Mulheres artistas transformam muros de escolas em obras de arte para retratar questões emergenciais

Fotos: Muriel Xavier/Divulgação
Fotos: Muriel Xavier/Divulgação

Projeto “Agenda 2030: ODS nos Muros” realiza mural artístico em muros escolares visando convidar alunos, familiares e outros integrantes de comunidades a refletir, de forma lúdica, sobre questões emergenciais do nosso planeta, como meio ambiente, mudança climática, erradicação da pobreza, direitos humanos, consumo de água, entre outras questões. Com tinta nas mãos e a criatividade em mente, 17 artistas mulheres já começaram a retratar os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) nas paredes de escolas da Capital, o projeto é uma idealização da Fuá Produções, que busca fazer do ambiente escolar uma verdadeira galeria a céu aberto com alunos e professores.

O projeto já levou a linguagem artística para cinco escolas estaduais da Capital, EE Prof.ª Thereza Noronha De Carvalho, E.E.Waldemir Barros da Silva, E.E. Arlindo de Sampaio Jorge, E.E. Prof.ª Maria Rita de Cássia Pontes Teixeira e EE José Mamede de Aquino onde alunos do ensino médio receberam a iniciativa de braços abertos e com muito entusiasmo, conforme explica a idealizadora do projeto e coordenadora da Fuá Produções, Julia Basso.

“Já passamos por algumas escolas e a galera do ensino médio que tem essa aproximação com as cores se empolga. Muitos querem pintar com as artistas, inclusive alguns pintam e ficam mais interessados. Teve uma aluna diagnosticada com TOD (Transtorno de Oposição Desafiador) que interagiu e pintou com uma das artistas. Algo que marcou essa menina e a gente sente que algo muda no ambiente escolar. Os alunos começam a entender o que está sendo pintado ali, porque cada muro reflete um objetivo, ou melhor, cada muro concretiza um dos objetivos”.

O projeto é uma iniciativa que surgiu no Paraná por meio da produtora Bernardo Bravo Idealizações e Mucha Tinta, de Giusy de Luca, que, em colaboração com Julia, toparam realizar o projeto em Campo Grande. Ao todo, 17 muros serão pintados, desde escolas localizadas no centro até a periferia da cidade, o que contempla bairros como Parque do Lageado, Moreninhas, União, Jardim Aeroporto, Coophatrabalho, Santo Amaro, Jardim Tijuca, São Francisco, Coophavila, Mata do Jacinto, Itanhangá Park, Estrela do Sul e Nova Lima. Além de outros três muros de espaços públicos da Orla Ferroviária e da Rua Barão do Rio Branco.

“Quando nós estamos nas escolas, antes de começar a realizar a pintura, propomos um bate-papo das artistas com alunos e professores. Falamos sobre o processo artístico, abordando sobre técnica, como é ser artista em Mato Grosso do Sul e a respeito dos ODS. O que eu tenho percebido é que os alunos sabem o que é sustentabilidade, o que são as mudanças climáticas e o que é a ONU. Todos esses temas contemporâneos que estão super em voga e que nós estamos sentindo na pele o que eles são, estão sendo abordados nas escolas. Agora, por exemplo, quando nós falamos sobre os ODS, ninguém sabe o que é exatamente, e trazer os temas dos objetivos de desenvolvimento sustentável para corroborar, inclusive com o conteúdo das aulas é muito interessante. Outro ponto destaque do projeto é que sempre têm algum estudante dentro da sala de aula voltado para as artes, gosta de desenhar ou até mesmo é do grafite e para eles, ter o contato com a artista e poder conversar, é uma experiência muito bacana”, ressalta. 

Um dos propósitos do projeto que também é um ponto de destaque da iniciativa que além de aproximar o universo artístico para o público jovem e comunidades, também apresenta aos estudantes trabalhos artísticos realizados por mulheres. Um viés da construção coletiva que tem tocado a sensibilidade das artistas envolvidas neste processo criativo, como a artista Maria Auxiliadora, pedagoga e indígena da etnia Terena. 

“O projeto tem esse viés igualitário de também buscar artistas indígenas, quilombolas e trans. O muralismo é uma arte em sua maioria masculina e ter esse foco para o feminino dentro do ambiente escolar é algo de grande relevância. Acredito que a minha formação acadêmica me traz uma didática com os alunos, quero sensibilizá- -los. Espero que os alunos, indígenas, se sintam representados nesse muro que terá como pano de fundo a ODS ‘Vida Terrestre”‘, afirma Auxiliadora.

Outra coisa que o projeto tem literalmente sentido na pele é a onda de calor que, nos últimos dias, tem atingido em cheio as cidades de Mato Grosso do Sul. Questão climática que dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que é a bússola que norteia todo o projeto.

“O nosso cronograma de trabalho começou bem na época da onda de calor. Tem sido um período desafiador, pois em alguns muros a gente tinha sombra e em outros não. Então, tivemos de adaptar os horários de trabalho das artistas porque elas corriam risco de insolação. A Letícia Maidana, por exemplo, optou por chegar na escola às 5h30 da manhã. Já a Maria Chiang está indo à noite porque o colégio tem horário noturno e iluminação. Além, claro, de cuidados com hidratação para toda equipe”, frisa a produtora cultural.

Fotos: Muriel Xavier/Divulgação

Como surgiram os ODS? 

Os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) são uma série de metas globais criadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) com objetivo proteger o meio ambiente, erradicar a pobreza, oferecer educação de qualidade ao longo da vida para todos e garantir qualidade de vida, conservação da biodiversidade e manutenção dos recursos naturais do planeta. Desenvolvidos no ano 2000, e são, os sucessores dos ODM (Desenvolvimento do Milênio). Após os países membros da ONU alcançarem resultados profícuos com os oito objetivos do ODM, iniciativa que estabeleceu metas para os anos entre 2000 e 2015 e conquistou avanços consideráveis na redução da pobreza global, no acesso à educação e à água potável, permanece o desejo de dar continuidade ao trabalho já realizado. Com o sucesso desse primeiro desafio, foram traçadas novas metas para os próximos 15 anos durante a Rio+20, conferência das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro, em junho de 2012.

Os 193 membros da organização discutiram o desenvolvimento sustentável, ou seja, uma forma de evoluir atendendo às necessidades da geração atual, sem comprometer a existência das gerações futuras. Foi nessa ocasião que surgiram os ODS, um plano de ação com 17 objetivos globais para serem cumpridos até o ano de 2030, a fim de que todos os países cresçam e cooperem nessa agenda de sustentabilidade. 

Nesta agenda estão os 17 ODS: Erradicação da Pobreza; Fome Zero e Agricultura Sustentável; Saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; água limpa e saneamento; Energia Limpa e Acessível; Trabalho decente e crescimento econômico; inovação infraestrutura; redução das desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsável; ação contra a mudança global do clima; vida na Água; vida Terrestre; paz, justiça e instituições eficazes e parceria e meios de implementação.

O projeto ainda prevê a criação de um mapa digital com a localização de todos os muros pintados. A ideia é que o circuito sirva para passeios urbanos na Capital. “Agenda 2030: ODS nos Muros” conta com financiamento do FIC – Fundo de Investimentos Culturais – da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), do Governo do Estado. Mais informações sobre o projeto acesse o Instagram e Facebook, @ fuaproduções ou o site www.fuaproducoes.com.br/.

Fotos: Muriel Xavier/Divulgação

Por –Ana Cavalcante

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