Espetáculo reúne dança, música e poesia em uma homenagem à cultura sul-mato-grossense, com apresentações em três cidades do Estado
Entre os dias 7 e 13 de maio, o espetáculo Música Poética toma conta das três principais cidades de Mato Grosso do Sul, celebrando a identidade cultural do estado por meio de uma fusão artística entre dança, música e poesia. Com apresentações gratuitas, o projeto reúne no palco dois grandes nomes da música regional, Geraldo Espíndola e Márcio De Camillo, ao lado da Orquestra de Câmara do Pantanal e da Cia de Dança do Pantanal, em uma jornada sensível e vibrante pelas raízes pantaneiras.
Idealizado pelo Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, o projeto foi contemplado com recursos da Lei Paulo Gustavo e apresenta um repertório que vai de canções consagradas como “Me Deixar Levar”, “Quiquio”, “É Necessário” e “Vida Cigana” até a inédita “A Terra e uma Canção”, composta por Márcio De Camillo e Geraldo Espíndola especialmente para o espetáculo. Em cena, as composições costuram a trajetória de dois artistas que traduzem a alma do MS em sons e palavras, enquanto as coreografias da Cia de Dança do Pantanal transformam o palco em uma paisagem explorando gestos, o corpo e o sentimento de pertencimento à terra pantaneira.
Música Poética nasceu de uma poesia e, segundo Márcio De Camillo, o nome do espetáculo já existia antes mesmo da melodia. “Primeiro veio a palavra, depois a música”, conta o artista para a reportagem. Durante a composição, ele compartilhou cada verso com a poeta e escritora sul-mato-grossense Márcia Rolon, a quem ele se refere como “madrinha da canção”. “Quando terminamos a música e gravamos, a primeira pessoa para quem enviei foi a Márcia”, relembra.
A ideia de unir forças com Geraldo Espíndola e com o Instituto Moinho Cultural surgiu em seguida, fortalecendo ainda mais o conceito de um espetáculo coletivo, sensível e profundamente enraizado na cultura do Mato Grosso do Sul. Outro nome essencial no processo criativo foi o do artista visual e fotógrafo Helton Pérez (Vaca Azul), responsável pela arte da capa e pela direção do videoclipe da canção inédita A Terra e uma Canção.

A dança: As coreografias da Cia de Dança do Pantanal enchem o palco de beleza e delicadeza – Foto: Alice Aquino/Divulgação
Palavras antes da Música

Som e Poesia: Geraldo Espíndola e Marcio de Camillo, duas gerações ligadas pela poesia pantaneira – Foto: ice Aquino/Divulgação
Márcio De Camillo descreve, para o Jornal O Estado, como uma emoção indescritível a oportunidade de dividir o palco com Geraldo Espíndola, a quem considera um mestre, em uma união de vozes e gerações que expressa o amor pela natureza e a urgência de sua preservação.
“Minha história com Geraldo começou com meu primeiro CD (olhos d’água) em 1995, quando gravei a canção “Vida Cigana”. A música acabou entrando nas rádios, principalmente no interior de São Paulo, e foi algo muito importante para o meu trabalho inicial. Ali, nasceu uma conexão maravilhosa entre nós”, relembra o artista.
Desde muito tempo, Márcio De Camillo alimentava o desejo de compor uma canção em parceria com Geraldo Espíndola. A oportunidade surgiu quando escrevia uma poesia inspirada na arte poética das décimas, ainda sem título definido. Ao finalizar o texto, decidiu enviá-lo a Geraldo, perguntando se ele colocaria melodia nas palavras. A resposta foi imediata e positiva, e a partir daí os dois iniciaram a construção da canção inédita que integra o espetáculo.
“Ela carrega uma mensagem muito importante: o cuidado com a natureza e a preservação do nosso Pantanal. Acredito que essa causa esteja em total harmonia não só com o pensamento do Geraldo, mas também com o meu”, afirma Márcio.

Foto: Alice Aquino/Divulgação
Para Geraldo Espíndola, o espetáculo também representa um encontro potente entre talentos do Mato Grosso do Sul. “Esse é um espetáculo que reúne três das coisas mais lindas que temos para mostrar em Corumbá e no Pantanal: a arte do Moinho Cultural por meio da dança e da orquestra, formada por talentos que nasceram e cresceram no próprio Moinho e eu sou testemunha disso. Também une a minha obra com a do grande compositor e músico Márcio De Camillo, em um encontro artístico muito especial. É um espetáculo emocionante e vibrante, que, na minha opinião, merece ser visto pelo mundo inteiro”, declara.
Apesar de pertencerem a gerações diferentes da música sul-mato-grossense, Márcio De Camillo acredita que a arte não tem idade. Para ele, há uma admiração profunda pela obra de Geraldo Espíndola, especialmente pela maneira como o compositor constrói suas canções, pensa a melodia e elabora as letras.
“Para mim, foi uma oportunidade incrível compor nossa primeira canção, e acredito que essa primeira composição traz muito da personalidade de cada um. Foi um dos momentos mais importantes da minha vida, posso dizer com certeza!”, destaca.
Belas Artes
A participação da Orquestra de Câmara e da Companhia de Dança do Pantanal é apontada por Márcio De Camillo como um dos elementos mais marcantes do espetáculo Música Poética, elevando ainda mais a força do projeto ao integrar diferentes expressões artísticas em uma só apresentação. Para o artista, o espetáculo foi criado como uma celebração viva da cultura sul-mato-grossense, da terra natal e da arte que move todos os envolvidos.
“Adoro as múltiplas linguagens. Sempre tive o sonho de ser bailarino, de entender a arte do corpo porque o corpo fala. Ver o Moinho Cultural formando artistas com tantas possibilidades é inspirador. Sempre digo que queria ter estudado lá. Dividir o palco com tantos talentos é um momento especial, uma verdadeira comunhão”
De Camillo também reforça a importância dos incentivos públicos para que iniciativas como essa se concretizem. Segundo ele, o Brasil ainda não conhece plenamente a riqueza de sua própria cultura, mas esse desconhecimento, por outro lado, revela a potência criativa que surge diariamente. Para o artista, é fundamental continuar incentivando novos criadores de diversas linguagens, e agradecer pelos espaços culturais já conquistados por meio de políticas públicas nas esferas federal, estadual e municipal.
“A orquestra de câmara do Pantanal, com arranjos primorosos de Eduardo Martinelli e Rodrigo Faleiros, é conduzida com maestria por um regente atencioso, o Maestro José, que harmoniza o talento e a concentração desses jovens músicos. O público certamente se emocionará não só com a riqueza instrumental, mas também com a poesia em movimento”, finaliza.

Musicalidade : A Orquestra de Câmara do Pantanal traz a raiz da cultura fronteiriça – Foto: Alice Aquino/Divulgação
Serviço: A primeira apresentação será em Dourados, na quarta-feira (7) , às 20h, no Cine Auditório Wilson Biasotto da UFGD, localizado na Rua João Rosa Góes, 1761, na Vila Progresso. Na sexta-feira (9), será a vez de Campo Grande, com o show às 20h no Teatro Glauce Rocha da UFMS, na Rua UFMS, s/n, no bairro Universitário. A turnê chega a Corumbá, na terça-feira (13), também às 20h, no Anfiteatro Salomão Baruki, localizado no CPAN/UFMS, na Rua Poconé, no bairro Universitário. As apresentações em todas as cidades contam com entrada gratuita.
Amanda Ferreira