‘Ocupa Suburbanas’ leva Hip Hop feminino, grafite e ancestralidade a escolas de Campo Grande

Foto: Arquivo do coletivo
Foto: Arquivo do coletivo

O objetivo mostrar que a cultura pode ser acessível a diversos públicos

 

Com oficinas, vivências e apresentações, o projeto ‘Ocupa Suburbanas: Do Pantanal ao mundo – Mulheres, Hip Hop e Ancestralidade’ trouxe para as escolas públicas de Campo Grande o protagonismo feminino da cultural hip hop. Idealizado pelo Coletivo Suburbanas, o primeiro coletivo de hip hop feminino pantaneiro do Estado, o projeto reúne poesias, DJ, dança, graffiti e conhecimento. O projeto será finalizado no dia 19 de setembro, na Escola Municipal Licurgo de Oliveira Bastos.

As atividades começaram no dia 3 de setembro na CUFA (Central Única das Favelas) de Campo Grande, e seguiram em 5 de setembro na Escola Tomaz Ghirardelli, depois em 9 de setembro na Escola Estadual Profª. Neyder Suelly Costa Vieira e na Escola Estadual Aracy Eudociak. O ‘Ocupa Suburbanas’ promove encontros que unem criatividade, educação e ancestralidade, mostrando a potência do Hip Hop como instrumento de transformação social e afirmação cultural. Entre as ministrantes estão mulheres referências da cena, como Serena MC, Perséfone MC, Teka, B-girl Lorra, Najja e Jéss.

Foto: Arquivo do coletivo

A produção é assinada pela Afronta Produções, por meio de Jéssica Cândido (Jéss) e Kauan Barbosa, e o projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc 2025, via edital da Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul.

Segundo a idealizadora do projeto, Jéssica Cândido, conhecida como Jéss, a recepção nas escolas tem sido “incrível”, tanto dos alunos quanto da coordenação das unidades de ensino. “Tínhamos um limite de até 40 alunos para as oficinas, mas em todas, o número passou, porque a coordenação ou direção pedia: ‘Ah, tem outros alunos interessados, dá para dar uma passada?’. E a gente sempre deixava. É só a primeira edição do projeto, mas já tem sido tão impactante que outras escolas têm nos procurado”, revela.

Escolas dos bairros Dom Antônio Barbosa, Aero Rancho e Tijuca, além da CUFA, foram contempladas com as oficinas nos últimos dias.

“Foi incrível, sempre com outros alunos de outras turmas dizendo: “Ah, também queria estar! Tem sido fantástico, muito acolhedor. Todas as escolas têm nos recepcionado com muito respeito, conhecendo nosso trabalho e muito abertas para trazer cultura e arte, além de enxergar essa necessidade de estarem abertas a isso. Tanto que ontem, na escola Neyder, falaram que querem que a gente volte. É uma escola integral, e os alunos precisam de mais eventos e oficinas, porque passam o dia inteiro na escola. Isso é muito necessário, eles se interessam demais. Tem sido realmente fantástico”, reforça.

Processo

Segundo Jéss, as oficinas são dinâmicas e percorrem cinco elementos da cultura hip hop: break dance, DJ, grafitti, MC e o conhecimento. “Na oficina de conhecimento trazemos o histórico do hip hop, o resgate mesmo, porque todas as escolas são periféricas, inclusive a CUFA. Então, a gente cria essa conexão de novo, e eles [alunos] são muito conectados. Mesmo que às vezes não conheçam as terminologias ou não saibam que a cultura hip hop tem cinco elementos, eles conhecem os elementos”, explica. “A gente faz essa ponte, esse resgate histórico, de conhecimento e de ancestralidade, trazendo também para essa frente feminina, já que todas as oficineiras são mulheres”.

Um dos diferenciais do Ocupa Suburbanas é o compromisso com a acessibilidade cultural. Todas as atividades contam com a parceria da Comunique Acessibilidade, garantindo tradução em Libras, audiodescrição e recursos de comunicação inclusiva para que pessoas com deficiência possam participar plenamente das oficinas e vivências. Essa preocupação reafirma a proposta do projeto de democratizar o acesso à cultura, ampliando o alcance e fortalecendo a inclusão social através da arte.

“O Ocupa Suburbanas é mais do que um projeto cultural, é um movimento de resistência e afirmação das mulheres no Hip Hop. Estamos muito felizes em levar essa arte para escolas e espaços comunitários, e acreditamos que essa troca vai fortalecer ainda mais a identidade periférica e a valorização das nossas ancestralidades”, afirma a produtora Jéssica Cândido.

Lugar delas

Na próxima oficina, o coletivo contará com a oficina de grafite de Thaís Mais e de break dance com Lua Mendes. Jéss destaca a força que é construir um coletivo constituído por mulheres e com um homem trans na produção, que fortalecem o diálogo com as escolas, mostrando uma vertente diversa para os alunos.

“Dali se criam frutos, se descobrem talentos, se plantam sementes. Acho que é esse o espaço que precisa receber mais projetos. Eu acredito que o governo e a Secretaria de Educação têm todo um cuidado de repassar para as escolas, mas a gente sabe que, às vezes, algumas delas têm uma resistência muito grande, e não deveria ser assim. As escolas deveriam estar sempre de braços abertos para projetos culturais, de formação”, opina.

“Acredito que a gente existe para realizar esse tipo de ação também. Nós somos um coletivo, e o coletivo precisa dessa manutenção, de oficinas, de formação, de troca. O Ocupa Suburbanas surgiu nessa perspectiva: de conexão, de ancestralidade, de mostrar que o hip hop pantaneiro existe e que ele é feito por mãos de mulheres, de pessoas trans, de pessoas pretas, indígenas. E é isso que a gente leva para as escolas: uma cultura periférica, que nasce nas periferias, que promove transformações sociais desde sua origem e continua promovendo até hoje”, finaliza.

 

Por Carolina Rampi

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