‘Versos para mastigar’ e ‘Tríduo rudo’: Escritores de sul-mato-grossenses lançam novas obras em ação beneficente

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Foi há 64 anos que o então ministro da Educação e Cultura, Pedro Paulo Penido, escolheu o dia 25 de julho como o Dia Nacional do Escritor. A data foi deve-se à realização do I Festival do Escritor Brasileiro, patrocinado pela União Brasileira de Escritores (UBE), em 25 de julho de 1960. E nada melhor que celebrar a data falando sobre os futuros lançamentos de escritores de Mato Grosso do Sul.

‘Cerveza del Cordero’, é o evento que celebra, meio do lançamento dos livros ‘Versos para mastigar’, de Fábio Gondim, e ‘Tríduo rudo’, de Henrique Pimenta, o que há de mais disfuncional na poética sul-mato-grossense. O evento será um misto de celebração e de solidariedade ao mesmo tempo, envolvendo ação beneficente em prol da Associação Beneficente Dos Renais Crônicos (Abrec-MS), seguido por uma literatura esteticamente bem elaborada. O lançamento das obras será no dia 10 de agosto, às 18h, no Museu da Imagem e do Som (MIS).

Henrique Pimenta – Foto: divulgação

Henrique Pimenta é natural de Resende (RJ), mas se considera campo-grandense de coração. Venceu o Prêmio Guavira de literatura em 2017 pelo livro de contos Ele adora a desgraça azul (2016). Lançou também 99 sonetos sacanas e 1 canção de amor (2012), Alcácer-Quibir (2019) e Compêndio de evisceração (2021). ‘Tríduo rudo’, foi um projeto de sete anos de Pimenta, que agora colhe as recompensas do seu árduo trabalho. Para o jornal O Estado, o autor revelou que impõe a si desafios em relação à literatura.

“Eu acho que foi assim, me desafiando a escrever ‘diferente’, que consegui publicar os meus quatro primeiros livros. Mas o grande desafio dessa vez foi exigir um livro de poemas que trabalhasse temas antiquíssimos (como o amor, o tempo, a morte) e temas contemporâneos (como a representatividade, as minorias, o pânico da masculinidade), mesclando-os malandramente de modo filosófico; em termos formais, compondo poemas com versos curtos, com muitos ritmos e muitas rimas. A recompensa é sair dessa prazerosa loucura vivo e ter esse material à disposição dos leitores”, disse.

Em relação ao nome da obra, o autor explica que as referências partem da sua formação cultural e religiosa. “Vai da Santíssima Trindade católica ao Trimúrti do hinduísmo, por exemplo. Nós percebemos facilmente que formas triangulares, também, habitam a óbvia geometria e diversas tradições ancestrais, assim como o universo da propaganda. Já “rudo” é a forma antiga do adjetivo rude. E rude pode ser entendido tanto como algo grosseiro quanto algo simples. Juntando essas ideias no multiprocessador de meu livro, eu fiz poemas com técnicas tradicionais, mas são poemas líricos de curta dimensão, que primam pela simplicidade, abordando por vezes temas delicados e por vezes temas absurdamente agressivos”, explicou.

Homenagem e características

O livro de Pimenta leva uma homenagem póstuma a poetisa Flora Thomé. “Posso afirmar Flora Thomé é uma poetisa com a qual me identifico em alguns aspectos. Em Mato Grosso do Sul, essa três-lagoense foi professora, uma pioneira na composição e publicação de haicais, produziu uma apurada literatura memorialística. Eu fui professor, eu componho haicais e parte de minha literatura tem algo de memorialística. No final das contas, eu gosto de sua escrita. No ‘Tríduo rudo’, eu tentei manter o espírito ‘floral’, e creio ter conseguido. Ah, uma dica, leiam Flora Thomé!

Capa Tríduo rudo – foto: divulgação

Com uma rotina de leitura-estudo-prática, Pimenta crítica a sociedade e seu meio, porém, sem se esquecer que também está inserido neste meio. “O meu olhar é um círculo de intimidades, porque sou eu mesmo que sempre estará em foco, no início ou no fim do círculo, embora círculo não tenha início nem fim… O meu ponto de vista focaliza, portanto, o mal em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul e em várias outras dimensões territoriais, políticas, sociais, mas o que está em pauta é sempre o ser humano. Não tento buscar soluções para eliminar esse ‘maldito mal’, eu apenas o exponho literariamente. Eu me sinto na obrigação de expor as vísceras da humanidade, de compartilhá-las. No ‘Tríduo rudo’, há poemas com esse teor crítico e, como já estou acostumado, tenho certeza de que, em uma perspectiva especular, eu vou receber várias críticas por produzir esses poemas”.

Opnião

Escritor de poesia desde os 15 anos, Henrique Pimenta tem uma opinião forte sobre algumas produções literárias atuais: acredita que a poesia atual, calcada nas redes sociais, é apenas uma “prosa boba”.

“Hoje em dia, via de regra, se reduz a uma prosa boba apresentada em forma de verso com o único objetivo de receber ‘likes’ e comentários do tipo ‘Amei!’ ou ‘Sua poesia é linda’. Esse troço, infelizmente, viraliza e a galera acaba considerando ‘isso’ poesia. Para eliminar o vírus das absurdidades publicadas nos meios virtuais, a galera de MS tem que se desligar das redes e se ligar na boa poesia publicada por aqui. Poesia é para poucos leitores. Boa poesia é para menos leitores ainda.

Lançamento

“Versos para mastigar”, de Fábio, é o segundo volume da Trilogia da Degustação que se iniciou com o lançamento do livro “Versos para lamber”. No livro de poesias, dividido em sete capítulos (versos viscosos, versos crocantes, versos cremosos, versos ásperos, versos macios, versos densos e outras texturas), o autor faz analogias entre a textura dos alimentos e os sentimentos experimentados pelo ser humano.

Fabio Gondim – Foto: divulgação

Conforme os escritores, o lançamento em conjunto se dá por afinidade artística. “Creio que ambos, numa relação de contrassenso, tratamos a literatura com a mesma honestidade e descompromisso que ela merece”, afirma Fábio Gondim.

“É um orgulho da minha parte dividir esse evento com o Fábio Gondim, porque o considero um dos maiores nomes da poesia em MS, hoje (além do Fábio ser mais umas quinhentas outras coisas positivas dentro da literatura). Escrever é algo muito solitário, como todos podem imaginar, e, ao escolhermos fazer um lançamento em dupla, dobram-se as chances de se ter um público numeroso, a fim de comungar com a nossa poesia”, reforça Pimenta.

Fábio Gondim é natural da Vila Carvalho em Campo Grande MS. Organizou a Coletânea Cápsula Tarja Preta (Appostolos, 2016). Publicou Versos para Lamber (Life, 2017). Em parceria com Roberto Figueiredo, Floresias (Mundial, 2018). Em parceria com Ana Maria Bernardelli, organizou as coletâneas 101 Reinvenções (Life, 2017), 101 Reinvençõezinhas (Life, 2018), Prosas e Segredos da Morena (Life, 2018), 102 Reinvençõezinhas (Life, 2019), Era Uma Vez (Life, 2019). Em parceria com Vini Willyan, organizou a coletânea Cromossomos – Literatura LGBTQIA+ no Mato Grosso do Sul (Life, 2019). Publicou Charlenne Shelda (Life, 2021).

Foto: reprodução

Serviço

O lançamento dos livros ‘Versos para mastigar’ e ‘Tríduo rudo’ será no dia 10 de agosto, às 18h, no Museu da Imagem e do Som, Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559.

 

Por Carolina Rampi

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