Além da presença de cantores nacionais como Onze:20, Froid e Flora Matos, festival abriu
espaço para artistas regionais e expositores dos quatro cantos da Capital
A partir do que se viu no sábado (21), no Festival Macunaíma, a frase “aí, que preguiça”, do emblemático herói Macunaíma, não pôde ser levado ao pé da letra. Isto porque, durante o evento realizado na Arena Green Hall, artistas, expositores e público demonstraram que disposição é o que não falta para o sul-mato-grossense. Afinal, após 12 horas de muita música, atrações regionais, nacionais e boa gastronomia, até as últimas horas de festival, o público, que experienciou uma verdadeira imersão cultural diversificada, ainda se mostrava animado, ao cantar de peito aberto os hits da consagrada rapper nacional, Flora Matos.
Entre a variedade de estilos, que saíram desde o pop e funk e escalaram para o reggae, hip hop e rap, o evento altamente plural abriu espaço para que os artistas regionais pudessem expor o seu trabalho, de forma a mostrar que o outro lado da cultura sul-mato-grossense é uma alternativa possível. O produtor cultural, MC Cruel, 26, que há pelo menos oito anos acompanha a evolução da cultura alternativa na cidade, celebrou a realização de um evento dessa amplitude. “Foi lindo demais. Os organizadores pensaram em cada detalhe com muito carinho. Fazer um evento desse tamanho não é fácil, sei porque sou produtor também. Além da variedade de estilos nas atrações principais, os artistas regionais também mandaram muito bem! Espero que no próximo, o espaço para as batalhas de rima seja maior, tivemos pouco tempo pra mostrar o nosso trabalho, mas deu pra galera sentir um pouquinho do gostinho da Batalha da Pista. Que venham mais festivais como esse, só agrega na cultura local”, comemorou o produtor.
A sócia-organizadora, Nathalia Chermont, 27, argumentou que o evento nasceu da junção da sociedade entre quatro cabeças pensantes, que possuem experiência na realização de eventos e que há pelo menos seis meses, travaram a batalha de trazer mais diversidade cultural de qualidade para o Estado. “É um projeto muito louco, a gente pesquisou bastante, pensamos muito na galera que migra de Campo Grande para o interior de São Paulo e grandes capitais, a fim de assistir eventos e prestigiar artistas que dificilmente vem pra cá. Estamos em uma cidade onde o sertanejo e o pagode imperam, então tentamos ouvir todos os públicos, pesquisar o que eles queriam ouvir, fomos atrás, fizemos uma curadoria dessa pesquisa para criar esse evento, que tem bastante storytelling desde o nome, para sentir o que a galera queria ouvir, o que eles queriam experienciar e esperavam do evento”, pontua.
O tatuador, Lucas Loureiro, 28 anos, comenta que o espaço aberto em eventos de grande público, como o Macunaíma, gera uma visibilidade interessante para os artistas e expositores, ao mostrar que existe qualificação no que é oferecido dentro do Estado, mas que muitas vezes não chega ao conhecimento do público. “Eu acho muito massa quando o pessoal de produção de evento abre espaço pros artistas locais, nós temos muitos artistas bons aqui na cidade, o problema é a baixa visualização. Quando tem espaço pra gente mostrar o nosso trabalho, é sempre muito bom. O pessoal conhece a nossa arte, passa a saber que você existe e, que talvez, não precise procurar em outra cidade por uma coisa que nós oferecemos aqui”, destaca o tatuador.
Ninguém começa de cima
Com um show embalado por músicas autorais e que marcam gerações, a banda Onze:20 não exitou em transitar por outros ritmos, chegando até mesmo a embalar o público com um tradicional e aconchegante pagode. Em entrevista ao jornal O Estado, o vocalista “Vitin”, explicou que parte da mistura e de toda a diversidade trazida em palco, faz na verdade, parte da proposta inicial da banda, que destacou durante o show a importância da valorização do artista regional e dessa diversidade. “A gente frisa mesmo, para lembrar todo mundo sobre apoiar a cena musical da cidade de vocês. O Onze:20 só existe porque nós fomos apoiados pela cena musical da nossa cidade, que nos apoiava e nos levava para a frente. Ver tudo que a gente representa hoje para a molecada, para a galera que tá no palco mesmo não sendo a galera do reggae – porque teve a galera do rap, do hip hop, isso pra gente é um prazer imenso. A mistura que o Onze:20 se propôs a fazer desde o início da carreira, que é misturar o reggae com rock e tudo que houver na música brasileira, só mostra que a gente tá no caminho certo”, argumentou Vitin.
Quem não deixou de falar sobre a força que a cultura alternativa tem e a importância de produzir uma arte genuína e verdadeira, foi a segunda atração da noite no palco dos artistas nacionais, o rapper Renato Alves, também conhecido como Froid. Para ele, hoje uma das maiores dificuldades de ser um artista independente, é remar contra a maré de uma cultura que normalizou a industrialização da arte. “A gente quebrou os paradigmas e isso é resultado de uma luta que parece que a gente tá vencendo. Eu me sinto um guerreiro. Ser um artista independente no mundo, onde tem muita coisa genérica, tem sido a minha maior dificuldade na questão da criatividade. Ficar em dúvida se crio algo genérico e faço parte da manada, ou se tento sobressair e fico de fora, sem nada. A maior dificuldade é transgredir sem perder a essência. Tentar continuar no caminho da cultura e evoluir para os lugares certos e pelos caminhos certos, mas é difícil, vamos tentando”, afirmou o rapper.
Para fechar o evento com chave de ouro, a terceira atração nacional da noite, a cantora Flora Matos, chegou ao palco metendo banca, ao iniciar a cantoria com a música “Ser Sua”. Sinônimo de presença e irreverência digna de seus anos de trajetória no rap, Flora embalou a noite com alegria e sensualidade. Como uma cereja no bolo da festa que celebrou, sobretudo, a união de culturas, a rapper mostrou que seu olhar plural não faz acepção de pessoas, e convidou a “galera do fundão” para ocupar o espaço vazio na área vip, fazendo com que as pessoas, que antes estavam separadas pelas grades, pudessem se tornar um só coro até o encerramento do show, que finalizou ao som de “Piloto”, música da cantora que é parte de uma das trends mais famosas na atualidade nas redes sociais e segue como hit do momento, sendo uma das mais tocadas no top 10 do Brasil, ao ocupar a 5º posição até o último domingo (22).
Por Julisandy Ferreira.