“O agente secreto” estreia nesta quinta (6) nos cinemas

Fotos: Vitrine Filmes
Fotos: Vitrine Filmes

Filme político e sensorial, marca o retorno de Kleber Mendonça Filho aos cinemas com uma narrativa intensa sobre memória, poder e resistência

Estreia hoje, 6 de novembro, nos cinemas brasileiros, “O Agente Secreto”, nova obra de Kleber Mendonça Filho, diretor de sucessos como Bacurau e Aquarius. Com 2h41min de duração, o longa mistura drama e suspense policial em uma narrativa densa e atmosférica. Estrelado por Wagner Moura, Gabriel Leone e Maria Fernanda Cândido, o filme foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2026 de Melhor Filme Internacional.

Ambientado em 1977, o enredo acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor de tecnologia que deixa a agitada São Paulo e se muda para Recife, tentando se afastar de um passado violento e recomeçar a vida. No entanto, ao chegar à cidade durante o Carnaval, o personagem se vê gradualmente cercado por uma atmosfera de vigilância e paranoia, vizinhos curiosos, olhares desconfiados e um sentimento de que o caos que ele tentava evitar o seguiu até ali.

Com fotografia meticulosa e uma trilha sonora que evoca o clima político e cultural da época, Kleber Mendonça Filho mais uma vez utiliza o cinema como lente para refletir sobre o Brasil e suas tensões sociais. “O Agente Secreto” busca ser não apenas uma imersão psicológica na mente de um homem atormentado, mas também uma crítica sutil ao controle, à violência e à memória nacional, marcas registradas na filmografia do diretor pernambucano.

Foto: Vitrine Filmes

Produção

Segundo dados divulgados pela Veja e pelo portal O Vício, o filme arrecadou R$ 1,36 milhão durante suas sessões de pré-estreia, realizadas nos dias 26 de outubro e 1º de novembro, atraindo 58.440 espectadores em todo o país. Apenas na última prévia, em 1º de novembro, a produção registrou R$ 699.590 em ingressos vendidos.

Com exibições antecipadas em mais de 306 salas de cinema, a média foi de aproximadamente 191 pessoas por sessão, número expressivo para uma obra de arte nacional de tom autoral e político. Produzido em uma parceria internacional entre Brasil, Alemanha, França e Holanda, o filme contou com um orçamento estimado em US$ 4,7 milhões (cerca de R$ 25,2 milhões na cotação atual).

O filme estreia nos cinemas da Alemanha e de Portugal, antes de seguir para uma turnê pelos Estados Unidos, com exibições confirmadas em Nova York, Los Angeles e outras cidades norte-americanas nas próximas semanas. A estreia na França está prevista para meados de dezembro.

A trajetória do longa já vinha se destacando no circuito de festivais, onde acumulou quase 20 prêmios e diversas indicações em eventos de renome. Entre os destaques, estão participações de peso no Festival de Cannes e no Gotham Awards.

Foto: Vitrine Filmes

Crítica da reportagem

A reportagem do Jornal O Estado esteve presente durante a sessão de pré-estreia em 26 de outubro, e a primeira impressão foi desafiadora. O ritmo pausado e a narrativa contemplativa, marcas registradas do cinema de Kleber Mendonça, podem causar estranhamento em quem está acostumado a filmes mais convencionais. Admito: não me conquistou de imediato, talvez porque minha única referência anterior fosse Bacurau. No entanto, à medida que as cenas se acumulam, cada imagem, som e gesto começam a revelar significados sutis, compondo uma experiência cinematográfica que cresce com o tempo e se impõe pela força simbólica.

Mendonça constrói sua trama em um Recife de 1977, pleno Carnaval, mas em meio às sombras da ditadura militar. Cada elemento de cenário, de uma rua suada à fachada de um cinema antigo, funciona como memória viva de uma cidade que resiste.A direção aposta em pequenos detalhes para tecer um mosaico de tensões políticas, sociais e morais, transformando o cotidiano em metáfora da própria corrupção enraizada no país.

O longa é uma ficção de suspense político, que revela um Brasil sufocado por poder, manipulação e violência institucional. Do jornalismo à polícia, nada escapa da crítica mordaz do diretor. O elenco é um dos grandes trunfos da produção: Tânia Maria, aos 78 anos, rouba a cena como a enigmática Dona Sebastiana, enquanto Maria Fernanda Cândido entrega uma atuação precisa como Elza, mulher de coragem e mistério.

A reconstituição de época impressiona figurinos, automóveis, cortes de cabelo e até o granulado da imagem nos transportam para o final dos anos 1970. Algumas sequências, gravadas dentro do histórico Cinema São Luiz, evocam o espírito nostálgico de Cinema Paradiso, com exibições simbólicas de Tubarão, O Iluminado e A Profecia.

Fotos: Vitrine Filmes

Crítica Especializada

Segundo análise publicada no AdoroCinema pela jornalista Aline Ferreira, O Agente Secreto reafirma a relação profunda que Kleber Mendonça Filho mantém com o próprio ato de fazer cinema. A presença constante das salas de exibição dentro do filme não é apenas estética, é autobiográfica. Cada cenário, cada fragmento de Recife, reflete as memórias e o olhar do diretor sobre o mundo. Aline destaca que Mendonça insere sua vivência de forma orgânica e confiante, transformando a cidade e o cinema em extensões naturais de sua identidade artística.

Já o crítico Guilherme Jacobs, do portal Omelete, destaca que o longa encerra sua narrativa com uma melancolia densa e inevitável. Mais do que o desfecho de uma trama, o sentimento vem da constatação de que a destruição, de vidas, espaços e memórias é parte recorrente da história brasileira.

Para Jacobs, Mendonça vai além da crítica à ditadura: ele revela um ciclo de perdas e reconstruções que acompanha o país há décadas. Assim, O Agente Secreto se transforma em um épico sobre o esquecimento e a resistência, expondo, por meio da espionagem e da busca por verdades ocultas, tudo aquilo que o Brasil insiste em esconder sob o tapete da própria história.

 

Amanda Ferreira

 

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *