O ritmo frenético é uma das principais características que definem a sociedade moderna. Em estado de frequente exaltação e pressa, encontrar indivíduos marcados por exaustão extrema, esgotamento físico e psicológico é recorrente, nos dias atuais.
Alguns hobbies têm sido um desafogo e alívio contra a correria implacável do dia a dia, e a chamada terapia horticultural é uma opção. A proposta pode trazer diversos benefícios para a saúde mental das pessoas, já que especialistas indicam que a atividade de cuidar das plantas pode ajudar a reduzir o estresse. Na Capital, a Acoa (Associação Campo-Grandense de Orquidofilia e Ambientalismo) trabalha com o contato com a natureza, com o cultivo de orquídeas, de forma mais específica. O associado Henrique Azevedo é orquidófilo e revela ter encontrado uma saída para uma vida com mais leveza e repleta de boas amizades.
“O cultivo de orquídeas, primeiramente, é prazeroso, nos alegra, nos ajuda a ocupar a mente com coisas boas, exercita o cérebro enquanto tentamos desvendar alguns mistérios do cultivo, buscando o aprimoramento no cuidado com as plantas. É também um exercício de paciência, pois cuidamos diariamente das plantas ao longo de um ano, ainda que algumas espécies, as flores possam ser apreciadas apenas uma vez durante esse período. Sem falar nas boas amizades e encontros festivos e saudáveis que as orquídeas proporcionam entre os orquidófilos”, explica Azevedo, que é construtor e residente em Campo Grande.
O orquidófilo comenta que o seu interesse pelas orquídeas surgiu após uma recomendação médica. A partir da orientação prescrita para encontrar um hobby, Henrique se deparou com um curso de orquídeas que estava sendo ofertado, à época, na Capital, inclusive, encontro que o levou a firmar laços com a Acoa e fidelizar de vez sua relação com a planta. Como ele mesmo afirma, “coincidências da vida” construíram essa história.
“Tudo começou quando eu precisava ‘diminuir o ritmo’. A recomendação médica foi que tivesse um hobby, um lazer, algo que eu gostasse de fazer. Então, à época, estava sendo ofertado um curso de cultivo de orquídeas aqui, em Campo Grande, no orquidário do Sérgio Ostetto, um especialista de referência nacional em orquídeas. Como sempre gostei de plantas, me inscrevi de imediato e me apaixonei pelo orquidário. Nesse mesmo curso, o presidente da Acoa, Wenceslau Oliveira, fez uma visita e nos conhecemos. Pouquíssimo tempo depois, já estava reunido com os associados.”
Associação
Presidente da associação há 18 anos, Wenceslau Carlos de Oliveira explica que a Acoa é um projeto que surgiu há mais de 15 anos, com o propósito de reunir interessados em orquídeas e propor diálogos sobre o cultivo, coleção de espécies, além de bons encontros e amizades com pessoas de interesses em comum. Wenceslau ainda compartilha que o hobby rende muitos momentos de tranquilidade, confraternização e união com o próximo, um modelo de partilha e interação que tem perdido espaço em dias atuais, em que a conectividade e cansaço são constantes e os relacionamentos, em alguns momentos, podem ser prejudicados, se tornando frágeis e efêmeros.
“Estar junto da família, da esposa, momentos de bem-estar e participar de um coletivo, estar junto presencialmente, o que o mundo orquidófilo proporciona. Momentos em que podemos receber pessoas interessadas e compartilhar conhecimento, além das trocas e muitas amizades. Essa confraternização do meio orquidófilo, que são pessoas falando a mesma linguagem, isso, para mim, é o sentimento mais gratificante que pode acontecer em uma entidade. Eu já faço isso há tanto tempo e continuo feliz, como se fosse a primeira vez.”
Colecionadores
Mais de 80 colecionadores de diversas localidades participaram da 16ª Exposição Nacional de Orquídeas e da Exposição Nacional da Cattleya Nobilior. Conforme explica Henrique, é realizado um trabalho coletivo com muito empenho para que o evento proporcione programação diversa e especializada, como é a da exposição. “É um trabalho árduo e constante da associação que iniciou há muitos anos e que a cada nova edição busca realizar uma bela exposição, de qualidade, organizada, bem decorada, alegre, fazendo então com que tenhamos tantos colecionadores, expositores e visitantes no evento.”
