Cinema tcheco ganha destaque em mostra com exibições de obras de animação e fantasia
O que o interior de Mato Grosso do Sul tem em comum com a República Tcheca? A resposta está em sua fundação, por incrível que pareça. A cidade de Batayporã, a aproximadamente 305 quilômetros de Campo Grande, nasceu de um projeto de colonização do industrial tcheco Dr. Jan Antonin Bata, em 1953, após fugir da ameaça nazista. Com a criação da cidade, chegaram as caravanas chefiadas por Vladimir Kubik. A influência ainda é tão forte que o município mantém um Consulado Honorário da República Tcheca.
Para destacar toda a rica história entre os dois países, o MIS (Musei da Imagem e do Som) em parceria com o Consulado Geral da República Tcheca no Brasil, de São Paulo, realização a mostra ‘Nas Asas da Imaginação Tcheca – Mostra de Cinema de Animação e Fantasia’, entre os dias 4 e 7 de junho. Com entrada gratuita, a programação reunirá filmes clássicos, produzidos entre as décadas de 1940 e 1970, entre quatro longa-metragens e uma sessão de curtas infantis, para mostrar toda a riqueza e originalidade do cinema tcheco.

Cabana de Pão de Gengibre – Foto: Bretislav-Pojar
Unindo o realismo e o surrealismo, o cinema do país será explorado em todas as suas nuances na mostra, que exibirá obras do fim da Segunda Guerra Mundial e da Nova Onda, movimento que surge nos anos 1960.
“A mostra revela uma grande tradição cinematográfica europeia e promove o intercâmbio entre diferentes olhares e inspirações culturais. Com as exibições queremos democratizar o acesso a grandes obras e aproximar a arte brasileira da produção cultural tcheca”, explica Márcio Veiga, coordenador do Museu da Imagem e do Som.
O cinema produzido em Praga, na então Tchecoslováquia, sempre revelou uma relação intensa com a fantasia. Desde os contos de fadas tradicionais às obras que dialogam com o absurdo ou a repressão política, a produção tcheca se destacou por um olhar criativo que explora gêneros como a ficção científica, o drama e a comédia de forma singular.
“Será uma oportunidade para o público conhecer uma cultura diferente, uma técnica diferente de fazer cinema. São filmes clássicos, filmes mais antigos produzidos em décadas passadas, mas que trazem uma essência dessa cultura tão especial que é da República Tcheca”, destaca Veiga.
Temática
Para o jornal O Estado, a curadora da mostra, Vera Matysikova, explica que o evento já existe em São Paulo e Porta Alegre, então um dos objetivos era levar mini-mostras para outros locais do Brasil. “Como seria a primeira mostra, pensamos em obras que abrangesse todas as faixas etárias, não só com filmes para adultos, por isso escolhemos também as animações. Primeiro foram escolhidos os curtas sem diálogos, para as crianças que ainda não sabem ler, mas que mostrassem várias técnicas de diversos autores”.
A seleção também buscou por obras que representava o país e o período. “O filme ‘Sonho de uma noite de verão’ é baseado em uma obra de William Shakespeare, que muitos conhecem e o público brasileiro teria uma certa afinidade. Já ‘O Assassinato do Sr. Diabo’ escolhi por conta da diretora, Ester Krumbachová, uma das mais importantes do cinema tcheco, com um filme que é considerado o primeiro filme feminista do país”, complementou Matysikova. “A mostra apresenta filmes que acredito que são interessantes, bonitos, poéticos e divertidos, sem a necessidade de uma estética rápida, confusa e violenta. Todos podem se divertir. O objetivo é apresentar os filmes para o público de fora, e abraçar o público, em geral, até as crianças”.

