Com quatro sessões gratuitas, o Teatral Grupo de Risco realiza apresentações para estudantes e acadêmicos, abertas ao público
Unindo situações mágicas ao trágico, o Teatral Grupo de Risco explora as crises do homem moderno e trata sobre temas como poder, liberdade, identidade, busca de sentido e a perda de referências, com as sessões de “Guardiões” e a estreia do “Circo do Absurdo”. O espetáculo consiste em quatro sessões, das quais duas são abertas ao público, enquanto as outras são dedicadas a estudantes e acadêmicos. O objetivo do grupo é transportar o espectador para um mundo surreal e sarcástico, em que o absurdo ganha significado em uma sociedade que valoriza a individualidade e a indiferença. As sessões são gratuitas e acontecem entre os dias 24 e 25, a partir da 19h, no espaço cultural do grupo.
Em uma dramaturgia realizada por Ewerton Goulart, com direção de Yago Garcia, o “Circo do Absurdo” é o novo espetáculo de estreia do grupo, que proporciona uma experiência teatral que transcende as barreiras da realidade. Composto por uma trilogia, o espetáculo leva o espectador a uma jornada única e intrigante por três mundos interligados de “A Deusa da Perdição”, “O Pássaro Branco” e “O Cão Sem Lar”. Em uma viagem teatral que desafia as convenções, o enredo de situações mágicas e inverossímeis leva o espectador a questionar a natureza da realidade e a lógica e contradições por trás das ações humanas. Conforme explica o diretor, o espetáculo permeia três temáticas distintas que discutem sobre a realidade árida dos dias atuais e as distorções de valores.
estões variadas. É um espetáculo feito por histórias que acontecem no mesmo dia e cada uma aborda sobre uma temática. São temas que me atravessavam quando as escrevi o espetáculo, há quase 10 anos. Tematicas como ‘distorção das ideias de bondade e maldade’, ‘a violência com que a vida nos trata’ e também alguns atravessamentos críticos, a respeito de instituições religiosas”, esclarece Ewerton.
Três mundos
Na história intitulada “A Deusa da Perdição” é apresentada a figura de uma deusa desencantada e seus seguidores, em busca de respostas, explorando temas como poder e repetição. Já “O Pássaro Branco” transporta os leitores para um mundo surreal, em que a busca por liberdade e significado assume a forma de um enigmático pássaro branco, desafiando a lógica e a razão. Por fim, “O Cão Sem Lar” conduz o público a um cenário sombrio e emocional, em que um cão desamparado simboliza a busca incansável por um lugar no mundo e questiona o significado da vida. Em dias atuais, em que conflitos e massacres acontecem com justificativas religiosas, territoriais e financeiras, a arte transforma-se em uma ferramenta que convida o espectador a pensar sobre questões vigentes que impactam a sociedade contemporânea. Segundo o diretor Yago, o “Circo do Absurdo” torna-se um espetáculo que reflete alegoricamente a respeito da manipulação humana e os interesses de deuses que influenciam tanto o nosso mundo terreno quanto o etéreo.
“Esse trabalho, como os outros do Teatral Grupo de Risco, passou por uma pesquisa até chegar em uma identificação e trazer à tona, de uma maneira sarcástica, a reflexão. Estamos tentando trabalhar com ironias despropositais, tentando fazer aquilo que o próprio teatro propõe, que é rechear as entrelinhas do texto e trazer pela camada mais superficial os assuntos mais profundos, para que os nossos sentidos cognitivos possam perceber. Para mim, está sendo desafiador, como os outros trabalhos”, ressalta Yago.
Para o dramaturgo Ewerton, as inspirações para sua escrita advém de clássicos de escritores renomados. O tcheco Franz Kafka (1883-1924) muito afamado por sua obra “Metamorfose” (1915) e “O Processo” (1925), são algumas de suas influências que contribuíram para a escrita do espetáculo atual. Com temáticas ligadas à alienação, Kafka é conhecido por desenvolver personagens complexos que refletem a fragilidade da condição humana em um mundo árido e implacável. Contudo, autores como Samuel Beckett (1906- 1989) e Eugène Ionesco (1909-1994) referências do estilo “teatro do absurdo” – estilo consolidado por retratar a incerteza e a solidão humana frente à responsabilidade por seu destino em um período pós-Segunda Guerra Mundial, além de possuir técnicas específicas no campo da atuação – foram referências fundamentais em sua escrita. Ewerton ainda argumenta sobre a importante iniciativa de apresentar o espetáculo aos estudantes e acadêmicos.
“Acredito que é importante que esse espetáculo vá para as escolas, por diversos motivos. Um deles é o acesso ao teatro, em si. Essa arte é, por excelência, um refúgio para as humanidades, um espaço para o debate e para a sensibilidade. Na minha opinião, esses são dois aspectos cruciais atualmente, especialmente porque, em geral, o nosso cotidiano está nos afastando disso, reduzindo os debates e diminuindo a sensibilidade. O segundo ponto relevante é a diferença estética. O teatro do absurdo, embora seja uma corrente amplamente reconhecida mundialmente, tem sido pouco explorado, não apenas no teatro contemporâneo, mas também nas produções audiovisuais, como, por exemplo, nas séries que têm chegado ao grande público, no Brasil. As influências fundamentais na escrita foram Kafka, Beckett e Ionesco. O Kafka foi o ‘Pai’ do teatro do absurdo sem escrever teatro do absurdo. Mas eu levei mais diretamente para a cena a estética do Beckett e do Ionesco, porque elas me impactaram de uma forma emocional que eu não tive com outros textos. Gosto muito de textos e atuação realista, mas o teatro do absurdo carrega uma ‘explicação’ tão ‘espiritual’ que é muito difícil não ‘ler’ e sentir aquilo que está sendo lido”, enfatiza Ewerton.
Outra peça que compõe a programação do evento é os “Guardiões”. Com um enredo situado no Mato Grosso do Sul, o espetáculo apresenta três personagens que vivem simbioticamente em um universo alagável (referência ao Pantanal) e agora tratam de entender e interagir em um ambiente em que as tradições estão mudando ou desaparecendo vertiginosamente. As apresentações integram parte do projeto “TGR Entre Furnas e Distritos”, que possui como propósito levar a arte a regiões e distritos próximos da Capital. O projeto possui apoio do FIC (Fundo de Investimentos Culturais), da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e do Governo do Estado.
O Teatral Grupo de Risco é um dos mais tradicionais de Mato Grosso do Sul, com 35 anos de atividades ininterruptas.
Serviço
Para mais informações e programações, acesse, no Instagram: @teatralgrupoderisco. O espaço do grupo fica na R. Trindade, 401, Jardim Paulista.
Por – Ana Cavalcante
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