Mato Grosso do Sul tem apresentado taxas de crescimento impressionantes, nos anos recentes. A taxa média de crescimento anual para o período 2014-2022 é muito próxima de 9% e a variação do PIB, no mesmo período, é de quase 100%. Somam-se a isso a atração de quase R$ 70 bilhões em novos investimentos em áreas como bioenergia, celulose, proteína animal e energias renováveis. Isso não significa dizer que estamos imunes às dores do crescimento. Ao contrário. Crescer impõe enfrentar novos, velhos e repaginados desafios.
Mas uma modificação sutil na estrutura organizacional da Semadesc aponta de onde virão os inputs para fazer crescer a economia e promover o desenvolvimento em todas as suas dimensões, ou seja, econômica, social e ambiental. A pasta que cuida do desenvolvimento ganhou um novo nome e adjetivação. A antiga Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), passa a ser a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Essa mudança organizacional será importante para mobilizar os recursos e os instrumentos necessários para que a transformação desejada ocorra.
O desenvolvimento, portanto, passa a ter uma conotação mais ampla e, especialmente, passa a ser ombreado, por um lado, pelo meio ambiente e, por outro lado, pela ciência, tecnologia e inovação (CT&I). A adjetivação essencial que marca os novos rumos do desenvolvimento sul-mato- -grossense é a inovabilidade.
O que se pretende é formular e executar as políticas públicas nas mais diversas áreas com o suporte do conhecimento científico, da disseminação de tecnologias e do estímulo aos processos inovadores. O tripé da CT&I deve ser a base pela qual se assentará o desenvolvimento estadual nos próximos anos.
Esse processo já vem acontecendo quando, por meio da Fundect, a fundação estadual de apoio à pesquisa, o Governo do Estado lançou editais inéditos no país para promover o entendimento sobre a descarbonização da matriz produtiva, ou então, o de estímulo a projetos para se alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Mas o mais emblemático, com um firme olhar no futuro e com uma visão holística, olhando desde o exercício da cidadania até novos patamares de desenvolvimento, foi o lançamento do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica de Mato Grosso do Sul (Pictec), destinado a apoiar projetos de pesquisa de alunos e professores do ensino médio, buscando sensibilizar os jovens para o gosto da pesquisa científica e dos processos de inovação, e também, os estimular a seguirem seus estudos nos anos seguintes na esperança de colocar luz sobre caminhos alternativos para suas carreiras profissionais. As evidências são fartas no sentido de mostrar que, quanto maior a quantidade de anos de estudos, maior é a renda do indivíduo, bem como, amplia-se o leque de oportunidades sociais e profissionais.
São diversos os resultados finalísticos que se espera com a formulação e execução das ações do Governo pautadas no tripé da CT&I. Neste sentido, é fundamental a articulação institucional com as universidades, com o Instituto Federal e com as instituições de pesquisa para que se possa alinhar propósitos. O governo tem buscado dialogar com a comunidade científica apresentando suas prioridades e conclamando os pesquisadores a contribuírem com a produção de conhecimento aplicado à solução de problemas concretos que rondam o nosso cotidiano nas mais diversas áreas: saúde, educação, emprego, qualificação profissional, mobilidade urbana, conectividade, infraestrutura, agroindustrialização, sustentabilidade e outras. Seguramente também a filosofia e as ciências humanas podem contribuir para isso.
O que se espera desse diálogo é a produção de novos produtos, serviços e processos produtivos com a marca da sustentabilidade, da responsabilidade social, da produtividade elevada e da elevação da renda. Desse diálogo, também se espera o surgimento de empresas de base tecnológica e de startups que tornem nossa economia mais dinâmica, moderna e competitiva internacionalmente.
Igualmente importante, é a aproximação com as comunidades, sejam elas urbanas ou rurais, no sentido de construir uma ciência cidadã, ou seja, uma nova forma de se produzir conhecimento tendo o cidadão um papel de protagonista juntamente com a comunidade científica. Estimular processos de inovação e empreendedorismo social pode ser uma saída alternativa para as mais diversas comunidades do Mato Grosso do Sul, nos assentamentos rurais, nas aldeias indígenas, nas comunidades quilombolas, nas comunidades ribeirinhas ou nas periferias das cidades. A CT&I podem contribuir sobremaneira para a consolidar processos de inclusão, sejam eles, social, digital ou produtivo.
Dessa forma, o Governo do Estado entende que a contribuição da ciência e da comunidade científica cumprirão um papel essencial na superação de nossos problemas de crescimento e mais, promoverão a aceleração do nosso processo de desenvolvimento, tornando-o amplo, passando pela garantia dos direitos civis e humanos até sua transformação para um estado moderno, inovador e sustentável.
Por Ricardo Senna, Economista com MBA em agronegócio pela FGV, mestre em economia pela PUC-SP, doutor em educação pela UFMS. Atualmente, é secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação da Semadesc, do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.