Produção cultural de pessoas com deficiência é o foco de evento realizado nos dias 30 e 31 de maio
Após o sucesso no ano passado, é a vez da cidade de Dourados, a aproximadamente 228 quilômetros de Campo Grande, receber a segunda edição da Inclui MS – Mostra Literária de Pessoas com Deficiência, nos dias 30 e 31 de maio. O evento, realizado pela primeira vez na Capital, joga luz as produções artísticas, literárias e culturais de pessoas com deficiência, com programação gratuita e acessível, na Reitoria da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).
Com oficinas, rodas de conversa, exposições e feira inclusiva, o evento é um convite aberto à escuta, à valorização da diversidade e à convivência com a diferença de forma respeitosa e inspiradora. A proposta é fortalecer espaços de fala, de criação e de visibilidade para artistas e escritores com deficiência.
Programação
Na tarde do dia 30, o público poderá participar de oficinas como ‘Empreendedorismo para Pessoas com Deficiência’, com Tiago Moraes, e ‘Poesia em Machê para Todos’, voltada a experiências sensoriais e artísticas. Já no dia 31, a programação será intensa no auditório, com a apresentação da APAE de Itaporã e três rodas de conversa com autores como Nycolas Colman, Alessandra Souza e Ivan Baron, abordando temas como literatura surda, poesia em Libras e anticapacitismo.
A noite reserva atrações culturais para todos os públicos: a performance do Palhaço Surddy Pernambuco, exposições de arte e poesia, além da Feira Inclusiva com economia criativa, reforçando o talento e o empreendedorismo das pessoas com deficiência da região.
“A curadoria foi pensada de forma interseccional, buscando valorizar diferentes deficiências, contextos regionais e formas de expressão. Temos artistas surdos, pessoas com deficiência visual, intelectual, física e neurodivergentes, vindos de diferentes municípios do estado. Buscamos não só diversidade de corpos, mas também de linguagens: poesia, performance, roda de conversa, feira criativa. Essa multiplicidade reforça que a deficiência não é homogênea — ela é plural, rica e atravessada por histórias únicas”, explica o organizador, Felipe Sampaio.

Foto: Pedro Braga
O empreendedorismo também terá espaço na mostra, com a realização da Feira Inclusiva, em parceria com a Associação de Famílias Atípicas de Dourados, implementando a relação entre arte, economia criativa e inclusão social.
“A arte tem um papel fundamental na economia criativa, e quando acessibilizada, também pode ser uma ferramenta potente de autonomia para pessoas com deficiência”, diz Sampaio. “A Feira Inclusiva é um espaço onde esses artistas e empreendedores não apenas expõem seus produtos, mas se posicionam no mercado, circulam suas narrativas e geram renda a partir do que produzem. É inclusão que movimenta a economia, que transforma a cultura em ferramenta de cidadania”, complementa.
Para ele a Mostra é uma ação urgente e transformadora, “estamos com uma expectativa muito positiva. A Inclui MS chega a Dourados para ampliar o alcance de uma proposta que nasceu em Campo Grande com muito afeto e compromisso. Nosso objetivo é dar visibilidade a essas produções incríveis, mostrar que acessibilidade é potência, é criatividade, e que todos têm o direito de ocupar os espaços da arte e da cultura”.
O organizador ainda acredita que a realização do evento em Dourados, região Sul do Estado, é uma ação “política e simbólica”, que busca descentralizar as produções artísticas. “Muitas vezes, as iniciativas de acessibilidade e cultura se concentram nas capitais, enquanto as populações do interior, inclusive pessoas com deficiência, seguem invisibilizadas nas políticas públicas. Quando levamos a Mostra para esses territórios, estamos não só descentralizando a cultura, mas também afirmando que a inclusão deve ser um direito garantido em todo o estado, e não um privilégio de grandes centros urbanos”, reforça.
Importância
No cenário de um Estado onde as políticas culturais acessíveis ainda caminham a passos lentos, uma mostra literária com foco na inclusão surge como potência de transformação. “O impacto é tanto simbólico quanto prático”, afirma o organizador do evento. “Simbólico porque rompe com a lógica assistencialista e coloca a pessoa com deficiência no centro da criação cultural. Prático porque oferece formação, acesso e oportunidades reais de visibilidade e comercialização do próprio trabalho.” Ele destaca, ainda, que não se trata de um benefício restrito a esse público. “Para o público em geral, é uma chance de repensar conceitos, vivenciar outras estéticas e entender que acessibilidade não é apenas rampa e legenda — é também linguagem, escuta e presença.”
Ao ver o projeto ganhar vida além dos limites da capital, o sentimento é de profunda emoção e dever cumprido. “O que mais me emociona é ver a resposta das pessoas”, conta. “É perceber que crianças surdas, adultos com deficiência visual, jovens neurodivergentes estão se reconhecendo nos palcos, nos livros, nas falas e nas trocas. É saber que estamos abrindo portas onde antes havia muros.” Para ele, levar a cultura acessível a cidades do interior tem um significado ainda mais potente. “Fora da capital, esse gesto ganha ainda mais força, porque a presença da cultura acessível nesses territórios é uma forma de resistência, de cuidado e de transformação social concreta.”
A Inclui MS – Mostra Literária de Pessoas com Deficiência é mais do que um evento: é uma celebração da diversidade, da escuta e da inclusão real. Uma oportunidade de ver, ouvir, sentir e participar de um movimento que transforma a cultura e a sociedade.
Serviço: A Inclui MS – Mostra Literária de Pessoas com Deficiência, será realizada nos dias 30 e 31 de maio, na Reitoria da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). Na sexta-feira (30), há oficinas das 13h às 17h e no sábado (31), programação no auditório da universidade a partir das 15h, com rodas de conversa, apresentações culturais e feira inclusiva até às 22h. Mais informações por meio das redes sociais da Inclui MS.
Por Carolina Rampi
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