De MS, SouRa concorre ao Prêmio Multishow

SoulRa
Mulher negra SoulRa afirma que identificação com o rap foi imediata e que cada música sua traz vivências do cotidiano - Foto: reprodução

Com mensagens construtivas e vivências cotidianas de MS, a rapper douradense é uma das selecionadas na ‘Categoria Brasil’

A rapper sul-mato-grossense SoulRa está concorrendo ao prêmio Multishow! Em disputa com mais de 26 cantores na “Categoria Brasil”, a artista douradense foi selecionada pelo trabalho “Trapnojo”, uma parceria com Theo TWK que resgata clássicos de moda de viola, gênero popular e afetivo na história do Estado, mas que na voz de SoulRa ganharam uma nova interpretação. Composições que outrora representavam o feminino com letras machistas e misóginas, com o rap da artista, rompe com estereótipos e condutas patriarcais. Para votar, acesse o site “Prêmio Multishow 2023”. As músicas mais votadas participarão da próxima e última etapa, na qual cinco finalistas irão concorrer ao troféu do prêmio. Os finalistas serão revelados no dia 15 de outubro, e a premiação ocorre no dia 7 de novembro. 

“Estou muito feliz e honrada! Eu fiquei surpresa por ser convidada para compor a Academia Prêmio Multishow esse ano e logo em seguida ter sido eleita para representar nosso Estado, na ‘Categoria Brasil’”, destaca a rapper, cantora e compositora, Raíssa Sousa Carvalho, de 26 anos, destaque em Mato Grosso Sul. Com carreira autoral apenas há quatro anos, a artista é referência em propagar a cena independente da black music douradense Brasil afora. Com o vídeoclipe da música “À Flor da Pele”, SoulRa foi uma das únicas selecionadas de Centro-Oeste a participar do Formemus 2020 (Festival e Conferência Nacional de Mercado da Música), realizado em Vitória, no Espírito Santo. Em 2021, concorrendo com mais de cinco mil inscrições, se classificou entre os 10 finalistas nacionais do concurso global Vans Musicians Wanted, realizado pela marca Vans que teve o rapper Criolo como embaixador. Mesmo com um currículo vasto, a artista celebra com entusiasmo e revela surpresa com a indicação ao Prêmio Multishow 2023. A cantora ainda destaca a relevância que essas participações representam para a música independente douradense e sul-mato-grossense.

 “Era um sonho meu, mas não imaginava que seria agora. Essa indicação mostra a todos também a força do interior e nossa originalidade, que é uma marca de Dourados, a meu ver, e também serve para mostrar como a cultura sul-mato-grossense é diversa, já que somos muito conhecidos e já fomos premiados pelo sertanejo, mas nessa edição chegamos por meio do rap e da cultura hip hop. Contudo, não acho que essas premiações definem o talento de ninguém. Grandes artistas passam uma vida toda sem serem vistos por eventos assim. Mas é inegável a alegria que sentimos e a atmosfera de reconhecimento que conquistamos pelo trabalho que estamos fazendo. Nos traz ânimo, autoestima e projeção. E isso, para um artista independente, especialmente de fora do eixo Rio/SP e do interior de um Estado já considerado interiorano, ainda mais. Mas eu almejo muito. Acho importante esse passo, só não o vejo como tudo e sim como um bonito começo, para mim e para a música sul-mato-grossense, que ainda protagonizará o cenário nacional”, ressalta a cantora. 

Quando perguntada sobre a composição concorrente ao Prêmio Multishow, “Trapnojo”, SoulRa comenta com entusiasmo sobre a canção que aborda a cena autoral independente de Mato Grosso do Sul. “Fazer e sobreviver do rap no nosso Estado não é fácil porque o apoio que recebemos é mínimo. Sempre fomos nós por nós e, modéstia à parte, nossa contribuição para a cultura e nosso movimento são invejáveis. Extrair arte da periferia, diante de tantas dificuldades, é muito grandioso. E ‘Trapnojo’ fala desse sentimento de muitas vezes nos sentirmos alienígenas, deslocados, de outro mundo, fazendo cultura urbana no MS. Mas seguimos firmes e só crescendo.” 

Bacharel em direito pela Uems (Univerdade Estadual de Mato Grosso do Sul), douradense de berço e atualmente paulistana de residência, a escolha pelo rap é identificação e consciência de classe. Cativada desde muito cedo pela música, a cantora comenta que o gosto por pagode e referências nordestinas chamaram a sua atenção ainda enquanto criança, mas foi nas apresentações de batalhas de freestyle da cidade de Dourados que o encontro com a música revelou-se mais forte, caminhando para um projeto mais profissional. Seu trabalho ganha corpo, trazendo luz à cultura periférica, e com características experimental e diaspórica. Suas letras conquistam fãs e são referências por propor reflexões e quebras de paradigmas conservadores e retrógrados. Contudo, o destaque da artista se exibe por revisitar questões sociais relevantes, com muita descontração e leveza. 

“Eu, como mulher negra, sempre gostei muito de pagode e de toda a cultura periférica urbana, porque eu era bastante desse rolê da rua, estudei em escola pública e tive muitas amigas de várias realidades diferentes. Então quando comecei a ouvir e tive contato com o rap, a identificação foi imediata. Cada música minha traz uma mensagem, mas todas elas têm críticas construtivas e vivências cotidianas. Eu gosto de escrever e cantar coisas reais, ainda que não seja uma história minha em primeira pessoa, ainda assim será sobre algo que vi e conheci de perto, e que possa gerar identificação por parte de quem ouve. Todas as músicas abordam questionamentos sobre dogmas ou crenças limitantes como machismo, racismo, injustiças e desigualdades sociais. Além disso, eu gosto do fato de fazer isso com leveza, porque consigo que essa mesma música, que fala de coisas sérias e até dolorosas, seja a mesma que traz uma mensagem de força e empoderamento, e passa no programa da sua televisão na hora do almoço”, afirma a cantora. 

Por – Ana Cavalcante

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