Projeto Blossom: faz moda inspirada no Underground

Maya Nymph,  Estreando para além dos cartões-postais, a força da cena Ballroom revela a verdadeira identidade de Campo Grande construída e sustentada por mãos pretas - Foto: Rafael Gomes/Divulgação
Maya Nymph, Estreando para além dos cartões-postais, a força da cena Ballroom revela a verdadeira identidade de Campo Grande construída e sustentada por mãos pretas - Foto: Rafael Gomes/Divulgação

Formado inteiramente por artistas LGBTQIAPN+, editorial autoral de moda traz inspirações da cultura underground de Campo Grande

Formado inteiramente por artistas LGBTQIAPN+, editorial autoral de moda dá visibilidade a mulheres transexuais e travestis, trazendo inspirações da cultura underground de Campo Grande
Amanda Ferreira

A moda é, para muitos, mais do que uma simples forma de vestuário. Ela se transforma em um processo criativo, uma expressão de arte que vai além do que se vê nas passarelas. Cada estampa, cada corte, cada modelo é uma história sendo contada, uma visão do mundo sendo compartilhada.

No universo fashion, onde as ideias e vivências dos criadores se entrelaçam, surge o Projeto Blossom, um espaço dedicado a dar visibilidade aos corpos e histórias que, muitas vezes, ficam à margem do mainstream. Criado e formado inteiramente por profissionais LGBTQIA+, a Blossom busca ressignificar o cenário de moda da Capital do Mato Grosso do Sul, trazendo uma estética inclusiva e provocadora, centrada nas experiências de corpos queer e da cena underground.

Inspirado nas grandes revistas internacionais como Elle, Vogue e W Magazine, o projeto foca em mulheres transexuais e travestis, celebrando suas histórias e reafirmando a autoestima de corpos em transição. Além disso, Blossom contribui para a construção de portfólios de artistas locais, criando um espaço onde a diversidade é a verdadeira protagonista.

O Projeto Blossom vai além das produções de moda convencionais, sendo fruto de uma colaboração entre fotógrafos, stylists, diretores criativos, maquiadores, hairstylists, editores e videomakers. Cada etapa da produção é cuidada com detalhes, refletindo a qualidade das grandes produções de capitais como São Paulo, mas com uma identidade própria, influenciada pela realidade local. Com apenas um ano, Blossom já conta com três exposições fotográficas e uma base crescente de seguidores no Instagram, se consolidando como um marco na cena de moda do MS.

Cover girl: Destro mostra o potencial new face da Capital. Encerrando a etapa do projeto em 2024 – foto: Alle Alonso/Divulgação

Arte por meio da moda

Atualmente, o Projeto Blossom é formado por: Alle Alonso, Baiflu Alencar, Hanna de Souza, Murilo Gomes, Nara Forato, Ricardo Augusto Santos, Vênus Eugênio e Rafael Gomes Braga. O idealizador do projeto, Baiflu contou ao Jornal O Estado que a Blossom surgiu da sua paixão por editoriais de moda e da percepção da necessidade de um espaço assim em Campo Grande. Além disso, o projeto se tornou uma forma de contribuir com a sua comunidade, a comunidade LGBTQIA+.

“O projeto também veio logo após a perda da minha mãe, em janeiro de 2024. Eu estava em um processo de reerguimento pessoal, com muito receio, muito medo, principalmente por conta da falta de recursos financeiros.Convidei alguns amigos e profissionais da área, como maquiadores e fotógrafos, para integrar o projeto. Eles toparam a ideia, acreditaram junto comigo e, hoje, somos um coletivo, todos nós damos força a esse projeto lindo”, revela Baiflu sobre a criação do projeto.

O processo criativo do projeto é uma combinação de tendências atuais e identidade local com uma abordagem que mistura moda com elementos da cidade, busca sempre trazer significado e representatividade aos editoriais do projeto, conectando o universo fashion com a realidade local.