Além de reunir diversos entusiastas e especialistas de todo o Brasil, dentre as atrações teve oficinas sobre o cultivo, exposição de artes visuais e um setor específico para vendas de espécies. Existem diversas variedades de orquídeas que podem ser utilizadas na terapia horticultural. Algumas das mais populares são as Phalaenopsis, Cattleya, Dendrobium e Oncidium. Os valores dessas estão em torno de R$ 60,00, conforme afirma associados da Acoa.
Henrique, ainda pontua a respeito de alguns cuidados básicos para os interessados em iniciar o cultivo de orquídeas em casa. “Os cuidados para todas as orquídeas são meio que padrão: luminosidade, adubo, fertilizante e inseticida fungicida e água. Elas não vão ter um cuidado muito específico de uma para outra, até possuem algumas particularidades, mas é básico e, no geral, esses são os cuidados principais.”
Ao mesmo tempo, foi realizada a 13ª edição da Exposição Estadual de Orquídeas e a Exposição Nacional da Cattleya Nobilior, a orquídea mais popular em Mato Grosso do Sul, elevada à flor símbolo de Campo Grande (lei municipal 5.364, dia 15 de agosto de 2014), Wenceslau acrescenta que a Capital é a primeira a promover uma exposição nacional para a espécie, evento que, inclusive, já conquistou até turistas internacionais curiosos com a planta.
“A única exposição nacional de Cattleya Nobilior que existe é a de Campo Grande. Apesar de ser uma planta que brota em várias regiões do Brasil, como no Cerrado de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, parte da Bolívia, Venezuela, até em um pedaço do Maranhão e Tocantins, a única exposição que existe é a da capital. E hoje, é uma planta que possui colecionadores no Brasil e no mundo. Já veio até turistas japoneses aqui, em nossa exposição, devido à Cattleya”, explica Wenceslau.
O evento foi realizado pela associação como parte das homenagens ao aniversário de Campo Grande. Henrique ressalta que o evento é de suma importância para agregar a Capital ao cenário de exposições do gênero e, juntamente, oportunizar os habitantes a conhecer o meio orquidófilo, podendo assim ter uma vida com mais leveza e uma relação consciente com a natureza.
“Além de colocar a cidade no cenário nacional de exposições de orquídeas, a mesma atrai milhares de visitantes e turistas locais e de outros Estados, bem como de países vizinhos, movimentando muito a economia local. As pessoas têm a oportunidade de aprender mais sobre orquídeas nas palestras, em oficinas oferecidas de forma gratuita durante o evento, além de poder apreciar plantas de colecionadores de todos os cantos do país e de poderem adquirir novos exemplares de qualidade colocados à venda.”
Para participoar da Acoa, basta efetuar o pagamento de uma anuidade. Para mais informações: (67) 98409-4733.
Dicas para cultivar orquídeas em casa
Como e quando devo regar a minha orquídea?
A rega da orquídea é bastante inusitada, já que é mais fácil matá-la pelo excesso do que pela falta de água. Principalmente para quem está mantendo a orquídea em um vaso sem drenagem, uma dica é colocar nela 3 pedras de gelo uma vez por semana. Acredite, apesar de estranha, a técnica funciona! Já para quem a mantém em um vaso de barro ou xaxim, outra dica é mergulhá-lo em uma bacia com água e retirá-lo em seguida. Vale lembrar que o uso de pratinhos não é recomendado, visto que o acúmulo de água neles favorece o apodrecimento da raiz.
É possível estimular o florescimento?
Além de manter as condições adequadas de luminosidade, ventilação e hidratação, é preciso garantir um substrato rico em nutrientes para que as orquídeas possam florescer. Para isso, aposte no uso de adubos com nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes (adubos NPK) ao menos uma vez por mês. Atualmente, existem, inclusive, adubos desenvolvidos especialmente para orquídeas, seja para a floração ou para a manutenção da planta.
Como saber se minha orquídea está saudável?
Uma orquídea florida é um bom indicativo de que a planta está saudável. Já nos períodos em que as flores não dão o ar da graça, fique atento aos seguintes sinais: folhas amareladas sinalizam excesso de água ou falta de nutrientes, ao passo que folhas muito escuras são indícios de baixa luminosidade; Folhas enrugadas e bulbos encolhidos indicam falta de água. Nesse caso, procure reforçar as regas; Cochonilhas são relativamente frequentes nas orquídeas. Ao notar a presença delas, utilize uma escovinha embebida em água e sabão de coco nas partes atacadas. Inseticidas próprios para plantas também são recomendados.
Por – Ana Cavalcante
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