Mato Grosso do Sul ainda é a terra do sertanejo. Com uma de suas principais atividades econômicas sendo o agronegócio, o Estado do Pantanal ainda anda a passos lentos quando é a variedade de gêneros musicais, mas ainda há quem resiste, e que já está tirando frutos da luta. A cena do reggae cresce em Campo Grande, com eventos como o Bloco Reggae, durante o Carnaval, e o Dreads Day. Esta terça-feira (1) é ainda mais simbólica: a data é marcada como Dia Internacional e Estadual do reggae.
Em 2024 o Projeto de Lei 118/2024, protocolado pela deputada Gleice Jane (PT), instituiu o Dia Estadual do Reggae no dia 1º de julho. A data presta homenagem ao músico Lincoln Gouveia e coincide com o Dia Internacional do Reggae. Ex-vocalista da banda Canaroots e ícone do reggae, ele faleceu em junho de 2021, em Campo Grande.
“Celebrar essa data é manter vivo o legado de quem plantou as sementes dessa cultura aqui, e também fortalecer as novas gerações que seguem espalhando mensagens de paz, consciência e resistência através da música reggae”, disse ao jornal O Estado o Presidente da Associação Reggae de Mato Grosso do Sul e idealizador do Bloco Reggae, Diego Manciba.
“Nosso desafio agora é transformar esse reconhecimento em ações concretas: eventos, políticas públicas e espaços permanentes para o reggae se expressar com dignidade e força em todo o Mato Grosso do Sul”.
Ele cita a resistência de nomes pioneiros na cena do reggae no Estado como Rasdair da Mata, que possuia um programa dedicado ao gênero, e Caio Ignácio.
“A gente sabe que o reggae não faz parte do mainstream local e mundial, mas ele pulsa com força nas periferias, nos coletivos independentes, nos sound systems artesanais e nas bandas formadas por jovens que acreditam nas mensagens através da música como ferramenta de transformação. Nosso papel é abrir espaço para essas vozes, dialogar com as políticas públicas e mostrar que o reggae também é parte da identidade cultural sul-mato-grossense — mesmo que muitas vezes silenciado ou invisibilizado”, complementa.
Mas, ele vai muito além da música. Segundo Manciba, o reggae em Campo Grande é um instrumento de formação humana e cultural para crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade por meio de projetos.
“O reggae carrega mensagens de paz, amor, respeito e consciência social — valores que, quando vivenciados desde cedo, se transformam em caminhos possíveis para quem muitas vezes só encontra barreiras. A cultura reggae cria pertencimento. O jovem que sobe num palco, participa de uma roda de conversa, ou simplesmente escuta uma letra que fala de justiça e espiritualidade, está sendo tocado por algo transformador”, destaca.
“Por isso a gente insiste tanto: o reggae é resistência, mas também é cura, educação e construção de futuro. Em um mundo tão acelerado e desigual, o reggae ensina a olhar o outro, a respeitar as raízes e a sonhar de pé no chão. O reggae aqui sobrevive porque é verdadeiro, e segue crescendo porque representa valores que ultrapassam os rótulos de mercado. A luta é diária, e seguimos fazendo o melhor que a gente pode!”, finaliza.
No mundo
O Dia Internacional do Reggae foi estabelecido de forma oficial pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2018, reconhecendo a influência global do reggae como promotor do amor, paz e conscientização social. O gênero surgiu na Jamaica, na década de 1960, combinando elementos musicais de gêneros como ska, rocksteady, mento e rhythm and blues. Bob Marley, juntamente com sua banda The Wailers, se tornou uma figura icônica do reggae, levando a música jamaicana para uma audiência internacional. Além de sua importância musical, o reggae é conhecido por sua mensagem de esperança, justiça social e luta contra a opressão.
Por Carolina Rampi
Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram.