Jacqueline decide enfrentar o câncer de forma otimista e sem perder a esperança
Secretária bilíngue há mais de 25 anos, Jacqueline Zarour Chaves, é filha de mãe árabe, pai italiano, e sempre gostou de cuidar de todos, tomando a frente de situações que, muitas das vezes, nem dela são, com o intuito de ver todos bem e em paz. Há pouco tempo, no entanto, ela recebeu um diagnóstico que poderia virar seu mundo de pernas para o ar: o de câncer de mama.
A história de Jacqueline chegou até nós, no final do mês de outubro, conhecida pela campanha de conscientização contra o câncer de mama, mas não poderíamos deixar de contar a vocês, leitores, apesar de o Outubro Rosa já ter chegado ao fim. A história dela passa uma mensagem de otimismo, esperança e de que é possível, sim, enfrentar adversidades com o coração leve e a alma em paz.
É claro que, como toda e qualquer situação que envolva uma condição grave, há um baque inicial e, com Jacqueline, não foi diferente. “Foi muito ‘anestesiante’, se assim posso descrever. Em maio eu estava fazendo exames para troca de uma prótese de mama, com resultados maravilhosos. Com a troca da prótese com sucesso total e, em julho, eu já estava fazendo exames para diagnóstico de qual câncer seria o meu, fui diagnosticada em meados de julho”, contou ao jornal O Estado.
Apesar do choque, o apoio da família e de amigos foi importante e fez toda a diferença na batalha que se iniciava para a secretária. “Eu fui tão abraçada por minha família e amigos próximos, que não tive tempo de ver o que estava me aguardando. E, quando comecei fazer as quimioterapias, eu comecei com as ‘vermelhas’, avassaladoras, foram quatro ao todo. Somente na terceira comecei entender o que me aguardava, e na quarta, eu fiquei bastante abatida. Mas tenho tanto apoio de meu esposo, meus filhos, meu genro, meus amigos, meus colegas, meu médico, que a gente tira força de Deus para poder levantar da cama a cada manhã e conseguir sorrir em gratidão ao amor de cada um deles.”
As “vermelhas avassaladoras” às quais Jacqueline se refere são as sessões de quimioterapia vermelha, considerada pelos pacientes como sendo a mais forte, com efeitos colaterais mais intensos e que tem a coloração avermelhada porque os medicamentos que a compõem assumem a cor rubi, quando diluídos.
Para quem está começando agora a mesma batalha, Jacqueline aconselha calma, fé, que essas pessoas se cerquem de amor e, o mais importante, segundo ela, é manter a serenidade. “Tenha muita calma. Acredite em seu médico. Se apoie nos seus amados e seus próximos, eles são ‘muletas’ para toda hora. Não tenha receio e nem medo de encarar seu rosto no espelho quando seus cabelos caírem. Coloque um brinco lindo e um belo batom! Nós somos lindas de todas as formas, e de todas as maneiras. Precisamos buscar isso dentro de cada uma de nós. Tenha certeza de uma coisa: estar bem consigo ajuda muito no tratamento!”
E em seguida, ela conclui, complementando. “Esses momentos de tratamentos são uma fase, e toda fase tem início, meio e fim! Portanto, creia no Senhor que tudo já está resolvido, que os meses de tratamento passam voando, mesmo em meio a tantos medos, dores, risos e amores. Tudo vai passar…”.
O esteio de Jacqueline
Como ela mesma afirmou, o apoio que recebeu da família foi e está sendo primordial para aguentar a nova realidade temporária. O marido de Jacqueline, Vladimir de Carvalho, afirma que receber a notícia o deixou abalado. “No primeiro momento a gente fica um pouco abalado, a gente não espera por esse diagnóstico, ainda mais a Jacqueline, que sempre cuidou da saúde. Mas logo vem a esperança da cura, tiramos força em Deus. O tratamento é um tanto agressivo, mas muito eficiente, o câncer diminuiu bastante, a cura é certa, em nome de Jesus”.
A filha de Jacqueline, Giovanna Zarour Chaves, afirma que ficou bastante calma, apesar do susto que uma notícia dessas proporciona e que sabia que uma longa batalha se aproximava, já que, mesmo com todos os cuidados que sua mãe sempre teve, ainda houve um diagnóstico de câncer. “Minha mãe sempre foi muito cuidadosa com sua saúde, mantinha uma rotina de médicos, exames com frequência, e mesmo assim, tivemos essa imensa surpresa do dia para a noite. Jacqueline é uma mulher muito alto astral, aquela que sempre esteve disposta a ajudar e servir, principalmente, temente a Deus, e isso nos encorajou muito mais em viver e batalhar junto com ela. O Câncer nos ensina a viver um dia de cada vez, que a ansiedade não leva a nada e com isso aprendemos a dar mais valor e sentido a vida”, conta.
O irmão de Giovanna, João Newton Zarour, conta que quando soube da suspeita de câncer da mãe, estava a mais de 1.000 quilômetros de distância da Capital, e nos conta o que Jacqueline fez após o diagnóstico. “Foi ao cabeleireiro e já fez um corte curto antes da químio, e depois eu ainda a levei duas vezes para cortar. E não vou mentir: a cena de ver ela encarando seu rosto no espelho e vendo que estava diferente mexeu muito comigo, ela olhava desacreditada com a mudança, muito pelo fato de ser uma mulher vaidosa e com grande cuidado com seus cabelos. Hoje, minha mãe sofre com as quimios, porém logo em seguida ela se coloca em pé e já se prepara para enfrentar a semana, Deus tem nos mantido firmes todos os dias e quando recebemos a notícia que o tumor reduziu mais de 70% eu só fiz agradecer por tudo”.
Como comemoração, Giovanna e João Newton prepararam um ensaio surpresa para a mãe, como uma forma de comemorar. “Fizemos um grande ensaio surpresa para mamãe, para comemorar e para simbolizar a virtude de ser mulher em um mês que apoia todas as mulheres que sofrem com câncer de mama e demais tipos de CA. Mãe você é uma guerreira, eu tenho orgulho de ti, porque não largou o osso e não se fez de vítima nenhuma vez. Te amo”, conclui, de forma carinhosa, o filho.
Saúde mental
Conforme nos comenta a psicóloga Fabiana de Almeida, no que se refere à saúde mental, vários aspectos podem ajudar e, entre eles, a autoestima e as potencialidades da pessoa, para que ela possa se fortalecer. Além disso, ela salienta que o apoio da família ajuda a aliviar o fardo da doença. “A mulher ali, naquele momento, sente que não está sozinha e que tem com quem contar diante o tratamento, muitas vezes doloroso, mas que com o apoio deixa de ser tão pesado. É importante a mulher se deixar ser cuidada, ela que muitas vezes cuida das pessoas em sua volta, vai precisar deste apoio. Também é importante saber que existem outras redes de apoio, como o psicólogo, ou grupos de mulheres que passam ou já passaram por isso”.
Fabiana nos explica que, quando o tratamento é muito invasivo, pode vir a afetar os hormônios de prazer responsáveis pelo bem-estar, também afetando a autoestima. Sendo assim, a pessoa pode se perceber como uma pessoa vulnerável diante do CA de mama. “A autoestima tem uma relação direta com a nossa autoimagem, que é como eu me vejo e percebo. Durante o tratamento, a feminilidade – representada pelo cabelo e seios – são diretamente afetadas, baixando assim a autoestima, pois afeta o modo de se perceber como mulher.”
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS.
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