“Eu fico responsável pela parte de styling, que é basicamente definir o que a modelo vai usar, e também pela direção criativa. Minha inspiração vem tanto das tendências do momento quanto da cultura de Campo Grande. No nosso último editorial, com a modelo Maia Silva trouxemos elementos como o trabalho dos artesãos e o relógio da Avenida Afonso Pena. Também planejamos fotografar na Rua 14 de Julho, um local com forte valor cultural e um cenário underground”,conta.

O Projeto Blossom desempenha um papel essencial na criação de portfólios e oportunidades para artistas da cena Queer local. Baiflu destaca que a equipe fixa e colaborativa do projeto produz editoriais autênticos e disruptivos, com uma identidade única. “Na moda, especialmente em editoriais, quanto mais ousado e diferente, mais se destaca. E é isso que o Blossom faz: enriquece o portfólio dos profissionais envolvidos com conteúdo criativo e valioso, ideal para quem busca mostrar versatilidade e visão artística”.

Representatividade na moda

Isa Coutinho: O editorial de Setembro, com grande inspiração na eterna cantora Sophie, que completaria 38 anos em 17-10. Juntando com a infinidade profunda do fundo do mar – Foto: Alle Alonso/DivulgaçãoO Projeto Blossom tem um foco forte na representatividade, especialmente ao priorizar corpos trans e travestis como modelos. “A moda é, por si só, elitista e excludente. Nem mesmo pessoas cisgênero, como eu, têm fácil acesso a esse meio. Imagina então para pessoas transexuais e travestis. Inserir esses corpos nos nossos editoriais é uma atitude revolucionária e desafiadora. Ao escolher essas pessoas como protagonistas, estamos realçando sua beleza e colocando-as no centro, como o verdadeiro foco do nosso projeto”, detalha o idealizador.

O impacto do Projeto Blossom na autoestima das modelos é claramente perceptível, Baiflu enfatiza que a experiência foi uma verdadeira virada de chave para as modelos, transformando tanto elas quanto a equipe.

“Muitas modelos deixam evidente como se sentiram transformadas após participarem.Algumas modelos nossas fazem parte da cultura Ballroom, e dentro dessa cultura existe a categoria ‘Face’, que valoriza a beleza do rosto e a confiança. Algumas dessas modelos, antes do projeto, não se sentiam seguras para competir nessa categoria. Mas depois de participarem dos nossos editoriais, elas se sentiram empoderadas o suficiente para se inscreverem. É gratificante ver como o projeto vai além da estética e realmente toca as pessoas, trazendo transformação”.

Chloee Milan: Assim se personificou a modelo na flor do deserto – Foto: Alle Alonso/Divulgação

Futuro

O Projeto Blossom tem se mostrado um grande agente de mudança e representatividade para a comunidade LGBTQIA+ de Campo Grande. Além de destacar o trabalho de profissionais queer, o projeto tem um papel crucial na inclusão de mulheres transexuais, realçando sua autoestima e oferecendo um espaço onde são valorizadas e respeitadas

“O projeto envolve profissionais da comunidade LGBTQIA+ e ajuda a movimentar a cena da moda na cidade, criando um espaço mais inclusivo e representativo.É uma forma de estarem presentes, ocupando esse lugar com orgulho e visibilidade”.

Além disso, Baiflu finaliza afirmando os planos futuros do projeto.O objetivo é alcançar novas audiências e dar voz a quem frequentemente é invisibilizado. E, na parte virtual, o projeto segue crescendo, com planos de chegar a sites de moda nacionais como FFW e Vogue Brasil.

“Queremos expandir para o interior do Estado, produzindo editoriais com modelos transexuais dessas cidades. Sabemos como é desafiador ser LGBTQIA+, especialmente fora da Capital, e queremos dar visibilidade a essas realidades.Estamos com os pés no chão, mas com o coração aberto para ir mais longe”.

Serviço: Para conhecer mais do projeto, visite o perfil oficial da Blossom no Instagram; @blossom.proj

 

Amanda Ferreira

 

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