O filme Marighella, estreia de Wagner Moura como diretor, abriu o 15º Festival Internacional de Cinema de Santiago (Sanfic), no Chile, no domingo 18. Em entrevista coletiva para falar sobre o longa, o ator e diretor afirmou que há, no Brasil, uma “guerra de narrativas” sobre a ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985.
Para Moura, há aqueles que querem contar o que ocorreu durante os anos de regime de exceção no Brasil, caso do próprio ator ao narrar no filme a trajetória do escritor, político e guerrilheiro Carlos Marighella, e os que querem negar os fatos ocorridos sob o governo militar, caso do presidente Jair Bolsonaro.
“No Brasil, há uma guerra de narrativas. Temos um presidente que diz que a ditadura não existiu, que a ditadura foi boa, que a tortura é um método possível para obter informação. Acredito que é muito importante contar histórias para que as pessoas vejam que, sim, houve uma ditadura e que ela foi terrível”, afirmou Moura.
Ele disse que o filme, que traz o cantor Seu Jorge no papel do guerrilheiro Marighella, está no polo oposto ao discurso sobre a ditadura propagado por Bolsonaro, mas que não gravou Marighella para confrontar o atual governo. Segundo ele, o filme começou a ser concebido em 2013, quando Dilma Rousseff ainda era presidente do país. A ideia era “contar uma história que foi apagada do passado”.
“Eu queria falar da ditadura militar e da resistência. O filme vai de 1964, com o golpe de estado, a 1969, quando matam Marighella. O desafio para mim foi ter uma história emocional, que ao mesmo tempo falasse de muitos fatos históricos que ocorreram nesses cinco anos”, explicou o diretor.
Sobre a exibição do filme na abertura da 15ª edição do Sanfic, Moura observou que a recepção do público foi “emocionante”, destacando o fato de que os chilenos “sabem muito bem o que é uma ditadura militar”.
Moura também disse que gosta de abordar temas políticos e que filmes do tipo não precisam ser necessariamente complicados, destinados a um grupo seleto de espectadores. “‘Marighella’ é uma mistura de gêneros. É um drama histórico, mas tem muitas coisas do cinema de ação. Me interessa que o cinema político seja popular”, destacou.
Considerando o clima de polarização por que passa o Brasil, o ator disse estar preparado para enfrentar possíveis incidentes na estreia do filme no país, agendada para 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. “Superei todos os tipos de boicotes”, finalizou. (Agência EFE)