Ferda, a Formiga – Foto: Hermina-Tyrlova
O cinema como comunicador
Em entrevista ao jornal O Estado, o Cônsul honorário da República Tcheca em Batayporã, Evandro Amaral Trachta e Silva destacou que uma mostra como essa tem “um valor inestimável”, por promover uma ponte entre Brasil e República Tcheca por meio da cultura, arte, cinema e visão do mundo. “A cultura é uma forma elevada de diplomacia, e eventos como este contribuem significativamente para o estreitamento dos laços entre os povos”.
Para ele, a arte, em especial o cinema, possibilita o diálogo entre diferentes culturas, possuindo o poder de comunicar. “O cinema tcheco é conhecido por sua sensibilidade, profundidade e capacidade de provocar reflexões universais. Ele nos permite ver o mundo sob outras lentes, desconstruir estereótipos e compreender as semelhanças humanas por meio das diferenças culturais. A arte é instrumento de paz e compreensão mútua”, destacou.
E não só Batayporã…
Cabe destacar que a empreitada de Jan Antonin Bata não parou apenas em Batayporã, tendo colonizado também Bataguassu. Conforme Trachta, a comunidade tcheca em Mato Grosso do Sul sempre busca realizar a preservação da herança cultural, por meio do Centro de Memória Jindrich Trachta.
“Este espaço abriga um importante arquivo histórico de toda colonização do sudeste de MS, um palco com elementos Tchecos para apresentações culturais; outro símbolo marcante é o Oratorioa do Menino Jesus de Praga, que representa a fé e a espiritualidade herdadas da tradição tcheca. Batayporã mantém um curso anual de língua e cultura tcheca, com a presença de um professor vindo diretamente da Tchéquia, que permanece na cidade por seis meses a cada ano. Além do idioma, esse educador transmite conhecimentos sobre tradições típicas — como celebrações de Páscoa, Natal e elementos da culinária. Temos ainda uma escola de música, para a qual buscamos parcerias com o objetivo de colocá-la em pleno funcionamento. Acreditamos que a música também é uma forma eficaz de preservar e fortalecer os vínculos culturais com a República Tcheca. Por fim, destaca-se o intercâmbio anual de jovens promovido com o apoio da organização INEX, de Praga, permitindo que jovens de Batayporã tenham experiências culturais e educacionais diretamente na República Tcheca, o que amplia seus horizontes e reforça o sentimento de pertencimento”.

Galinhas mal desenhadas – Foto: Jiri-Brdecka
Spoiler
E parece que mais países devem desembarcar aqui em Mato Grosso do Sul. Segundo o coordenador do MIS, o museu está em trabalho constante para trazer mostras com temáticas de outros países e culturas, como cinema indígena, cinema de periferia, hip-hop. “O nosso grande interesse é exatamente fazer com que tenha uma circulação muito grande de diversos tipos de pessoas aqui no museu”, enfatiza. “O MIS é um espaço aberto, gratuito e acolhedor, pensado para todos os públicos. Nosso objetivo é que as pessoas se sintam à vontade, conheçam a história do audiovisual e da cultura regional, e que passem a incluir o museu em sua rotina, seja como lazer, aprendizado ou ponto de encontro”, finaliza.
Confira a programação
4/06 (quarta-feira), às 19h: Sonho de Uma Noite de Verão
5/06 (quinta-feira), às 19h: O Assassinato do Sr. Diabo
6/06 (sexta-feira), às 19h: Viagem ao Fim do Universo
7/06 (sábado), das 16h às 18h: Sessão de Curtas Infantis:
* Ferda, a Formiga
* A Cabana de Pão de Gengibre
* Por que a Girafa Chora
* Galinhas Mal Desenhadas
7/06 (sábado), às 19h: O Barão Fanfarão
Serviço
A mostra gratuita “Nas Asas da Imaginação Tcheca – Mostra de Cinema de Animação e Fantasia” acontece de 4 (quarta) a 7 de junho (sábado) no Museu da Imagem e do Som, que fica no terceiro andar do Memorial da Cultura e Cidadania, na Avenida Fernando Correa da Costa, 559, Centro, Campo Grande.
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