Recentemente, criou-se, em Mato Grosso do Sul, o “Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas”, Fefich, com o intuito de pensar o MS por provocações e produções desses campos. Olhar para o potencial e produção da economia do pensamento. Não há como desenvolver, progredir, mudar matrizes econômicas e ser sustentável se o aspecto humano não for o centro de todas as decisões e caminhos.
Nesse sentido, provocando a ciência e a política trago para reflexão a necessidade de ampliarmos o entendimento de cidadania para além dos aspectos legais. A Constituição Federal de 1988, a “Constituição Cidadã”, foi responsável, ao menos formalmente, pela instauração de um Estado democrático de Direito. A ideia de cidadania ganha força no sentido jurídico, entretanto, entendemos ser uma das muitas dimensões que o termo possui.
Desde sua origem na Grécia, a relação da prática cidadã inclui uma diversidade de pontos, como: participação, autonomia, autoria etc. Atualmente é requisitado a inclusão de várias dimensões, tais como as culturais e comunicacionais (sistemas midiáticos, tecnologias e redes digitais), interlocutores desse processo construtivo do fazer cidadão.
A cidadania comunicativa é também científica porque rompe com os processos que categorizam a experiência como algo diminuto, ou que não produzem elementos teóricos; ao passo que retira dos sujeitos e de seu coletivo o papel de objeto de investigação exclusivamente, de apenas informantes ou pesquisados, e os colocam também como protagonistas dos processos de articulação e desenvolvimento científico, são sujeitos comunicantes. E na política deixam de ser apenas os beneficiários de ações e passam a ser em conjunto os formuladores das políticas públicas.
Em outras palavras, em uma sociedade em que os neossujeitos lutam para se tornarem protagonistas mediante ações, ocupação de espaços, reivindicações, sobrevivência, valendo-se da insistente batalha pela visibilidade (representatividade), fica evidenciado que o exercício de uma cidadania que comunique é mais que fundamental, passou a ser uma necessidade no modelo do capitalismo neoliberal.
Se antes era a ágora grega, o espaço público em que os cidadãos das cidades- -estados se reuniam para o diálogo, debate, para serem vistos, agora, os meios de comunicação, o rádio, a televisão, e, principalmente, as plataformas digitais são essa nova arena, esse novo espaço público, a ágora eletrônica, a governamentalidade algorítmica, e os espaços da ciência são campos a serem ocupados.
Nesse raciocínio, não se pode deixar de incluir a construção de sentido junto às realidades como resultado das vivências e do reconhecimento recíproco, das relações estabelecidas, crenças e padrões de comportamento (identidades), produção cultural e midiática entre os indivíduos.
Dessa forma, a partir das reflexões postas, não há como falar em exercício da cidadania sem a atuação política do ser, assim como sua compreensão de cultura moldando sua capacidade de valorar tais aspectos. A cidadania só pode de fato ser exercida se for respeitada em todas as suas dimensões, há que se pensar e entender que não há uma cidadania e sim cidadanias no plural.
Por Eduardo Romero, doutor em comunicação (Unisinos). Jornalista, bacharel em direito, gestor cultural.