós, animais de Deus, de nós, homens, por Deus, claro, deus no mundo é uma palavra que “deturpa”, “foge” e é usada para justificar histerias coletivas (como uma nação que atende aos pedidos de violência). Qualquer que for a ideologia dum conflito, a ignorância das massas ainda é a conclusão mais plausível para atender aos pedidos “duma guerra”.

As cruzadas cristãs, na época da Idade Média, foram algo proporcionalmente diferente mas que no fundo tinha o mesmo teor, “a guerra contra os infiéis”. Os cruzados cristãos lutavam pela expansão do cristianismo e a repressão da evolução do islamismo, no Ocidente dominado pela igreja católica. O mundo se formou em fronteiras, e estas abrigam povos, com culturas, costumes, valores e crenças divergentes. A vida em paz é muito boa, mantemos nosso zelo pela paz.

Às vezes invocados em nossas casas, brigamos com entes de nossa família ou com amigos, por questões políticas ou relacionadas à rivalidade em esportes. Concluo que dentro de nós existe uma forte vontade de rebelião quando discordam de nós, nos confrontam, pois opiniões divergentes excluem e impossibilitam amizade. As guerras são isso. Inimizades, submissão ao mais forte. E aqui percebemos como os palestinos, que não possuem 10 % da força dos militares israelitas, aceitam em massa o destino duma guerra contra “estes poderosos vizinhos”.

Ninguém pode excluir o fato do que a leitura do Alcorão, livro santo do islã, promete. Virgens num paraíso, riquezas! Um céu exuberante, prazeres inconcebíveis, uma felicidade inexplicável. Sim, inexplicável é a fé. Num livro santo, nele uma realidade referente a Jihad (guerra santa), mesmo sendo além disso um conflito por terras que já dura séculos é, na realidade, um distúrbio psicológico entre povos, algo fundamentado em religiões, ou seja, doutrinas profundas que colidem como em nós, no caso do cristianismo, na questão “do povo escolhido”.

Eu tenho a Verdade, sou cristão.

Eu sou parte do povo escolhido, os israelitas.

“Morte aos infiéis”, acreditam os extremistas islâmicos.

Nos próximos textos, vou aprofundar a questão da guerra como um instinto animal que, se não “reprimido”, nos leva à violência e se “mal” reprimido nos leva à vontade de dominação – este é um tipo simplista de explicação.

Fato é que o ódio entre palestinos e israelenses nos chama a atenção para a intensidade. Entre a Rússia e a Ucrânia ela também existe, mas não chama tanto a atenção pois é uma guerra fácil de ser explicada: a vontade de poder dos russos.

Tenho pensado, e muito, com pensamentos estritamente ligados a uma humanidade que existe nos países pacíficos (apesar de grandes revoltas internas nesses Estados) numa coisa: – Ter razão não me faz mais feliz. Ela é multifocal, tem vários aspectos em diferentes pontos de vista. O que alucina a nós, olhando de fora, os conflitos é nossa certeza de que algo tão bonito e puro, quanto a fé, pode nos fazer cruéis. A fé é cega! E a vontade de dominação, egoísmo e vaidade ainda permanecem em nós, com ela. E o desejo de dominar, egoísmo e vaidade sempre vão ser o que resume todo pecado e assim, toda maldade… (Texto 1 de 3).

Por Rodrigo H. Maran, Filósofo e poeta.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *