Projetor histórico está no Memorial da Cultura para visitação

Foto: Marineti Pinheiro e Isadora Issagaw
Foto: Marineti Pinheiro e Isadora Issagaw

Peça rara de 51 anos, que foi instalada na inauguração do Teatro Glauce Rocha, é doada à FCMS e ficará no Memorial da Cultura

Quem quiser conhecer de perto um projetor de filmes fabricado em 1971 vai encontrar o item no lobby do Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, no Centro da Capital. A FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) recebeu, como doação da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), na última sexta-feira (23), o projetor, que foi instalado no Glauce Rocha, à época da inauguração, e que era parte do acervo do teatro.

“Seria possível um mosaico de boas histórias somente sobre os projetores de cinema da cidade. Eram muitos, alguns robustos como este, outros mais práticos, pequenos e mágicos, que projetavam filmes de 8 mm, mas todos possibilitavam encontros sociais. Trata-se de uma peça física, mas extremamente simbólica da época, do ponto de vista das relações sociais, culturais e, até mesmo, educativas, pois aprendemos muito com o cinema”, explica Marineti Pinheiro, coordenadora do MIS (Museu da Imagem e do Som).

O projetor em questão permaneceu por mais de 50 anos no Teatro Glauce Rocha. Agora é patrimônio da Fundação de Cultura, devido ao pedido e esforços da coordenadora do MIS. Outro projetor idêntico permanece no Teatro Glauce Rocha. “Tenho, nos últimos anos, colocado o cinema em Mato Grosso do Sul como uma ‘missão de vida’. Resgatar a história e memória articulando feitos me deixa feliz e emocionada. E, é muito importante nesse processo, todas as pessoas que abraçam a causa, motivando e fazendo acontecer. Minha enorme gratidão aos gestores envolvidos que ajudaram a trazer para exposição permanente no Memorial da Cultura uma peça tão rara, complexa e grandiosa física e historicamente”, afirma.

“Tenho certeza que as pessoas que frequentaram os cinemas de rua lembrarão da luz mágica projetada sobre a tela, e para os mais jovens uma reflexão do cinema como uma atividade poderosa. Penso que a imponência desse projetor de cinema pode dar uma dimensão do poder da Sétima Arte”, pontua a coordenadora.

Agradecimento

“Agradeço à UFMS pela doação, ao pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte da UFMS, Marcelo Fernandes, ao diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Gustavo de Arruda Castelo (Cegonha), ao secretário de Cidadania e Cultura, Eduardo Romero, entusiasta que abraçou a causa, e ao diretor geral da FCMS, Zito Ferrari e ao funcionário Eliel Santos, por agilizarem essa mudança, que foi complexa, pois trata-se de uma peça rara, especial e pesada”, disse Marinete.

Para o diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Gustavo de Arruda Castelo, o Cegonha, é muito importante esse acervo/patrimônio da FCMS. “É a história do cinema de nosso Estado viva e exposta, para que mais pessoas vejam e conheçam a riqueza da sétima arte, como ela é feita e como era projetada. A vinda desta máquina só enriquece o acervo da Fundação de Cultura e contribui para a preservação da memória cinematográfica do nosso Estado.”

O pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte da UFMS, Marcelo Fernandes, declarou que o projetor INCOL 35 do Teatro Glauce Rocha é um tímido protagonista da cena cultural campo-grandense, desde os anos de 1970. “Sua missão como equipamento de projeção de filmes está terminada, mas sua exposição permanente no Memorial é de grande importância para a preservação da memória cultural dos jovens sul-mato-grossenses”.

O secretário de Estado de Cultura, Eduardo Romero, acredita que ter o aparelho é uma honra. “Muitas pessoas dessa geração atual, principalmente, não puderam conviver com a magia da sala escura, com a magia da projeção, da grande tela, com aquilo que o cinema, na sua origem, é: esse convite a uma viagem ao tempo, a uma viagem às memórias. Não é uma peça isolada em qualquer canto, você ter um projetor de um complexo cultural que tem um Museu da Imagem e do Som, que tem o acervo fonográfico, audiovisual e imagético de MS. É uma honra ter esse equipamento e, é uma honra poder preservar essa história, essas memórias que fazem parte da nossa produção cultural.

História do projetor

O editor de vídeo Adão Matias conta sobre o projetor e seu funcionamento. “Este projetor foi instalado no Glauce Rocha na mesma época em que foi inaugurado o teatro, em 1971. Ele funcionava na base de um dispositivo chamado carvão ativado, em que você usava dois tipos de carvão, o positivo e o negativo. Quando os dois se encostavam, ele acendia uma luminosidade tipo de uma solda elétrica, e essa luminosidade era projetada na lente por um espelho côncavo. Essa lente, primeiro passava pela película, que era carregada, tinha um processo para carregar a película, que era de 35 milímetros, e aí jogava essa luminosidade na tela, na lente que projetava sobre a tela”, detalha.

Matias auxiliou na montagem e desmontagem do equipamento para a mudança do Teatro Glauce Rocha para o Memorial da Cultura e da Cidadania Apolônio de Carvalho. Ele trabalhou como operador cinematográfico em Campo Grande de 1976 até 1989, no Cine Santa Helena, Rialto, Alhambra, Cine Plaza, Cine Center, AutoCine e Cine Campo Grande I e II. “Eu comecei no Cine Santa Helena, trabalhando como faxineiro. Depois passei a trabalhar na bilheteria, depois como lanterninha. No início, o lanterninha tinha como função apenas ajudar as pessoas que chegavam atrasadas na sessão a encontrar seus lugares. Com o passar do tempo, o lanterninha virou um ‘leão de chácara’, que aparecia para apartar brigas e interromper casais com comportamento inadequado”, relembra “Seo” Adão.

Ele lembra que alguns meses depois, pediu para aprender a fazer a projeção dos filmes e, em pouco tempo, tornou-se projecionista. Matias substituia outros projecionistas da cidade em seus respectivos dias de folga e, com isso, teve a oportunidade de ver de perto várias situações. “Na época da ditadura havia uma inspeção e eu me lembro bem que as sessões eram interrompidas para que os militares pudessem vistoriar as salas. Se houvesse menor de idade, era retirado do cinema, mesmo que estivesse acompanhado dos pais”, relata.

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS.

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