A busca pela felicidade é uma jornada humana ancestral, que atravessa toda a história da humanidade. Santo Agostinho, em sua busca pelo significado da vida, nos deixou uma frase que ecoa forte: “Noli foras ire, in interiore homine habitat veritas” – “Não procure fora, a verdade está dentro”. Essa perspectiva nos chama para o nosso interior, para as nossas aspirações mais profundas, a fim de compreender a felicidade. Que não se limita a uma sensação epitelial, mas que se conecta com a realização profunda do ser humano e nos convida a uma pequena jornada.
Desde a etimologia da palavra já aparecem perspectivas ricas e complementares. Na tradição grega, a felicidade está intimamente ligada ao conceito de “eudaimonia”, que se traduz como “bom espírito” ou “florir humano”. A eudaimonia representa uma vida vivida em potencial e virtude, onde a verdadeira alegria é alcançada no autodesenvolvimento e na ética. Para os gregos, a felicidade era um processo ativo de realização pessoal. Aristóteles, em sua ética, situa a felicidade como o objetivo supremo da vida. Para ele, a verdadeira felicidade não é uma meta passiva, mas sim uma prática ativa que envolve a realização de talentos e a prática da virtude. Essa visão nos ensina que a felicidade é um processo, a busca de um estilo de vida que promove não apenas o bem-estar individual, mas também o coletivo.
A tradição latina, que retoma a cultura grega em certo sentido, se relaciona à “felicitas”, que enfatiza a ideia de um projeto que dá frutos ao longo do tempo. Não se trata, nesse contexto, de um estado instantâneo, mas um processo contínuo de construção e realização. Filósofos romanos como Sêneca, por exemplo, apontavam a felicidade como resultado de um estilo de vida ético, onde as ações têm impacto e significado. A “felicitas” romana convida a refletir sobre escolhas e relações, destacando que nossas decisões moldam nossas experiências ao longo da vida. A busca pela felicidade, portanto, envolve não apenas as emoções, mas a totalidade do ser. É um compromisso com a prática do autoconhecimento, da construção de um estilo de vida que nos permita florescer e contribuir para o bem-estar do mundo ao redor.
A vida, naturalmente, apresenta desafios e momentos de dor. A perda de um ente querido, o luto, a doença, a frustração, são experiências que podem nos levar a questionar o significado da felicidade. No entanto, é nesses momentos que a capacidade de encontrar alegria, mesmo nas adversidades, se torna fundamental. A resiliência, a capacidade de lidar com a dor e de encontrar significado em experiências desafiadoras, é um caminho claro para descobrir a verdadeira felicidade. A busca por um sentido para a vida, mesmo em meio às dificuldades, nos permite encontrar força e esperança para seguir em frente. As memórias, os laços afetivos e as experiências significativas se tornam, assim, fontes duradouras de felicidade. Cultivar relacionamentos autênticos, construir laços de amizade e amor, e compartilhar momentos especiais com as pessoas que amamos, são pilares fundamentais para uma vida plena e feliz. A qualidade dos relacionamentos que cultivamos está intrinsecamente ligada ao nosso bem-estar e, por sua vez, à nossa participação na construção de um ambiente social e além dele, em que a convivência, e não apenas a competição, ditem as regras.
Josemar de Campos Maciel é Doutor em Psicologia (PUC-Campinas) e professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local da UCDB. Email: [email protected]
Pe. Márcio Bogaz Trevizan é Doutor em Filosofia (Universidad Católica Argentina) e professor dos cursos de Filosofia e Teologia da UCDB. Email: [email protected]
Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.
Josemar de Campos Maciel (UCDB)
Pe. Márcio Bogaz Trevisan (UCDB)
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