Crianças aprendem a sonhar por meio da música orquestral
Nem todos sabem, mas Campo Grande se destaca, também, pela música orquestral, que reúne profissionais de grande talento, altamente gabaritados e, até, com experiência internacional. Assim, neste aniversário de Campo Grande, o jornal O Estado foi conversar com os responsáveis pelo grupo, o maestro Eduardo Martinelli, já conhecido regente, e com o coordenador do projeto, Jardel Tartari, sobre a Orquestra Indígena de Campo Grande, confira.
De acordo com Jardel, coordenador e professor do projeto, a orquestra teve início no final de 2015, praticamente em 2016, e é uma realização da Fundação Ueze Zahran, com vários apoios, inclusive institucional, da Aldeia Urbana Darcy Ribeiro, dos pais das crianças, do Instituto da Cultura Indígena, atualmente é patrocinado pela Copa Energia e é uma iniciativa que hoje atende mais de 30 crianças, todas alunas de rede pública local e da comunidade indígena, principalmente.
“Sem dúvida, a principal mudança que vimos nesse projeto é a valorização da cultura indígena, porque acabamos trabalhando com a música indígena, com a música mundial e, de certa forma, trabalhando exclusivamente com músicas da comunidade, da cultura indígena, e isso acabou trazendo uma valorização, de certa forma, para eles, que estavam de muitas formas perdendo o contato com a cultura indígena”, explica o coordenador.
Para Eduardo Martinelli, professor e regente do projeto, um dos maiores desafios enfrentados em todos os anos de existência foi justamente a pandemia de COVID-19, mas que o maior desafio acaba sendo sempre o mesmo: “O desafio maior é realmente manter a criança no projeto, criar os estímulos necessários para que o projeto tenha continuidade, para que se desenvolvam, porque aprender música é uma coisa demorada. A gente tem que trabalhar bastante o psicológico dos meninos, fazer um passo a passo do ensino musical bastante adequado para que não tenha entraves, para que as coisas sejam fliuentes. E é com isso que a gente consegue manter a atenção e a continuidade do desenvolvimento do projeto”.
Valores
Em 22 anos atuando em projetos sociais semelhantes, o regente afirma que o que mais percebe nas crianças é a maneira diferente de elas enxergarem valores e a reafirmação de suas capacidades. “Você não pode pegar
nem um milhão de reais, ou de dólares ou de qualquer coisa e, de uma hora para outra, pegar uma criança e falar ‘agora você toca isso’. Se ela não sabe tocar, não vai ter dinheiro que faça isso acontecer. Então, o valor de uma construção, o valor de aprender alguma coisa, o valor de desenvolver uma habilidade, faz com que o jovem ou a criança tenha uma visão diferente do que ela é, do que é capaz de fazer, de como se faz as coisas. Às vezes eu brinco com eles, são coisas assim que o dinheiro não compra de uma hora para outra, e normalmente são essas coisas que têm mais valor.”
Diferencial
Um dos diferenciais do projeto, de acordo com Martinelli, em relação a outros, é que é feito um trabalho de
valorização da cultura indígena, por meio de arranjos orquestrais para canções que eram transmitidas apenas pela tradição oral indígena. “A gente tem, já, uma inserção de várias peças que são peças tradicionais de folclore indígena, porque o ensino do instrumento traz consigo já um repertório tradicional, de música clássica, de música popular brasileira até, e e acho que é bem bacana a gente poder fazer uso dessas ferramentas também, para que a gente possa fazer arranjos, adaptações de canções nesse sentido, de música tradicional indígena.”
Violino e violoncelo
Karly Stéfany da Cruz Maciel, 16 anos, violinista, fazer parte do projeto é algo que a faz feliz. “O projeto me trouxe mais conhecimento da música, pretendo continuar nos estudos e fazer faculdade de música. Nas primeiras apresentações fiquei muito feliz e nervosa”, relembra a adolescente.
Já Dinacleia Pires Arruda, de 16 anos, violoncelista, afirma – brincando e entre risos – que entrou para a orquestra quando ainda era um bebezinho. “Me sinto feliz fazendo parte da orquestra, desde quando começaram o projeto, eu até chorei para conversar com a minha mãe e com o meu pai, falei que eu queriaparticipar, e eles me colocaram. Lá eu tinha os meus colegas, que hoje não estão mais aqui”.
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