A importância dos estudos em geografia para o planejamento público de Mato Grosso do Sul

Foto: reprodução
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A Geografia é uma ciência da pluralidade. É em sua dimensão espacial, que as pesquisas realizadas no âmbito dessa área do conhecimento permeiam temáticas que englobam as relações entre a sociedade e a natureza. Tratam-se de estudos que envolvem questões direcionadas ao urbano e ao rural, às dinâmicas econômicas, sociais, culturais, sociais e ambientais.
Por se tratar de uma ciência totalizante, a Geografia se fundamenta na compreensão da produção do espaço, na articulação entre as mais variadas escalas espaciais e em suas transformações ao longo do tempo, pois é no espaço que a interação entre a natureza e a sociedade se expressa.

Diante dessa realidade, é a partir da análise geográfica que são identificadas as particularidades de cada território, suas potencialidades e problemas, resultando em uma base sólida para o planejamento e para a elaboração de políticas públicas.

No que diz respeito ao Mato Grosso do Sul, a Geografia se coloca como essencial à análise dos fenômenos das mais diversas naturezas, a exemplo das questões econômicas e sociais como a construção e o desenvolvimento do Corredor Bioceânico e a instalação de grandes plantas industriais, como tem ocorrido em Ribas do Rio Pardo. São processos que envolvem grande número de representantes espaciais, desde o poder público, com a atuação da União, do estado e dos municípios envolvidos. Nesse sentido, a geografia é fonte de compreensão sobre os reflexos à população local, que passa a conviver com grandes transformações e sofre importantes impactos em termos de qualidade de vida, além é claro, das mudanças ambientais, que são consequência direta dessas grandes obras.

Em relação a questão ambiental, Mato Grosso do Sul conta com diversos problemas no Pantanal, maior área úmida contínua do planeta, mas também a mais afetada pelas queimadas. Especialmente na última década, o bioma tem sofrido sobremaneira com a seca e a ampliação dos focos de incêndios, cada vez mais intensos e destruidores. Soma-se a isso, o aceleramento e o impulso à ampliação de áreas destinadas à pecuária e à agricultura, que por um lado, define Mato Grosso do Sul como o estado do “agro”, mas por outro, deixa o estigma de um Mato Grosso do Sul “queimado”.

Outra especificidade territorial do estado, à qual a Geografia se dedica, está relacionada à grande extensão fronteiriça com Paraguai e Bolívia. Neste espaço ocorrem dinâmicas muito próprias, caracterizadas pelo intenso fluxo de pessoas, mercadorias, capital etc. São áreas distintas do restante do território sul-mato-grossense, que demandam análises geográficas na perspectiva de serem territórios únicos, mas com possibilidades de mitigações coletivas, quando se considera a hibridação que estes territórios apresentam.

O estudo detalhado das relações que se dão nas diferentes escalas geográficas permite o entendimento da realidade local, dos desafios a serem suplantados e das possíveis políticas públicas a serem elaboradas e/ou atualizadas, e, neste sentido, a Geografia se coloca como uma ciência capaz de abordar a pluralidade dos eventos que ocorrem, de forma a considerar elementos de ordem social, econômica, ambiental e cultural e que refletem nas transformações do espaço geográfico.

Nessa lógica, Milton Santos, grande expoente da Geografia brasileira e reconhecido mundialmente, já advertia que o poder da Geografia é dado pela sua capacidade de entender a realidade em que vivemos.

Ter na Geografia um instrumento para o planejamento público é deleitar-se em um em amplo e fértil campo de conhecimento plural e produtivo, que não apenas constrói teorias, mas projeta possibilidades tangíveis à prática das relações entre a sociedade e a natureza.

 

Ana Paula Camilo Pereira é professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UEMS). E-mail: [email protected]

Cláudia Heloiza Conte é professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UEMS). E-mail: [email protected]

Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.

 

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