Pretah: uma nova voz da música

Foto: Manu Komiyama/Divulgação
Foto: Manu Komiyama/Divulgação

Cantora Kelly Lopes vem ganhando espaço no cenário musical de MS com luta racial por meio das canções e do talento

No cenário musical de Campo Grande, uma artista se destaca não apenas pelo talento, mas pela coragem de enfrentar as questões raciais que permeiam sua vida. Kelly Lopes tem conquistado os corações do público com sua marcante atuação como cantora e intérprete musical solo. Dotada de uma voz que transita habilmente entre graves profundos e drives poderosos, ela se destaca não apenas pela qualidade vocal, mas também por sua envolvente presença de palco. Com carisma irresistível e a interpretação magistral de excelentes composições de parceiros musicais, Pretah, seu nome artístico, experimenta um crescente reconhecimento, seja nos palcos de bares locais ou em eventos de grande porte.

O ano de 2020 marcou um momento significativo na carreira da cantora, quando ela participou da Lei Aldir Blanc e lançou um emocionante EP ao vivo. Desde então, Kelly tem incorporado essas composições em suas apresentações ao vivo, adaptando-se aos desafios da pandemia e estendendo seu alcance também para o ambiente online. Mesmo diante das adversidades, seu trabalho continuou a ser reconhecido pela originalidade e qualidade, não apenas pelo público, mas também em seleções de projetos relevantes no Estado em 2021.

Projetos de renome, como o Som da Concha e o Festival Campão Cultural, abriram as portas para Kelly Lopes, proporcionando oportunidades valiosas para compartilhar sua arte com um público diversificado. Seu talento e abordagem autêntica também a colocaram em destaque no projeto Vertentes, uma iniciativa do Coletivo Campo Grande Música, consolidando sua posição como uma das vozes mais promissoras da cena musical local.

Luta

Foto: Manu Komiyama/Divulgação

Desde jovem, Pretah adotou esse apelido que se tornou mais do que uma simples identificação, mas uma afirmação de sua força e determinação. Muitos a conhecem apenas por esse nome que, para ela, é uma forma de desafiar as expectativas e enfrentar os estigmas associados à sua cor de pele.

“Pretah é porque eu não tenho medo de carregar essa luta e dar de frente com quem está preocupado em reverter a minha identidade e não olhar para a própria segregação que eles promovem e matam muitos de nós também.”

Apesar de se considerar uma mulher negra miscigenada, Pretah não se esquiva do termo “preta”. Ela entende a importância de abordar o racismo em suas diversas nuances e denuncia a resistência que enfrenta ao falar sobre preconceito racial, dada sua pele mais clara. No entanto, ela reforça a ideia de que a luta deve ser coletiva, independentemente do tom de pele, pois todos sofremos com as consequências do racismo estrutural.

“Estamos num país onde a mistura racial complica a vida de muitas pessoas pretas, pardas, negras… a luta deve ser a mesma contra a discriminação,” ressalta Pretah, destacando a necessidade de unir esforços para combater a segregação e promover a igualdade.

Carreira
Sua trajetória na música começou há exatamente cinco anos, quando mergulhou no cenário musical de Campo Grande. Ao longo desse período, ela explorou seus talentos, conectou-se com pessoas incríveis e consolidou sua presença nos palcos locais. A música não é apenas sua paixão, mas uma ferramenta para expressar sua identidade e resistência.

O samba desempenha um papel fundamental em seu repertório, trazendo essência e conforto ao seu trabalho. Inicialmente envolvida com uma banda de pop rock/MPB, Pretah encontrou no samba a sintonia perfeita para expressar seus sentimentos e dar vida à sua voz única.

“Minhas influências musicais são diversas, passei pelo gospel, reggae, rap, samba, MPB, rock… até me surpreendo por ter me desafiado em vertentes tão diferentes. Que legal que o samba está aflorando, mas acredito que existem outras influências me esperando também. Minhas canções me escolhem,” compartilha Pretah sobre sua jornada musical diversificada.

Em suas palavras, a música é a linguagem universal, capaz de transmitir sentimentos genuínos e preservar a cultura regional. Para ela, é uma maneira de manter viva a verdade de cada um, especialmente em uma era de mudanças e adaptações.

“Para mim, preservar a cultura regional através da música é garantir que o sentimento bom por essa região seja transmitido genuinamente, pois muitas vezes vai se perdendo as tradições conforme o tempo passa. Estamos a cada dia numa nova era, de adaptações a tecnologia, informações falsas, menos sociáveis para aprender com os nossos, então a música mantém a verdade de cada um muito viva e atemporal.”

Ao abordar os desafios enfrentados por mulheres no cenário musical, Pretah destaca a resistência ao patriarcado e a necessidade de manter firmes as crenças e valores. Ela ressalta que ser mulher nesse meio é uma prova constante de resistência, e é essencial não se desvalorizar.

“Na música a nossa voz e opinião, tem menos força. Somos muitas vezes subestimadas, objetificadas em cima do palco. Temos que ter fé nas nossas crenças e valores, e manter isso muito firme, pois ser mulher no meio cultural também caminha para submissão e não precisamos disso, tem que ter cuidado para não se desvalorizar.” Argumenta.

Em relação aos planos futuros, Pretah revela a intenção de investir em materiais audiovisuais mais elaborados, contando com o apoio de amigos e apoiadores. Seus objetivos incluem criar novas estratégias para expandir seu trabalho e sua voz pelo mundo, mantendo, no entanto, um certo mistério sobre o que está por vir.

Lançamento
No último dia 11, Pretah lançou no YouTube o show “Gerações”, realizado no Parque das Nações no ano passado, que contou com a abertura para o renomado artista Criolo. Dedicado a todas as mulheres que lutam contra o preconceito racial e sofrem com o feminismo de bandeira branca, o show reuniu artistas como General R3, Rabelu, Ygor Sanguina, Yasmin Alexandra e Letícia Anacleto.

Pretah não teme carregar sua luta e confrontar aqueles que tentam questionar sua identidade. Sua voz ecoa não apenas nos palcos, mas também na resistência contra o racismo, inspirando outros a se unirem na busca por igualdade e justiça. Em cada acorde e nota, ela reforça que a música é mais do que um meio de entretenimento; é uma poderosa ferramenta de resistência e expressão cultural atemporal.

 

Por Amanda Ferreira

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