Primeiro dia de desfiles no Rio emociona e resgata raízes

Foto: Cristiane Mota /Fotoarena/Folhapress
Foto: Cristiane Mota /Fotoarena/Folhapress

A espera foi longa, mas o grupo especial pisou na avenida com uma emoção de como se fosse a primeira vez que desfilava. Com lágrimas nos olhos dos integrantes das agremiações e dos foliões, o sentimento da volta do maior espectáculo do planeta fez o povo cantar e vibrar cada escola. Os desfiles de 2021 foram suspensos em razão da pandemia.

Foto: Erbs Jr. /FramePhoto/Folhapress

A Imperatriz Leopoldinense abriu os desfiles na Marquês de Sapucaí com o enredo que homenageou Arlindo Rodrigues, carnavalesco que ajudou a Verde e Branco a conseguir o seu primeiro título, em 1980. Com o nome de “Trem das Lembranças”, a comissão de frente – composta apenas por mulheres – recriou o trem que se tornou símbolo do desfile de 1981, que também levou a assinatura de Rodrigues e valeu à escola o segundo título no Carnaval carioca. O destaque ficou para a grande carnavalesca Rosa Magalhães, que fez história da agremiação de Ramos e foi ovacionada pelo público quando passou pela Avenida.

Foto: Erbs Jr. /FramePhoto/Folhapress

Segunda escola a desfilar, a Mangueira também decidiu se voltar para sua história e fez do enredo uma grande homenagem que contou a história de três dos maiores baluartes da agremiação: o cantor e compositor Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Delegado (1921-2012). O carnavalesco Leandro Vieira disse que o tapete da Mangueira seria em 50 tons de rosa, e cumpriu o prometido. A agremiação abusou do rosa e teve uns toques de verde, que são as cores do pavilhão, o que relembra os desfiles tradicionais da escola. Figurinha carimbada na Verde e Rosa, Alcione marcou presença em mais um desfile da escola do coração, e foi aclamada quando passou na Sapucaí.

Foto: Erbs Jr. /FramePhoto/Folhapress

O Salgueiro trouxe um desfile emocionante que falou sobre a questão racial. Com o enredo “Resistência”, a comissão de frente, batizada de Akikanju Ijó, que significa ‘Dança dos Heróis’, em Iorubá, homenageou a bailarina Mercedes Baptista, Machado de Assis, Zumbi dos Palmares, Chica da Silva, entre outras grandes personalidades negras. A primeira metade do desfile do Salgueiro na Avenida usou bastante vermelho e branco, e alusão a grandes personagens negros da agremiação e do Brasil. Em um segundo momento, a escola abordou as religiões de matrizes africanas, com a presença de alas em representação de orixás, caboclos, omolokô e um grande carro com cores e esculturas de Iemanjá. A rainha da furiosa, Viviane Araújo, grávida de 5 meses, desfilou vestida de Cabocla Jurema. Em seguida, levou para a Sapucaí as manifestações negras em seus vários campos, como a dança, a arte, o esporte e a culinária. A Vermelho e Branco encerrou o desfile com um protesto contra o racismo. A escola empolgou, o samba foi cantado forte, porém o calcanhar de Aquiles estava lá, e o Salgueiro abriu buracos que podem fazer a escola perder pontos em evolução. A agremiação terminou o desfile dentro do horário.

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

A São Clemente homenageou o ator Paulo Gustavo na avenida, e emocionou pelo enredo. Déa Lúcia, mãe do comediante, apareceu logo em elemento da comissão de frente e foi aplaudida pelos foliões. Thales Bretas, marido de Paulo Gustavo, foi destaque em uma alegoria que fazia alusão aos filhos do casal. A irmã do ator, Ju Amaral, também esteve presente, bastante emocionada em um misto de lágrimas e canto. Outros comediantes que dividiram o palco e as telas com o comediante, também prestaram homenagens na Avenida. Porém a escola enfrentou problemas técnicos. O carro abre alas ficou cerca de cinco minutos parado, sem conseguir ultrapassar o primeiro setor da avenida, o que atrapalhou a evolução da escola. Além disso, um dos tripés teve problema técnico e ficou parado na avenida e apagado. Provavelmente a agremiação perderá pontos preciosos, pois o atraso provocou um buraco entre setores.

Foto: Saulo Angelo/Futura Press/Folhapress

A atual campeã carioca, Viradouro, contou a história do maior carnaval de todos os tempos, que aconteceu em 1919, e foi o primeiro depois da pandemia da gripe espanhola. Com alegorias luxuosas, o samba epistolar que é uma carta de amor ao carnaval empolgou o Sambódromo. A escola começou com elementos bem escuros e aos poucos, ao longo do desfile, foi ganhando luz e cor. A agremiação niteroiense entregou um tapete lindíssimo na Sapucaí. Com uma harmonia de destaque e uma evolução nota 10, a penúltima escola a desfilar vem forte para brigar pelo bicampeonato.

No entanto, em meio ao clima de festa, o acidente que tirou a vida da pequena Raquel Antunes da Silva, 11, se fez lembrar. No fim do desfile da Viradouro, carros alegóricos da escola saiam da Marquês de Sapucaí escoltados por funcionários da agremiação. Guardas municipais e policiais militares acompanhavam o trabalho. A medida foi adotada após a Justiça determinar que todas as escolas de samba façam a escolta de seus carros alegóricos até os barracões, garantido a segurança durante a dispersão.

Foto: Adriano Ishibashi/FramePhoto/Folhapress

A última a desfilar na Apoteose foi a Beija-Flor, que levou ao Sambódromo o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”, que celebrou a contribuição de pessoas negras para a construção do Brasil. A azul e branca de Nilópolis reviveu os tempos de imponência e luxo, foi impecável plasticamente, porém teve sérios problemas de evolução que podem tirá-la da corrida pelo título. Um carro da agremiação emperrou e houve lacuna entre alas no início do desfile.

Hoje (23) desfilam pelo Grupo Especial do Rio de Janeiro as agremiações (horário de Brasília):

Paraíso da Tuiuti: 22h

Portela: 23h

Mocidade Independente de Padre Miguel: 00h

Unidos da Tijuca: 1h

Grande Rio: entre 2h

Vila Isabel: 3h

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