Esse 2020 não está fácil. Tanta gente boa indo embora. A lista de artistas parece não ter fim. No Brasil Aldir Blanc, Moraes Moreira, Tunai, Flávio Migliaccio, José Mojica Marins e Daniel Azulay. Na esfera internacional se foram a lenda do rock Little Richard, o astro country Kenny Rogers, Florian Schneider, do Kraftwerk, Ian Holm ator de Senhor dos Anéis e Hobbit e o baterista Neil Peart do Rush. Mais uma vez os noticiários me pegaram de surpresa com outro desfalque no mundo da arte. Eddie Van Halen, icônico guitarrista de uma das bandas de rock mais importantes da história da música fez seu passamento na última quarta-feira, 06 de outubro.
Eu tenho muitos ídolos nas artes e a passagem deles doem como se fosse um amigo próximo, ou até como alguém da família. Levei um bom tempo para assimilar a morte do Mojica, o querido Zé do Caixão e o adeus a Little Richard, a voz endiabrada e o piano visceral do rock’‘n’’roll. Parece que a gente vive todo dia um 7 X 1. Eis que Eddie Van Halen vai embora após uma longa luta contra um câncer de garganta, aos 65 anos e quase não sei o que dizer.
Mesmo sabendo que o guitar hero não estava bem de saúde há um bom tempo, não esperamos o fim. Na minha vida o Van Halen chegou através do álbum ‘1984’, que fui conhecer apenas em 1987. Me lembro de ouvir esse disco no Super Mercado do Disco, que ficava lá na 14 de julho, quase esquina a rua Dom Aquino. Eu que então era contínuo do banco Bamerindus, com meus 15 anos fui conferir se uma crítica da Revista Bizz, publicação inesquecível especializada em rock, tinha razão. E ela tinha.
Na época você podia ouvir os discos na loja e a canção Jump bugou na minha cabeça pueril. Meu Deus, o que foi aquilo! O vocal perfeito de David Lee Roth, o contrabaixo enérgico de Michael Antony, a bateria porrada de Alex Van Halen e principalmente a guitarra virtuosa de seu irmão Eddie Van Halen. O que era aquilo? Como se não bastassem aqueles solos arrepiantes Eddie ainda tocava teclado que era uma grandeza. Entrei no “Super Mercado do Disco” curioso e sai de lá com o bolachão ‘1984’ debaixo do braço. O grande lance deste disco é que ele foi gravado no estúdio caseiro de Edward Van Halen. Um belo trabalho feito em casa.
Outro trabalho memorável da banda foi o disco de estreia, que descobri depois do álbum ‘1984’. ‘Van Halen’, de 1978 está na minha lista de grandes álbuns de rock que escutei nessa vida. As canções “Runnin’ with the Devil”, “Eruption” (uma monstruosidade Instrumental), “You Really Got Me” cover do ‘The Kinks’ e a matadora “Ain’t Talkin’ ‘Bout Love” me deixaram mais fã ainda. Continuei acompanhando o Van Halen após a saída de David Lee Roth e me tornei um grande fã de Sammy Hagar, que assumiu o vocal com muita personalidade.
Algum tempo depois, quantas vezes, em uma edícula nos fundos da casa do baterista Zé Fiúsa, lá no bairro Santo Antônio, eu e o guitarrista Luis Ávila passávamos horas buscando referências para tocar, escutando discos, que foram do jornalista Silvio Andrade, pai do Zé, amigo e colega de profissão, para tentarmos inutilmente tirar de ouvido aquelas músicas dificílimas, sem ainda ter técnica nenhuma, mas cheios de vontade de tocar rock’n’roll.
Edward Lodewijk Van Halen nasceu em 26 de janeiro de 1955, em Amsterdã, na Holanda. Já foi eleito o melhor guitarrista de todos os tempos em votação da Revista Guitar World, e também aparece entre os melhores guitarristas do mundo em vários outros rankings. Eddie Van Halen foi o responsável por popularizar a técnica do tapping, que consiste em utilizar uma ou as duas mãos para “martelar” (tap) notas na escala do instrumento, ligando-as, adquirindo assim efeito de grande velocidade. Essa técnica é utilizada hoje por milhões de guitarristas.
É fato que Eddie Van Halen deixou sua assinatura na história da música, a figura sorridente que se divertia fazendo solos e encantando legiões de fãs vai fazer muita falta, mas o legado está ai. A propósito, eu, Luis Ávila seguimos tocando até hoje cada um com seus trabalhos. Quem sabe um dia a gente se reúne e tenta tocar “Ain’t Talkin’ ‘Bout Love”. Eddie Van Halen, obrigado por ser luz nas trevas de um turbilhão de música descartável.
(Texto: Marcelo Rezende)
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